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Tecnologia

Finalmente Descobrimos como Funciona o Repelente de Mosquitos

Como atua o DEET, o composto presente em vários repelentes de mosquitos.
​Batendo um rango. Crédito: dr_relling/Flickr

​Entre a existência de vida em outros planetas e a origem da vida aqui na Terra, há um bom tempo pairava uma outra grande dúvida da humanidade: como funciona o repelente? Walter Leal, professor e pesquisador da Universidade da Califórnia-Davis, acaba de resolver essa questão após quase 15 anos de pesquisa sobre o DEET, o princípio ativo mais utilizado em cremes e loções que nos mantem livres de picadas e zunidos de mosquitos.

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"Os inseticidas atuam como algo na natureza, mas o DEET é um produto sintético que ninguém sabia como funcionava. A gente teve uma abordagem com vários estudos comparados, como ecologia química com etomologia, informática, eletrofisiologia e comportamento dos insetos para chegarmos à solução desse problema", me explicou o cientista que, desde que chegou nos Estados Unidos, em 2000, lidera uma equipe de pesquisa desse composto.

O trabalho do grupo concluiu que o DEET atua no receptor CquiOR136, uma proteína da antena do inseto. Elas trabalham como sensores, assumindo a mesma função dos nossos narizes. Durante experiências, alguns mosquitos tiveram a eficácia dos receptores reduzida a ponto de nem notarem a presença do DEET. Eles só voltaram a ser repelidos pela substância quando o CquiOR136 voltou a funcionar. "O inseto detecta diretamente o DEET", afirmou Walter.

Descoberto após a Segunda Guerra Mundial, o DEET é fruto das pesquisas do exército norte-americano para atividade em terrenos tropicais. Naturalmente, ele foi largamente utilizado na Guerra do Vietnã e campanhas em solo africano desde então. Não demorou muito para ele passar ao uso civil, entrando na combinação de cremes repelentes que estão disponíveis nas prateleiras de farmácias atualmente.

O gráfico mostra o poder de atuação do DEET e de seus análogos. Crédito: ​PNAS

"O DEET funciona como repelente para todos os mosquitos e insetos nocivos", me disse Walter. Sua eficiência é tanta que existem três substâncias análogas no mercado hoje em dia: o Picaridin, o IR3535 e o PMD. As hipóteses sobre o funcionamento desses compostos iam da anulação de odores atraentes nos humanos a atuação em um receptor específico dos insetos. "A hipótese mais aceita dizia que o composto confundia o inseto, mas ele detecta o DEET."

A tese comprovada por Walter e seu grupo abre possibilidade para repelentes direcionados especialmente para o receptor CquiOR136. "Antigamente, a pesquisa era por tentativa e erro porque não se sabia qual receptor atuava", lembrou ele. Novos produtos podem ter duração e potência maior. Eles também podem ser mais baratos para regiões da Ásia e da África. "Para a maioria dos brasileiros ele não é caro, mas pra outros países ele tem um custo alto."

No Brasil, mosquitos transmitem diversas doenças que podem ser fatais, mas ainda assim eles assustam menos que supostos casos de ebola ou surtos de gripes em outros países. "O número de pessoas que faleceram de ebola, apesar de ser algo seríssimo, é muito pequeno se comparado com malária e até dengue", explicou Walter. Por isso o repelente ainda é uma arma importante no combate aos insetos sedentos por nosso sangue.

Ainda assim, compostos com DEET estão longe de serem usados por toda a população de um país — algo que mantém sua eficiência, felizmente. "Se a gente colocar DEET em várias gerações de mosquitos no laboratório, a gente vai até conseguir desenvolver mosquitos resistentes ao DEET. Numa situação normal, não é uma possibilidade pra se considerar porque só uma parte dos mosquitos estará exposta ao DEET", disse Walter.