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Música

Medo de Música

A estranha falta de gosto do seu amigo pode ser consequência de melofobia (medo de música), uma condição neurofisiológica pouco compreendida, mas muito real.

Você conhece alguém que diz que não gosta de música? Alguém que não possua um único CD ou um iPod? Que sempre abaixa o volume do rádio? E que, quando lhe perguntam a respeito, apenas dá de ombros e diz que não “sacam” música? Você nunca entendeu essa pessoa, entendeu? A estranha falta de gosto do seu amigo pode ser consequência de melofobia (medo de música), uma condição neurofisiológica pouco compreendida, mas muito real. Pessoas que sofrem de melofobia têm características físicas peculiares que fazem com que elas sejam especialmente sensíveis a mudanças bruscas de timbre e tom. A música é, evidentemente, uma das formas mais concentradas desse tipo de estímulo. E a música está em todo lugar. Assustador! Mais assustador, talvez, seja a epilepsia musicogênica, uma condição igualmente real na qual a música pode causar convulsões intensas. Queríamos saber mais sobre a música enquanto força demoníaca de medo e dor tangíveis, então falamos com um médico que lida com pessoas que sofrem desses distúrbios, com um paciente melofóbico e uma mulher portadora de epilepsia musicogênica. Coloque os seus isoladores acústicos e boa leitura… A Dra. Marsha Johnson, audiologista e diretora clínica da Tinnitus & Hiperacusis Clinic de Oregon, trata pacientes que sofrem de melofobia e as condições que conduzem a esse tipo desconcertante de fobia, há 13 anos. Conversamos com ela recentemente. Vice: Quer dizer que a melofobia existe mesmo.
Dra. Marsha Johnson:Sim, existe. Em muitos casos, trata-se de uma condição induzida por experiências negativas com música ou com instrumentos musicais, como um concerto alto demais que causou tinnitu (ou zumbido no ouvido) em uma pessoa por várias semanas. Essas experiências podem ser tão incômodas e traumatizante que a pessoa passa a evitar concertos dali em diante. Outro exemplo é do músico profissional que trabalha junto a um instrumento barulhento e que desenvolve, ao longo dos anos, hiperacusia [hipersensibilidade ao som] e passa a sofrer dores que se intensificam a cada nova exposição. Como consequência, o profissional para completamente de tocar música. Tinnitus e hiperacusia são as principais causas de melofobia?
Na maioria dos casos, eu diria que sim. Mais especificamente, a causa mais provável dessas condições são ondas sonoras intensas que atingem o sistema do ouvido médio, do qual a delicada membrana do tímpano faz parte, assim como uma minúscula cadeia de ossos que inclui articulações, cartilagem, tendões e músculos. Todos podem sofrer desgaste, lesões e distensões. Por que esses problemas fazem a audição de música ser uma experiência dolorosa para a pessoa?
Junto com tinnitus severo—do tipo que pode causar insônia por meses e tornar a pessoa totalmente incapaz de se concentrar—, a hiperacusia pode ser dolorosa e provocar dores de cabeça ou mesmo dores nos olhos ou no maxilar. Então, para evitar estímulos, a pessoa passa a evitar sons, o que a leva a evitar música—e é aí que a melofobia entra na história. A melofobia tem cura?
Bom, ainda não existe cura para tinnitus, mas há alguns programas de administração da doença excelentes, que ajudam a diminuir a altura, o caráter intrusivo e o impacto negativo de tinnitus. Isso inclui a terapia de readaptação de tinnitus (TRT), desenvolvida pelo Dr. Pawel Jastreboff, e a terapia chamada de Oásis Neuromônico, desenvolvida pelo Dr. Paul Davis. São os dois principais tratamentos de tinnitus hoje. É possível atenuar os sintomas de hiperacusia, na maioria das vezes, por meio de uma terapia de desensibilização que faz uso dos princípios de TRT de Jastreboff, e muitas vezes a pessoa consegue se recuperar do medo de música ou de eventos musicais e passa a apreciar essa parte tão importante da vida novamente. Por favor, explique como tinnitus e hiperacusia podem evoluir para melofobia.
