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Tecnologia

Criando Mapas com uma Mentora do Google Maps

Arlete Meneguette é a maior especialista do Google Maps para língua portuguesa. Conversamos com ela sobre levar a cartografia a outro nível.
​Esse mapa parece bobo, mas ele tem mais informações do que qualquer busca que você tenha feito no Google Maps. Crédito: Google Maps

​A gente nunca acha que vai conhecer algumas figuras da internet. Tem o comentarista de portal que você manja que é o dono da padaria da sua rua, mas nem por isso você truca a identidade secreta dele. Tem também o fissurado em tumblr NSFW que fica criando tag a granel achando que é o senhor das tendências, mas, se bobear, trampa na última locadora do bairro (ao lado da padaria). E, entre tantos, tem o mano do fórum. O cara que conhece cada meandro, tecla de atalho e tipo que habita aquela plataforma qualquer. A Arlete Meneguette é uma dessas.

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Sua especialidade é o Google Maps e seu perfil nos grupos de ajuda é dos mais confiáveis, com direito a selos de referência e estrelinhas. Com os louros, recentemente ela foi nomeada mentora do serviço em língua portuguesa pela empresa californiana — o maior posto que um usuário pode ter. Embora não tenha vínculo empregatício com os descolados prédios do Vale do Silício, Arlete agora é autoridade máxima na comunidade lusófona do Google Maps. Ela nem imaginava isso quando começou a estudar engenharia cartográfica nos anos 80.

"O que eu fiz entre 83 e 87 na Inglaterra, no meu doutorado, usando mainframes, supercomputadores e softwares, a gente faz hoje gratuitamente no smartphone", me disse ela em uma conversa que, a seu pedido, aconteceu por meio de uma ferramenta do Google. Na lista de aplicativos da empresa, ela consegue listar ao menos sete que usa apenas para o ofício de mapear o mundo. O que começou como um passatempo em 2010 pouco a pouco passou a fazer parte da sua rotina de professora da Unesp de Presidente Prudente.

A Arlete feliz pra chuchu em um dos prédios do Google. Crédito: Arquivo pessoal

Foi por causa disso que resolvi tentar um dos ensinamentos da Arlete. Usar o Google Maps é fácil, mas usar pra valer não é pra todo mundo. Arrisco dizer que isso é um protocolo clássico da tecnologia. O vídeo-cassete, afinal, morreu sem que a gente soubesse tudo que ele fazia. E num dos tutoriais feitos pela Arlete eu aprendi um pouco mais sobre esse vídeo-cassete de mapas que não vive só de endereços. Em poucos cliques passei a fazer parte do que ela chama de geocolaboração.

"Os cidadãos podem contribuir com seu conhecimento local para aprimorar os mapas e os panoramas imersivos da sua comunidade", explicou ela. Com um ícone aqui e um ponto acolá, fiz um mapa simples na plataforma. Adicionei umas informações de andares, desenhei polígonos, coisa e tal, mas nem por isso eu posso me dizer engenheiro cartógrafo. "A engenharia cartográfica integra diversas disciplinas, dentre as quais topografia, geodésia, fotogrametria, sensoriamento remoto, sistema de informação geográfica, cartografia etc."

Com tanto na cabeça, Arlete precisa de bem pouco à mão para trabalhar. "Tenho dois notebooks e um smartphone Samsung S5 com 4G", me explicou ela. Em campo, ela tira fotos com o aparelho, determina com precisão qual o sentido de ruas e descobre quantos andares tem um edifício. Na base, vale seu olhar treinado. "O Google nos autoriza a usar as imagens de satélite e as imagens do Street View para coletar informações necessárias sem ter de ir ao local. A partir do nosso treinamento a gente consegue diferenciar o que é um lago, um rio, uma floresta, um campo, uma rodovia, etc."

Quando se refere a gente, Arlete fala de engenheiros cartógrafos que, como ela, tem formação de sobra para a função. A professora passa seu conhecimento adiante quando não está envolvida no Google Map Maker e semelhantes na Unesp de Presidente Prudente. A rotina de aula se mistura ao dia-a-dia como especialista na ferramenta. Por isso ela prefere não dizer quantas colaborações já realizou pro Google, mas, sim, como as realizou. "Eu me preocupo mais com qualidade que quantidade. Nunca me preocupei em contar as contribuições que fiz."

Entre professora e mentora, Arlete gosta de se dizer educadora  E, embora saiba que existem companhias ávidas por nossas dados de localização — "toda informação é potencialmente georreferenciada" —, a senhora de Presidente Prudente prefere valorizar o que a milenar arte de fazer mapas tem a ganhar quando entra na seara da inteligência coletiva. "A cartografia colaborativa ganha maior importância por oportunizar aos usuários condições de fazer contribuir com seu conhecimento local para aprimorar os mapas que são usados por milhões de pessoas."