Como é ser DJ de um clube de strip?
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Música

Como é ser DJ de um clube de strip?

Nada de lotar a pista de dança, aqui o papel do DJ é proporcionar uma trilha sonora pertinente para esse modelo milenar erótico de excitação.
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Por J FL

São 16:30 e, enquanto uma dançarina lituana requebra no pole dance, esfregando sua bunda na cara de uns carecas embasbacados na primeira fila, o remix de "Bloodstream" do Ed Sheeran feito pelo Rudimental ecoa neste lugar espalhafatoso.

Estamos em Sunset Strip, no Soho, em Londres. Com seus britânicos em seus ternos de risca de giz batendo papo com garotas de lingerie neon, este 'clube para cavalheiros' traz à tona os dias sórdidos de almoços caríssimos que o 'bairro da luz vermelha' de Londres costumava ser associado. Se dirija às escadas e você se encontrará em um quarto com paredes metálicas e murais inspirados na Grécia representando mulheres nuas tomando banho. Mais para trás há uma porta, e é por ela que os 'consumidores' idealistas são levados até suas danças particulares.

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E que consumidores! Na frente do palco, os viciados em carne, no meio da tarde, se sentam em cadeiras de cinema com forro vermelho cintilante, deixando suas barrigas escaparem de suas calças de marca ou ternos de alta costura. Um cara de cabelo rosa e olhos lacrimejantes digno de um inebriado em estado terminal agarra a sacola de supermercado que está no seu colo e encara extasiado a Rebeca dançar. Quando a apresentação vai chegando ao fim, os homens batem palma e ela calça seus tênis, fazendo biquinho, sorrindo e oferecendo danças particulares para quem estiver interessado (por £20 a sessão, cerca de R$ 115). Outra garota sobe no palco. Enquanto isso, um DJ toca a faixa "I'm on" do Whiz Kalifa em uma cabine atrás de nós, apresentando a "belíssima Isabel".

Imagine ganhar a vida rebolando no pole dance. É tipo ser um personagem do Amnésia.

Temos uma ideia muito clara do que é discotecar, certo? O termo nos remete a uma imagem bem específica, que tem sido imaculada através das duas eras de DJs superstar — antes o Paul Oakenfold, agora a Nina Kraviz. Algo que foi reforçado nos filmes As Aventuras de Kevin e Perry e Nós Somos Teus Amigos, de 2015, com a Emily Ratakowski. A maioria dos DJs se imagina quebrando tudo na DC10 de Ibiza ou cheirando pra cacete com as groupies depois de tocar no South West Four. Mas há uma coisa que eles não contemplam: tocar faixas mais do que batidas para os cidadãos incoerentes que frequentam a Sunset Strip em uma tarde molhada de terça-feira. Isso aqui não é como assistir o pôr-do-sol em Salinas ou Ocean Drive, molecada.

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Mas discotecar num clube de strip ainda é discotecar, e a galera que fuma um enquanto as garotas tiram suas calcinhas fio dental merecem algum crédito. Em vez de lotar a pista de dança, aqui o papel do DJ é proporcionar uma trilha sonora pertinente para esse modelo erótico de excitação milenar.

Mais tarde, em Mayfair, visitei um lugar de alto padrão. Um clube chique com cortinas vermelhas drapeadas e cabines VIP que também sedia festas dance nas noites de sábado. Estamos no início da semana e por isso o lugar está um pouco calmo, então a maioria das garotas está sentada jogando Candy Crush em seus celulares enquanto uma, em um vestido frente única desamarrado e com os peitos à mostra, dança abatida no pole dance ao som de The Weeknd.

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Este é o tipo de lugar onde os bilionários russos vão gastar uma grana em vodka e lap dance antes de ir para uma mansão em busca de sexo e festas repletas de cocaína que fazem O Lobo de Wall Street parecer café com leite. Mas levando em conta que o clube também conta com um sistema de som Funktion One, pode se dizer que é um lugar que ao menos leva a música e a arte da discotecagem em clubes de strip muito a sério.

O Nikhil Envy, inclusive, tocou aqui durante o ano de 2010, enquanto também era residente na Fabric, apoiando artistas como Chase and Status, Jaguar Skills e Skream. Ele descolou a gig no clube de strip graças a seus contatos no Club King Concierge, a princípio apenas para pagar sua graduação em mídia e estudos culturais. Então, como será que é tocar para um bando de mulheres peladas, tiozões milionários e também para a realeza árabe e os carinhas de Hackett que provavelmente não sabem a diferença entre Avicii e Aphex Twin? E no que se difere da discotecagem convencional?

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Nikhil Envy. Créditos do autor.

THUMP: Tocar em um clube de strip é claramente diferente de tocar em uma balada.
Nik: Bem diferente. A principal finalidade do DJ neste tipo de ambiente é tocar músicas que deixem a garota que está no palco o mais feliz possível, para que ela possa dar o seu melhor na dança e incentivar os clientes a gastarem dinheiro. Música diferente tem efeitos diferentes em pessoas diferentes. Algumas garotas vão à loucura quando você toca um hit romeno.

A cena de house romena é gigantesca.
Super. E muitas dessas garotas saem da cena do oeste de Londres para procurar trabalhos como este.