A maioria das pessoas que teve experiências graves de tinnitus ou hiperacusia fica bem motivada a evitar qualquer coisa que pareça ter despertado aquilo. Por isso a melofobia é uma preocupação real e, até certo ponto, racional entre esses pacientes. As pessoas que danificaram suas células auditivas da cóclea terão perdas auditivas permanentes, e isso pode levar a fobias e fazer a pessoa evitar determinadas situações para além do que seria razoável na prática. Tive um paciente de Chicago no ano passado que era baterista. Ele largou a banda e passou a usar protetores de ouvido o tempo todo, a fugir de ônibus barulhentos e nunca mais aceitou um convite para uma festa. Mas na verdade ele estava piorando sua própria condição por excesso de zelo. Pacientes melofóbicos devem receber aconselhamento e apoio para que superem crenças irracionais. Um fato importante que deve ser lembrado é que muitas pessoas que sofrem de tinnitus ou de hiperacusia não tiveram perdas auditivas significativas—na maioria dos casos, são perdas bastante pequenas. Estou tratando no momento de uma jovem que está totalmente fechada em sua casa devido a uma perda severa de tolerância para qualquer som, inclusive música. Ela não pode sair de seu quarto por mais de alguns minutos. Ela estava matriculada na faculdade e estudava canto quando desenvolveu repentinamente uma artrite severa, que deixou suas articulações inchadas e doloridas. Com o tempo, ela não era mais capaz de andar por causa da dor, e ela foi diagnosticada com síndrome da dor aguda. Ela tentou permanecer na escola, mas era incapaz de se deslocar pelo campus. Só conseguiu terminar o segundo ano porque seus amigos a carregavam de um lado para o outro. Ela teve de desistir de seus planos de seguir uma carreira musical. Ela abandonou o curso e hoje só é capaz de escutar a aproximadamente 15 minutos de qualquer coisa por dia, incluindo voz humana ou música. Deve ser horrível.
Ela morre de medo de ser exposta repentinamente ao baru-lho de um rádio, por exemplo, que poderia lhe causar bastante dor e desgaste que persistem por dias. Ela usa protetores de ouvido a maior parte do dia e limita sua exposição a ruídos muito mais leves como de ventiladores ou ruídos da rua. Começamos por reduzir o uso de protetores de ouvido e abrir a janela do quarto por dois períodos de cinco minutos por dia. Seu medo de sons e de música é tão severo que seus medos psicológicos são ainda mais fortes do que suas reações físicas, então ela também está fazendo terapia por telefone durante 15 minutos por semana. Essa jovem é incapaz de comparecer a um consultório médico, e sua vida hoje é seriamente limitada. Ela tem 23 anos de idade. Você está familiarizada com a condição conhecida como epilepsia musicogênica? Eu soube de uma mulher que apareceu nos jornais em 2008, seu nome era Stacey Gayle, ela era do Queens, em Nova York. Ela tinha convulsões todas as vezes que ouvia a música “Temperature”, do Sean Paul. Ela precisou de uma cirurgia no cérebro para corrigir o problema.
Sim, mas tenho mais familiaridade com “desordem do ataque epilético audiogênico”, que está na minha área. Também é conhecida por hiperacusia vestibular. Certos sons ou tons, ou seja, música, podem estimular o sistema nervoso central de maneira a provocar apoplexia. Já vi muitos desses casos ao longo dos anos. São muitas vezes induzidos por lesões na cabeça ou por doenças. Lembro de um rapaz que sofreu um acidente de carro. Em um exame, ele foi exposto a um ruído puro de 2.000Hz, apenas no ouvido esquerdo, primeiro a zero dB, que é inaudível, e depois lentamente a níveis maiores, decibel por decibel. Ele teve um ataque bastante intenso quando o ruído chegou a cerca de 20dB—o que é bastante fraco. Outra paciente, depois de um acidente de carro, ficava completamente inconsciente quando caminhões passavam por ela, com seus ruídos de baixa frequência. Ela caía no chão, perdia completamente os sentidos. Nesse caso, sugeri ao neurologista que submetesse a paciente a uma eletroencefalografia (EEG) em repouso, e isso mostrou que o cérebro dela se comportava de maneira normal quando em um ambiente silencioso. Quando colocamos um audiômetro por meio de fones de ouvido e a expusemos a um estímulo de 500Hz, um ruído baixo, o EEG passou a indicar a ocorrência de atividades de tipo epilético. São casos comuns?
