Todas as montagens fotográficas cortesia Ugur Gallen.
Desde 2014 que o turco Ugur Gallen faz, como arte e como hobby, montagens de fotografias de eventos específicos que publica na sua conta de Instagram. Começou por fazê-las exclusivamente sobre a Turquia e para turcos, até que, um dia, ao atravessar o Mar Egeu, lhe chegou a fotografia que chocou o Mundo e que mostrava uma criança migrante que morreu afogada e foi encontrada na praia. A imagem, marcou esse ano e ficará gravada na memória histórica de todos nós como a representação visual da crise dos migrantes e da fuga desesperada a uma guerra que, de tão terrível, levou milhões a preferirem arriscar uma viagem que lhes poderia também ela custar a vida ao tentarem entrar na Europa.
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A imagem de Aylan Kurdi - a criança síria morta numa praia da Turquia - provou valer mais que mil palavras e levou Gallen a criar a sua primeira montagem de contraste cultural sem fronteiras, dando início a este projecto que, até hoje, o acompanha. Ugur olha o Mundo sem filtros e mostra-nos esse mesmo Mundo tal como o vê, evidenciando a desigualdade e a frieza que encontra. Como confidencia em conversa com a VICE, passa horas a vasculhar as galerias fotográficas de agências de notícias, sobre as guerras e conflitos que vão e vêm, um pouco por todo o Planeta.
“A mensagem que quero passar com o meu trabalho é que não é uma questão de se ser muçulmano, cristão, judeu, do Ocidente ou do Oriente. O problema do Mundo é ser injusto e ganancioso e, enquanto uns vivem em luxo, em paz e em desperdício, outros lutam por sobreviver”, diz-me Ugur, por e-mail. Quer fazer as pessoas sentir, tocá-las com a verdade. E acrescenta: “Podemos ensinar-nos uns aos outros. Uns a valorizar a vida e a humanidade, outros a mostrar que faz falta ter melhores governos, melhor educação e melhor ciência”.
As suas imagens são o cantar do galo pela manhã, que nos faz abrir os olhos, mesmo que não estejamos prontos para acordar para o que se passa no Planeta. Aqui e ali, deste lado e daquele, desta cor e da outra. Conversámos ainda sobre a ascensão do discurso de ódio e das política de intolerância pela Europa fora. Algo que Ugur, como turco, conhece muito bem, já que o seu país está rodeado de guerras e "equipado" com séculos de experiência em imigração.
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“Os políticos têm vindo a consolidar o seu poder através do fomento do ódio e da polarização. Há milhares de exemplos e há muitas pessoas que gostam desse tipo de discursos, sociedades que os elegem vez após vez”, lamenta Ugur, lembrando que a Turquia, vizinha das guerras do Iraque e da Síria, tem sido um pilar na rota de migração e o destino final de milhões de refugiados que querem chegar à Europa em busca de paz e de uma nova vida.
“O quão tolerante se é tem um impacto na sociedade. Sem tolerância, cria-se, a longo prazo, um nós e um eles”, reflecte. E continua: "Esse é um sentimento de que os políticos se aproveitam e usam como melhor lhes convém. Em vez de nos tentarmos aproximar, dividimo-nos em categorias. Por estatuto social, por religião, em bons e maus”.
Na sua opinião, para combater esse estado de coisas, precisamos de nos tornar mais críticos e mais justos. "Temos de educarmo-nos, para não cairmos nas teias de discursos enviesados e de palavras vazias", conclui.
E precisamos, porque nunca é demais, de humanidade. De nos sentirmos como um todo, de não fecharmos os olhos ao sofrimento alheio, de nos tentarmos ajudar uns aos outros e de não darmos, nunca, a paz e a fortuna como garantidas. Porque, tal como me diz Ugur, “hoje não somos nós quem sofre, mas amanhã podemos ser".Vê mais imagens do trabalho de Ugur Gallen abaixo e segue-o no Instagram.
