Adriana Moreira, mãe de Jonathan Moreira Ferreira
"Eu enterrei o meu filho sem rosto, porque quando encontraram o Jonathan, o corpo dele já estava em estado avançado de decomposição. Eu não quis ver. Tem dias que eu me arrependo. Mas eu não queria ter aquela lembrança. Eu lembro do último dia dele em casa. Ele cortou o cabelo, fez a barba, tomou banho, passou os cremes dele. Aí ele olhava no espelho e falava assim 'seu filho é lindo, olha como o seu filho é lindo, mãe'. Daí ele colocou o conjunto da Adidas que ele amava e me disse que ia em um baile aqui perto com os amigos. Eu falei "tá bom, vai com Deus" e nunca mais vi meu filho."
Roseli Nazaré Machado, mãe do Caíque Henrique Machado
"Eu fiquei revoltada com Deus, sim. Quem não ia ficar? Naquele momento que meu filho saiu, por que Deus não tocou no meu coração? Eu não senti nada. Eu deixei o Caíque sair. Ele falou que ia em uma festa aqui perto, que eles sempre vão de sexta-feira, né. Eu falei 'tá bom'. Depois disso eu procurei meu filho até no meio de carniça de animal. Quando a gente via grupo de urubu, saia todo mundo correndo para ver se eram os meninos."
Alice Silva, avó do Robson de Paula
"O Robson morreu com sete facadas nas costas. Imagina ele lá, paraplégico, sem poder se mexer, levando facada. Não dá, é muito sofrimento. Minha filha foi embora de São Paulo, não aguentou ficar aqui. Eu já não estou aguentando, eu durmo o dia inteiro para ver se o dia passa mais rápido e a noite eu fico pensando nele. O Robson, quando tinha 14 anos, estava aqui na vila com os amigos e chegou uma viatura procurando por ladrão de carro. Ele saiu correndo e acabou levando um tiro na coluna. Ele já era vítima, né. Porque quando encontraram o carro, o dono foi lá na delegacia e não reconheceu o Robson como o ladrão."
Maria José Paula Alves, mãe de Abner Alves Benedito
"Aquele carro era tudo para ele. O Abner trabalhou dia e noite para conseguir comprar aquele Corsa. Ele falava para mim 'mãe, eu não vou perder meu carro em batida policial'. Porque aqui é assim, eles já chegam batendo nos meninos, por causa desses tênis de mil reais, de carro, eles não querem saber se é trabalhador. Eles acham que pobre não compra as coisas."
Tatiana Lira, mãe de Peterson Silva de Oliveira
"Meu filho não tinha passagem pela polícia. E mesmo se tivesse. Eu estaria da mesma forma aqui contando para você essa história. Eu não tenho medo, eu não tenho vergonha de aparecer. Porque eu já morri, sabe? No dia que meu filho nasceu, eu nasci. No dia que ele morreu, eu morri também. O Peterson era um rapaz comum, trabalhava, estudava, gostava de sair, de se divertir com os amigos. Naquela noite eu ainda falei para ele 'filho, não demora que a mãe fica preocupada'. Aí ele falou assim: 'mãe, relaxa que eu não faço mal pra ninguém'. Depois disso eu só fui ver meu filho morto."
Solange Oliveira, mãe de Victor Antônio Brabo
"Depois que a gente perde um filho, a gente passa a ser mãe de todos os jovens. Já teve ocasião de eu estar dentro do ônibus e ver abordagem policial com jovem, descer no próximo ponto e ficar esperando. Porque a partir do momento que você vê alguém perto de um policial, aquela pessoa está correndo o risco de morrer. Se tivesse uma mãe na hora que meu filho se rendeu, quem sabe ele ainda estivesse aqui comigo."
Márcia Conti, mãe de Peterson Senoreli (Renato)
Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram."Os policiais que largaram o meu filho no hospital disseram que o Renato estava na rua passando mal. Eles tentaram socorrê-lo usando força moderada, porque afirmam que o Renatinho não soltava de um poste. Só que meu filho estava com marca de bota no peito, com vários hematomas, hemorragia interna, traumatismo craniano e manchas de Tardieu. Sabe o que é isso? É quando a pessoa morre por asfixia. Espancaram meu menino até a morte."