São casos raros. Outra expressão médica muito usada para essa condição é síndrome de Tullio. É comum as pessoas que sofrem dessa síndrome se tratarem em clínicas especializadas em tonturas e equilíbrio. Qual o gênero musical mais vítima de queixas? Tipo rap bombando dos subwoofers dos carros na rua, ou muzak tocando nas lojas de departamento?
Até pessoas com audição normal se incomodam com rap bombando muito alto dos alto-falantes de carros passando na rua no meio da noite. As frequências graves desses alto-falantes passam facilmente através de objetos sólidos. Atingem os nossos ossos! Mas a principal reclamação de pessoas que gostam de música e que sofrem de melofobia é que elas sentem muita falta de música. É como se uma parte de suas almas tivesse sido sequestrada e mantida refém.

Os seus pacientes que trabalham com música são em geral músicos de rock ou DJs?
Por incrível que pareça, a maioria dos meus pacientes instrumentistas faz parte de orquestras, filarmônicas ou grupos sinfônicos—ou é pianista. Esses instrumentos são bastante altos, e o som produzido por todo o conjunto é muito alto, e acredito que o tempo de estudo exigido para desenvolver a habilidade necessária para tocar esses instrumentos seja maior. Muitos dos profissionais que tocam violino, flauta, cello e instrumentos do tipo começam muito jovens, então são expostos a esses sons por décadas antes de começarem a tocar profissionalmente. Acho que entre as bandas que usam guitarras e os roqueiros, no entanto, perdas auditivas são bastante conhecidas e, até certo ponto, esperadas. Um risco ocupacional, podemos dizer. É possível sofrer de tinnitus e hiperacusia e não saber?
Sim, e parece haver medo e vergonha associados a essas condições, e isso também pode levar à melofobia. Muitas vezes as pessoas se sentem culpadas e estúpidas por terem se exposto às situações que causaram essas condições. “Eu sabia que deveria ter ido embora do show, os meus ouvidos estavam ardendo, mas estava sem jeito de dizer à pessoa que estava comigo que queria ir embora, então fiquei, apesar de ter sido uma decisão estúpida.” Os pacientes também temem, muitas vezes, ser malvistos no trabalho ou em situações sociais, já que todos curtem a festa de fim de ano ou a convenção, menos eles. Na maioria das vezes, essas pessoas simplesmente se recusam a ir a tais eventos e desaparecem silenciosamente, em alguns casos se tornando prisioneiros em seus próprios lares. Quais são os sinais e sintomas?
Insônia é uma das principais condições que acompanham tinnitus e hiperacusia. O uso exagerado de protetores de ouvido também pode ser um sinal, assim como pessoas que evitam ir ao cinema ou a festas e que chegam sempre depois do fim de eventos, depois que as pessoas já jantaram, ou quando os músicos já estão recolhendo os seus instrumentos. Lembro de pacientes que nem sonhavam em escutar mais rádio, ou aparelhos de som, ou música ao vivo e que não mediam esforços para evitar essas coisas. Tive um paciente que conduziu sua filha em silêncio até o altar no seu casamento, beijou-a e saiu pela porta mais próxima paraaassistir ao resto da cerimônia à distância. Você acha que é possível alguém desenvolver medo de música para o resto da vida?
Sim, apesar de não ser apenas música. É realmente o som e o ruído de quase tudo no mundo. A música é apenas, muitas vezes, o foco principal, já que gostamos de ouvi-la em alto volume, e ela tem sons superagudos e variações que são muitas vezes imprevisíveis. Parece haver, cada vez mais, música e ruídos invasivos nos lugares públicos e na nossa vida cotidiana. Você considera isso algo ruim?