Você que seleciona as faixas, as garotas, ou é uma mistura dos dois?
Depende. Tive bastante sorte — porque estava por dentro das faixas que estavam bombando, aquelas que deixam o pessoal animado. Rolava uma confiança entre eu e as garotas. Elas sabiam que curtiriam dançar qualquer coisa que eu tocasse. Mas às vezes uma delas está com um cliente VIP e ele pede uma música e ela vem até mim e diz "tem como você tocar essa, por favor?" e me dá uma gorjeta. Todo mundo trabalha em conjunto para fazer um troco.

Se numa balada você toca faixas para agradar o público, nesta cena seu foco é agradar as garotas que estão trabalhando?
Depende. Por exemplo, se um grupo de caras do sul de Londres dispostos a gastar dinheiro entram no clube, vou tocar Wiley, Giggs ou Skepta — algo com que se identifiquem. Mas escolho uma faixa sexy, que funcione bem num clube de strip. Então os caras pensam, "massa, vamos comprar mais drinks", mas depois uma garota sobe ao palco para dançar e sugere uma música que ela gosta e eu toco. É uma questão de saber balancear. Também acontece de chegar um cliente árabe que não tá nem aí para o que você está tocando. Já toquei um dubstep sujo e pesadão às cinco da manhã quando todo mundo estava bem louco, as garotas fazendo lap dance e tudo mais.

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Os DJs costumam mixar nos clubes de strip?
A mixagem geralmente rola na transição entre uma garota e outra no palco.

Você já ficou com alguma das garotas?
Nunca. Simplesmente porque somos tipo uma família. O frio na barriga de estar rodeado de garotas seminuas desaparece e você percebe que está lidando com a Sofia, Ana ou Clara — apenas uma garota que adora viajar e curte ficar muito louca nos fins de semana ou algo do tipo.

Muitos DJs tocam hip-hop nos clubes de strip, tipo Wiz Khalifa ou French Montana.
Este é o ponto alto da noite para o DJ: três horas tocando hit atrás de hit. Por haver uma grande rotatividade de pessoas, toda vez que alguém chega no clube é preciso transmitir essa sensação de que a noite está apenas começando. Há uma grande influência dos Estados Unidos também. Se trata de fazer as pessoas sentirem uma emoção, e hip-hop e R&B simplesmente faz com que as pessoas se sintam à vontade e queiram gastar dinheiro.

Levando isso em conta, você com certeza tem algumas histórias onde rolaram alguns excessos.
Uma vez um VIP apareceu, reservou uma garota por apenas uma hora e comprou uma garrafa. Depois, disse para a garota "quero você durante a noite inteira", e ela respondeu "você pode escolher entre me ter durante a noite inteira ou ter eu e outras nove garotas por metade da noite pelo mesmo preço". O cara sacou o cartão e pagou dez mil. Um outro cara comprou uma garrafa de Cristal por 7.5 mil, bebeu dois copos e desencanou.

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House music não parece ser tão popular nos clubes de strip hoje em dia. Estou certo?
Costumo tocar house quando não tem ninguém no clube, ou às quatro da manhã, ou quando estou entediado e quero misturar um pouco. House é massa, mas não é sexy o suficiente para um clube de strip nas horas de pico. House é uma música muito verdadeira, é necessário um toque de falsidade e hip-hop e R&B têm essa pegada. O contexto todo é falso.

Aquela vibe de ricaço?
100%.

Qual a faixa mais estranha que você já tocou?
"Parachutes", do Coldplay! Acho que eram tipo duas da manhã, um cara estava gastando uma nota e uma das garotas veio até mim e disse "ele quer ouvir Coldplay". Fiquei tipo, "você tá de sacanagem com a minha cara? Não tem a menor chance de eu tocar Coldplay, a galera vai começar a ir embora". Então ela troca uma ideia com o VIP e volta balançando uma nota de 50. "Coldplay", ela diz, e eu pergunto "qual faixa?"

Algum conselho para os DJs que querem fazer carreira nos clubes de strip?
Sinceramente, enquanto experiência de vida é algo inestimável, levando em conta as pessoas com as quais você se conecta e os momentos que você presencia. Então eu nunca desencorajaria alguém a entrar neste ramo. Mas ao mesmo tempo já vi pessoas ficarem tão envolvidas que acabam não tendo nenhum tempo livre e não conseguem arrumar outro emprego. A indústria de clubes de strip é muito voltada para a família. As pessoas ficam trabalhando em um clube por um tempo considerável. Fizemos um jantar de natal, todas as garotas vieram — é uma família, mesmo.

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E, finalmente: quais são suas dez faixas favoritas para tocar nos clubes de strip, Nik?

  • Krept and Konan - "Freak of the Week"
  • Justin Bieber - "Sorry"
  • Major Lazer - "Lean On"
  • Chris Brown ft Pusha T - "Sweet Serenade"
  • Kirko Bangz - "What Your Name Is"
  • Eric Bellinger - "I Don't Want Her"
  • Wizkid ft. Drake and Skepta - "Ojuelegba"
  • PartyNextDoor - "Right Now"
  • Bankroll Fresh - "Bust It"
  • Drake ft Future - "Jumpman"

Nikhil Envy está no Instagram.

Tradução: Stefania Cannone

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