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Estaria o Zika Ligado ao Aumento no Número de Casos de Bebês com Microcefalia no Nordeste?

No estado de Pernambuco, 141 bebês nasceram com a doença apenas em 2015, ante a média anual anterior de nove casos. Um hospital na capital do estado, Recife, atendeu seis desses casos só na manhã do dia 12.

O Ministério da Saúde declarou emergência na saúde pública nacional e os médicos investigam se uma nova doença identificada no Brasil e transmitida por picada de mosquito estaria relacionada a um surto de casos de recém-nascidos com microcefalia no país.

O vírus zika é uma das diversas causas possíveis que está sendo considerada, depois que parte do Nordeste registrou um aumento de 15 vezes no número de casos de microcefalia, malformação congênita que leva o bebê a nascer com menos de 33 centímetros de crânio. Normalmente, a circunferência da cabeça de um recém-nascido fica entre 33 cm e 38 cm.

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Dependendo da gravidade da doença, um bebê que nasce com microcefalia pode muitas vezes crescer com problemas cognitivos ou outras dificuldades no desenvolvimento, podendo prejudicar funções motoras, a coordenação e a fala. O prognóstico varia, mas a expectativa de vida nessas condições tende a ser menor que a média.

No estado de Pernambuco, 141 bebês nasceram com a doença apenas em 2015, ante a média anual anterior de nove casos. Um hospital na capital do estado, Recife, atendeu seis desses casos só na manhã do dia 12.

Uma assessora do Ministério da Saúde afirmou à VICE que o alerta de emergência, divulgado na quarta-feira passada, tem o intuito de destinar recursos para se investigar a situação em caráter de urgência. Ela explicou que uma equipe de resposta rápida foi enviada a Recife para realizar testes clínicos no mês passado, quando o governo foi notificado sobre o surto.

As diretrizes divulgadas pelo ministério na sexta-feira recomendam que mulheres grávidas no nordeste do país façam o pré-natal completo, com todos os testes e exames, evitem bebidas alcoólicas e drogas e adotem medidas para reduzir o risco de serem picadas pelo mosquito transmissor da doença.

"Até que se esclareçam as causas do aumento da incidência dos casos de microcefalia na região Nordeste, as mulheres que planejam engravidar devem conversar com a equipe de saúde de sua confiança. Nessa consulta, devem avaliar as informações e riscos de sua gravidez para tomar a sua decisão."

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O Ministério informou que divulgaria nota atualizada sobre a situação na terça-feira.

Outros dois estados nordestinos também registraram um índice anormal de casos de microcefalia, doença provocada pela má-formação do cérebro.

Kleber Luz, infectologista da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, afirmou que houve 22 casos de microcefalia na capital do estado, Natal, apenas este ano, ante a média anterior de quatro ocorrências. O médico explicou que 80% das mães dessas crianças relataram sintomas que sugerem a possibilidade de terem contraído o vírus zika durante o primeiro trimestre da gestação.

"Quando o vírus chegou a Natal, todos foram pegos de surpresa e muita gente ficou doente", contou o especialista à VICE. "É muito grave. É uma questão nova para a comunidade científica e estamos nos reunindo para investigar."

Luz destacou, no entanto, que ainda não há evidências clínicas claras da relação entre a doença e o vírus. Segundo o Ministério da Saúde, o zika é originário de Uganda e chegou ao Brasil em maio.

A infecção é parecida com a dengue, mas com sintomas menos graves. Normalmente, incluem febre alta, manchas no corpo e inflamação nos olhos. O tempo de recuperação é de cerca de uma semana e o tratamento se limita a analgésicos e remédios para diminuir a febre.

Outras causas possíveis que foram sugeridas até agora para o aumento no número de casos de microcefalia incluem dengue, fatores genéticos e abuso de álcool e drogas pelas gestantes.

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O fenômeno parece se concentrar atualmente no Nordeste, mas as secretarias de saúde de outras partes do país também já anunciaram que estão alertas.

A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro afirmou que deve investigar os casos de microcefalia já ocorridos e revisar o procedimento de notificação da doença para o futuro.

"Começaremos a adotar os novos protocolos na próxima semana", afirmou o subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Alexandre Chieppe. "Estamos antecipando a situação no Rio."

Já o governo do estado de Pernambuco declarou que está organizando grupos de apoio para gestantes que sabem que seus bebês nascerão com microcefalia e mães de recém-nascidos com a doença.

"Para nós, é muito recente. Isso nunca aconteceu antes. É uma operação de guerra", afirmou Luciana Albuquerque, secretária executiva de Vigilância em Saúde de Pernambuco. "A secretaria quer saber o quanto antes a causa para poder atuar na prevenção e no tratamento."

A mãe de uma menina que nasceu com microcefalia há um mês afirmou ao site de notícias G1 que teve suspeita de dengue durante a gravidez.

"Surgem muitas dúvidas, a gente fica sem saber o que causou, assusta qualquer um", afirmou a mãe, que teve a identidade preservada. "Agora a gente vai procurando informação e entendendo o que é a microcefalia."

Tradução Aline Scátola.

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