Sim, sem dúvida. Os nossos sistemas não foram feitos para aguentar esse massacre constante. Precisamos adotar os padrões europeus, mais avançados, de níveis aceitáveis de ruído, de 80 decibéis, no lugar de 85 como temos hoje. Na Suécia, vi jardins de infância com uma parede de luzes que funcionava como monitor de ruído: luzes verdes se acendiam quando as vozes eram baixas e moderadas, e amarelas quando o ruído aumentava. A 8 dB, acendiam-se as luzes vermelhas. As crianças podiam perceber visualmente quando estavam fazendo barulho demais na sala de aula. Elas podiam monitorar a si mesmas. E os aparelhos de MP3?
O uso de aparelhos tais como iPods, que forçam o som para dentro do canal do ouvido com esses novos fones, cada vez mais justos, causará mais perdas auditivas e problemas auditivos em pessoas mais jovens do que já vimos no passado. Será uma epidemia de grandes proporções. Também devemos nos educar e às nossas crianças de que música quando tocada alto demais não é uma atividade saudável. Crianças que fazem parte de bandas ou de orquestras devem usar protetores de ouvidos especiais para músicos, que filtram 9, 15 ou 25 decibéis. Sabemos que existe relação entre tinnitus, hipercusia e exposição a ruídos, então é melhor prevenir. Qual a sua recomendação para as pessoas que suspeitam ter desenvolvido melofobia?
Consultar um especialista em tinnitus e hiperacusia. Depois de uma avaliação completa, a pessoa pode ser encaminhada a um terapeuta que coordenará o processo de reabilitação. Um médico deve ser sempre consultado para que a hipótese de doença ou problemas no canal auditivo, que podem complicar a condição, seja descartada. John Loudenback é um engenheiro de som que gosta de tudo relacionado à música e à produção musical. Ele projeta e constrói aparelhos de áudio sofisticados: amplificadores, caixas de som e coisas do tipo. Ele gosta de curtir a companhia de amigos, da família e de seu gato, Ubie. Ele também gosta de música, do clássico ao punk (Bruckner, Shostakovich, Mahler, Richard Strauss, X, Radiohead, Keren Ann, Procol Harum, Roger Waters e Pink Floyd estão entre seus favoritos). Há alguns anos, John passou a conviver com a melofobia. Vice: O que causou sua sensibilidade ao som?
John Laudenbeck:Uma linha de som de alta frequência estava causando um problema com um amplificador estéreo que eu e meu pai havíamos comprado, e com o qual estávamos trabalhando. A qualidade do som era excelente, muito alta, mas começamos a sentir que estava machucando os nossos ouvidos e causando sensibilidade cada vez maior cada vez que o usávamos. Quando você se deu conta de que estava evitando som?
Após cerca de nove meses usando frequentemente aquele amplificador, desenvolvi uma sensibilidade extrema ao som. Fui informado da terapia conhecida como TRT (Terapia de Readaptação para Tinnitus) e também sobre fonofobia, ou medo de som. Eu não conseguia aceitar que sofria de fonofobia até que recebi aconselhamento via e-mail de um especialista em hiperacusia do Reino Unido. As pessoas em geral não gostam da palavra “fonofobia” porque acham que é um distúrbio psicológico. Na verdade, é um problema neurofisiológico. Como isso levou à fobia a música?
Devido às minhas más experiências passadas com música, acabei desenvolvendo uma forte aversão e parei de vez de ouvir música. Eu tentava, ouvia música no carro, ia a lojas de discos. Meus ouvidos ficavam sempre irritados ou doloridos. Música alta se tornou um verdadeiro problema para mim. Essa condição impediu que eu mexesse com áudio e me afastou de atividades com amigos e com minha família, já que eu não conseguia mais sair para comer ou ir a qualquer lugar onde estivesse tocando música. Foi devastador! Algum tipo de música te incomodava mais?
Rock era mais complicado por causa do tipo de processamento de som e dos efeitos de estúdio dessas gravações. A música “Gypsy Road”, do Cinderella, era uma das mais ofensivas. A má qualidade da gravação faz a voz de Tom Keifer soar estridente e aguda. Instrumentos de cordas clássicos também pioravam muito minha condição. O que você fazia para lidar com um mundo em que a música está por todos os lados?
