Médicos Dizem que Colocar Profissionais de Saúde em Quarentena Só Piora a Epidemia de Ebola

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Médicos Dizem que Colocar Profissionais de Saúde em Quarentena Só Piora a Epidemia de Ebola

Colocar médicos e enfermeiros em quarentena pode desencorajar outros dispostos a viajar até países afetados pelo ebola para realizar o trabalho muito necessário de tratar homens, mulheres e crianças sofrendo com o vírus mortal.

Profissionais de saúde na África Ocidental, via Flickr European Commission DG ECHO

O New England Journal of Medicine não costuma abordar as questões políticas que são manchete nos telejornais; então, foi algo especial ver a publicação de 200 anos criticar os governadores Chris Christie (de Nova Jersey) e Andrew Cuomo (Nova York), que estabeleceram uma quarentena para os profissionais de saúde que retornam dos países africanos afetados pelo ebola. ​Num editorial publicado na segunda-feira retrasada pelo site do Journal, sete médicos, com um monte de iniciais na frente dos nomes, tentaram ​conter o fluxo de paranoia que se apoderou de alguns norte-americanos e que vem sendo alimentado por políticos tentando convencer a opinião pública de que estão fazendo alguma coisa, qualquer coisa, sobre o vírus.

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O Journal, sem surpresa, mostrou boas razões para se condenar a ação de Christie e Cuomo, que, na semana passada, anunciaram que pessoas que trabalharam com pacientes com ebola e que estiverem retornando para Nova York e Nova Jersey devem passar por uma quarentena de 21 dias, mesmo que a doença só seja contagiosa quando o infectado já mostra sintomas óbvios, como febre. O argumento do Journal é bastante simples: colocar profissionais de saúde em quarentena pode desencorajar outros dispostos a viajar até países afetados pelo ebola para realizar o trabalho muito necessário de tratar homens, mulheres e crianças sofrendo com o vírus mortal.

"Centenas de anos de experiência mostram que para parar uma epidemia desse tipo é necessário controlá-la na origem", os médicos escreveram, apontando que "dezenas de milhares de voluntários" são necessários para controlar a propagação do vírus. "Estamos muito longe dessa meta; então, a necessidade de trabalhadores no local é grande. Esses profissionais de saúde responsáveis e treinados, que estão arriscando suas vidas para ajudar outros, também estão ajudando a conter a epidemia em sua origem. Se colocamos barreiras para dificultar o retorno dos voluntários a suas comunidades, estamos prejudicando a nós mesmos."

A Médicos Sem Fronteiras, a principal organização combatendo o ebola na África, ​concordou com essa afirmação num comunicado à imprensa: "Qualquer regulamentação não baseada na ciência médica que isola profissionais de saúde vai servir como desincentivo para outros combaterem a epidemia em sua fonte, a África Ocidental".

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O que contrasta muito com as ideias de ​alguns políticos republicanos, que querem proibir viagens para os países afetados, mostrando que estão mais preocupados com política do que com os fatos. (Proibir as pessoas de voarem diretamente da região afetada para os Estados Unidos não vai impedir que elas cheguem até lá passando por outros países.) Argumentos lúcidos como o do Journal também combatem o medo irracional difundido por alguns jornalistas.

"Isso ressalta que o sistema é falho, porque confia em indivíduos e no senso de honestidade deles", disse ​Megyn Kelly em seu programa na Fox News, preferindo desconsiderar que um médico que tratou pacientes com ebola seria responsável o suficiente para monitorar seus próprios sintomas e que Craig Spencer, o único paciente infectado de Nova York até agora, chamou as autoridades assim que sua temperatura passou dos 37º. Em outras palavras, ele fez tudo certo - e, como o Journal enfatizou, ele não era um perigo para aqueles à sua volta antes de a febre começar:

Sabemos agora que a febre precede a fase contagiosa, permitindo que esses profissionais infectados identifiquem os sintomas em si mesmos antes de se tornar uma ameaça para suas comunidades.

Mas nada disso importa para alguns meios de comunicação e políticos, que estão se curvando à necessidade do público de ver viagens proibidas e quarentenas. Talvez isso tenha a ver com a natureza mortal da doença, ou talvez com a origem do ebola: países do terceiro mundo. Lugares distantes que estão infectando os norte-americanos com algo que só deveria afetá-los.

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"Precisamos ser guiados pela ciência, e não pelo medo que o vírus evoca", conclui o Journal. "Deveríamos estar homenageando, e não isolando, os profissionais de saúde que colocam suas vidas em risco não só para salvar pessoas sofrendo com o ebola na África Ocidental, mas também ajudando a atingir um controle do vírus na origem, nos deixando mais perto do objetivo de parar a propagação dessa epidemia mortal."

Na ​terça-feira passada, o presidente Obama mostrou que concorda com essa ideia, dizendo que, como país, "Não devemos reagir baseados nos nossos medos. Reagimos baseados em fatos e julgamentos".

Mas, como os últimos dias mostraram, os norte-americanos adoram reagir com base em seus medos. O que não quer dizer que eles precisem fazer isso.

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Tradução: Marina Schnoor