Aos 16 anos, Alexander Betts Jr., também conhecido como AJ, se matou. Ele foi vítima de bullying. Após sua morte, os órgãos – incluindo coração, pulmões e rins – foram doados. No entanto, suas córneas não tiveram o mesmo destino porque ele era gay.Sheryl Moore, mãe de AJ, soube do ocorrido há pouco tempo, mais de um ano após a morte de seu filho, e está revoltada com a regulação “arcaica e completamente ultrapassada” da Food and Drug Administration (FDA) por trás da decisão.Criada em meio à crise da Aids dos anos 1980, a regulação da FDA considera inviável toda e qualquer doação oriunda de “homens que tiveram relações sexuais com outro homem nos últimos cinco anos”.“Entendo o porquê dessa regulação ter sido criada 30 anos atrás, mas ela não se aplica mais. Usaram o coração, os pulmões, o fígado e os rins de meu filho. Por que não usaram suas córneas?”, questionou Sheryl Moore à VICE.Os órgãos de AJ puderam ser transplantados porque o transplante de órgãos vasculares é regulado pela Health Resources and Services Administration (HRSA), que não impede a doação feita por homens homossexuais.As córneas – assim como a pele e os ossos – pertencem à categoria de células e tecidos regulada pela FDA. Há sempre uma grande demanda por órgãos vitais, logo “os critérios de doação de órgãos são diferentes dos critérios para doação de tecidos, já que a provisão da maioria dos tecidos é maior”, disse Jennifer Rodriguez, representante da FDA, à VICE.Já David Bowman, da HRSA, explicou que, “antes da doação dos órgãos, o doador é submetido a diversos exames para minimizar a probabilidade de transmissão de doenças infecciosas para o receptor dos órgãos transplantados”.Cheryl Moore só descobriu a existência dessa regulação quando se preparava para uma palestra à organização de captação de órgãos Iowa Donor Network, que intermediou a doação dos órgãos de AJ em julho de 2013.A mãe do jovem diz que gostaria de ter sabido mais sobre o processo de doação antes de ter que tomar uma decisão. “Pouquíssimos minutos depois de AJ ter morrido, os responsáveis pela doação de órgãos chegaram e pediram para falar comigo, foi muito duro”.“Foi tudo tão rápido e tão desconhecido para mim que nunca pensei em perguntar sobre as córneas do meu filho.”Sheryl Moore não sabia afirmar com certeza se seu filho teve relações sexuais ou não, então a equipe optou pela precaução e vetou a doação das córneas do adolescente.“O que fazemos ao trabalhar com a FDA é garantir que, todos os anos, sejam feitas as pesquisas e análises necessárias, de acordo com suas regulações, para assegurar que: primeiro, possamos maximizar a doação - a última coisa que queremos é que um doador não tenha a doação de seus órgãos maximizada -; segundo, que possamos garantir a segurança do receptor. Independentemente de quais sejam essas regulações, nós temos que segui-las”, frisou Tony Hakes, gerente de relações públicas do Iowa Donor Network, à VICE.A FDA também veta a doação de sangue de homens homossexuais desde 1983, porque “o histórico do sexo entre homens é associado a um risco maior de exposição e transmissão de certas doenças infecciosas, que incluem o HIV”.Essa medida também é alvo de críticas, inclusive da American Medical Association, que votou ano passado para que homens gays possam doar sangue.“Impedir que homens que têm relações sexuais com homens doem sangue é uma prática discriminatória e sem respaldo científico”, criticou o doutor William Kobler, membro da AMA.Agora, Sheryl Moore espera que a regulação da FDA mude.Quanto a seu filho, destacou: “Ele era o ser humano mais amável que já conheci, e me dói muito saber que seu único pedido – que doassem o máximo que pudesse caso alguma coisa acontecesse com ele – não tenha sido honrado porque ele era gay. Eu só queria, mesmo, que o último pedido de AJ fosse atendido”.Siga a Jordan Larson no Twitter.Tradução: Flavio Taam
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