Eu basicamente procurava evitar esses sons sempre que podia. E, quando não dava, usava protetores de ouvido. Quando comecei o tratamento para tinnitus eu estava vivendo praticamente em silêncio total, isolado dentro de casa, e mesmo em casa eu sempre usava protetores de ouvido. Soube depois que o uso excessivo de protetores faz com que o ouvido fique ainda mais sensível, e essa foi a minha derrocada. Evitar completamente os sons ou a música que causou o problema também não é recomendável. Então fui removendo aos poucos os protetores de ouvido. O meu objetivo era deixar que meus ouvidos se ajustassem gradualmente a todos os sons e a todas as músicas que passei a evitar. Isso também significava ter de encarar alguns sintomas incômodos, como zumbidos e dores de cabeça. Eu me concentrava em pensamentos positivos. Os nossos ouvidos exigem treino com muitos tipos de sons. E como você está hoje em dia?
Progredi bastante. Consigo sair de casa e ir ao supermercado, mas ainda tenho dificuldade em escutar música por muito tempo. Que conselho você daria para alguém que suspeite ter desenvolvido fonofobia ou melofobia?
Não use protetores de ouvido em excesso, nem passe longos períodos em silêncio total. Não se angustie com os sintomas, nem tenha pensamentos negativos. Mas, acima de tudo, procure um especialista.

Julie Hope tem 63 anos, é casada, tem cinco filhos, “muitos” netos e cinco bisnetos. Ela sofre de epilepsia. Enfermeira aposentada, ela sempre gostou de música, mas precisa lidar com o fato de que a música pode desencadear seus ataques—condição também conhecida como epilepsia musicogênica. Vice: Quando você teve sua primeira experiência de epilepsia musicogênica?
Julie Hope:Na minha lua de mel, quando fomos a um show. Não lembro o nome da banda, mas a música era extremamente alta e havia pessoas pulando no palco. As notas que a banda tocava pareciam subir e descer por todos os lados, de maneira frenética, como rock fusion. Comecei a tremer. Os bumbos me faziam sentir como se estivesse me afogando, me lembrando uma experiência de quase morte que tive durante um ataque epilético. Comecei a alucinar. A certa altura, a única coisa que eu via na minha frente eram os músicos chacoalhando no palco como se fossem folhas, o que me fez lembrar a minha provável aparência quando estou no meio de um ataque convulsivo. Alguém trouxe uma cadeira de rodas para me levar de volta ao quarto do hotel. Foi o momento musical mais memorável da minha vida até aquele momento, e aprendi a evitar aquele tipo de música. O que você faz para lidar com um mundo no qual a música está em todos os lugares?
Se ela está no meu caminho, sempre tive a determinação de encará-la. Já tentei contornar os aspectos negativos e pensar coisas positivas, tentando escutar a parte boa da música e bloquear a parte ruim. Quais são as partes boas e as partes ruins da música para você?
Para mim, música boa seria alguma coisa como “In the Arms of an Angel”, da Sara McLachlan, que eu adoro. As notas soam como um sobe-e-desce suave, como se estivessem me rodeando. Parece que me protege e sinto que nada pode me atingir, nem mesmo uma convulsão. O som de harpa também me faz bem, me acalma e me deixa em paz. Se consigo imaginar a música sendo tocada, de olhos fechados e deixando a mente, o corpo e os dedos fluírem naturalmente, então nada pode me atingir, nem mesmo uma convulsão. Associo música ruim ao barulho de uma trovoada: silêncio, e de repente um estrondo ou um guincho de um instrumento, que me deixa aterrorizada e amedrontada. Um exemplo disso seria qualquer tipo de marcha, como as tocadas em funerais militares. As trompas, as cornetas, os tambores, os saxofones, os pés marchando—para mim, isso não é música, são apenas barulhos altos. Eu também adoro o Elvis, mas em algumas músicas ele fica meio selvagem e canta tão alto que não aguento. Não consigo lembrar o nome dessas músicas do Elvis porque o meu cérebro me impede de pensar muito quando estou ouvindo alguma coisa que pode me causar um ataque.