Por que a NASA Repetiu Uma de Suas Fotografias Espaciais Mais Icônicas
A imagem original. Crédito: Hubble Site

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Por que a NASA Repetiu Uma de Suas Fotografias Espaciais Mais Icônicas

Divulgada pela NASA em 1995, a foto entitulada como “Pilares da Criação” é uma das imagens mais icônicas da agência.

Divulgada pela NASA em 1995, a foto entitulada como "Pilares da Criação" é uma das imagens mais icônicas da agência; nela, podemos ver três grandes colunas de gás cósmico cercadas pela luz ultravioleta de um aglomerado de jovens estrelas da Nebulosa da Águia. Na última semana, a NASA divulgou uma versão atualizada da imagem, revelando o que mudou na região durante os últimos 20 anos. A quantidade impressionante de detalhes da imagem só foi possível graças às recentes melhorias no Telescópio Espacial Hubble.

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As nebulosas são áreas de recente formação estelar. Ricas em gases ionizados que iluminam o espaço, elas são, segundo Dr. Paul Scowen, um professor e pesquisador da Faculdade de Exploração Espacial da Universidade do Estado de Arizona, o equivalente a um letreiro de néon que grita "nós acabamos de fazer mais estrelas!"

As colunas no meio da nebulosa fazem parte de uma formação interessante, e não apenas porque chamam nossa atenção. A Nebulosa da Águia foi o objeto de estudo de Charles Messier, um astrônomo francês que viveu no século 19, época em que a nebulosa foi batizada de M16. Apesar de utilizar apenas telescópios tradicionais, Messier pôde observar a clara existência de estruturas semelhantes a colunas no meio dessa região de formação estelar.

Nas nebulosas, as estrelas são formadas a partir de nuvens de moléculas gélidas e escuras. À medida que os átomos de hidrogênio começam a se unir, o gás cede ao seu próprio peso, dando mais energia ao processo químico. Essas pequenas bolhas de gás se tornam estrelas: quanto menor a estrela, mais quente o seu interior.

Quando as estrelas passam a gerar sua própria energia, a radiação ioniza o espaço que as cerca, corroendo a nuvem de gás ao seu redor. Eventualmente, essa cavidade criada pelo gás ionizado se separa da grande nuvem gasosa. Scowen compara esse fenômeno a uma espinha sendo espremida.

A "parede" entre o gás ionizado e o gás da nuvem é algo que intriga os astrônomos, e as colunas da Nebulosa da Águia são o objeto perfeito para o estudo desse fenômeno.

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É por isso que em 1995, Snowen e seus colegas miraram o Hubble em direção às colunas da M16. O objetivo era obter uma imagem em alta resolução que revelaria os detalhes que não podem ser vistos da Terra — mas a foto original dos "Pilares da Criação" não era tão boa quanto podia ser.

O Telescópio Espacial Hubble foi lançado na garupa da nave Discovery no dia 24 de abril de 1990. Ele se desaclopou da nave e passou a circular a órbita do planeta, a 568 quilômetros do nível do mar. No entanto, haviam alguns problemas na missão. Um deles era que o telescópio esteve em um depósito por quatro anos após o desastre da nave Challenger, o que significa que na data de seu lançamento, em 1990, sua estrutura já tinha mais de dez anos de idade. Além disso, o espelho primário do telescópio estava distorcido; o Hubble não conseguia focar suas imagens.

A primeira das cinco missões de restauração ocorreu em 1993, quando astronautas usaram um sistema óptico corretivo para consertar a visão do Hubble, aproveitando a oportunidade para instalar a Câmera Planetária de Longo Alcance 2. Foi essa câmera que fotografou os "Pilares da Criação" em 1995; no entanto, a baixa resolução da imagem não refletia o verdadeiro potencial do telescópio.

Novas ferramentas foram acrescentadas nas próximas quatro missões, e em 2009, a Câmera Planetária de Longo Alcance 2 foi substituída pela Câmera de Longo Alcance 3. Essa nova câmera tem um dispositivo de carga acoplada muito mais eficiente, assim como uma resolução 10 vezes maior do que a de seus predecessores. Logo, valia a pena fotografar os icônicos pilares de novo, dessa vez observando os mínimos detalhes das estruturas.

Mas esse não é o único motivo. Atualmente, o Hubble pode fazer imagens em diferentes comprimentos de onda: no nível óptico e no infravermelho. Quando a imagem é feita a partir da frequência infravermelha, todo o gás desaparece. Os pilares se transformam em duas linhas fantasmagóricas de poeira cercadas por uma enorme constelação, com algumas estrelas além e outras dentro da estrutura monumental.

A outra motivação era checar se os pilares haviam mudado nessas duas últimas décadas: no final, a imagem revelou que essas estruturas estão desaparecendo. À medida que o gás é ionizado, ele se aquece e evapora. Os pilares não vão durar para sempre; nós tivemos a sorte de vê-los durante sua breve existência. Quando as duas imagens foram comparadas, Scowen e seus colegas notaram o crescimento de uma estrutura estreita e no formato de um jato. Tudo indica que o gás se expandiu por 96 bilhões de quilômetros nos últimos 19 anos.

Para Scowen, rever os pilares foi como reencontrar um velho amigo, um antigo pareceiro com muitas histórias interessantes para contar. Ele e seus colegas estão trabalhando em um novo artigo baseado nos dados coletados a partir dessa imagem, e que irá, sem dúvida, firmar a posição dos "Pilares da Criação" como uma das maravilhas mais icônicas dos céus.

Tradução: Ananda Pieratti