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Tecnologia

Por que a NASA Precisa Construir Seu Novo Sistema de Lançamento Espacial

Se queremos explorar mais fronteiras do Espaço, o SLS será imprescindível nas próximas décadas.
Maquete do Sistema de Lançamento Espacial em um túnel de aerodinâmico da NASA. Crédito: NASA/ARC/Dominic Hart

Há uma realidade simples por trás de cada uma das missões já enviadas ao espaço por qualquer país: o lugar ao qual se pode chegar e o peso da espaçonave usada para chegar lá são definidos pela potência do veículo de lançamento.

Nos anos 1960, a NASA tinha no foguete Saturno V, o propulsor das missões lunares Apollo, um potente veículo de lançamento de carga. Mas a agência perdeu aquela potência toda quando substituiu o foguete gigante pelo ônibus espaciais. Agora, o Sistema de Lançamento Espacial (SLS, na sigla em inglês) traz de volta o projeto de um potente foguete de lançamento. Embora haja muita descrença em torno da produção dessa máquina e do cronograma de lançamentos proposto, os cientistas dizem que não há dúvidas de que esse enorme foguete é necessário caso a intenção seja continuar a exploração do sistema solar.

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Em termos de projeto, o SLS é um foguete fantástico. Com várias configurações, permitirá o lançamento tanto de missões tripuladas como não tripuladas à órbita terrestre e também a destinos muito distantes de nosso planeta.

O cronograma provisório de lançamentos para o SLS é de cair o queixo, embora esteja sujeito a mudanças, já que o foguete ainda está na fase inicial de testes. Os dois primeiros voos, previstos para 2017 e 2019, vão levar missões não tripuladas à Lua e a um asteroide próximo à Terra, respectivamente.

Configuração inicial do SLS, com 70 toneladas. Crédito: NASA

O terceiro lançamento, no momento programado para 2021, será sua primeira missão tripulada e deve levar uma equipe à Lua, em um voo-teste para uma missão rumo a um asteroide. Os lançamentos seguintes estão divididos em missões tripuladas e não tripuladas, algumas para enviar sondas a planetas e luas distantes, outras para colocar em prática a captura de um asteroide. Nos anos 2030, a NASA espera ter a capacidade e o conhecimento necessários para lançar as primeiras missões do SLS em apoio ao desembarque de uma tripulação em Marte.

Mas o SLS ainda não está livre de riscos nem com o lançamento garantido. A falta de perspectiva ameaça o programa. Semanas atrás, David Hitt dividia uma mesa de debate com o cientista Dan Durda, do Instituto de Pesquisa South West, com o engenheiro de sistemas Hoppy Price, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, e com o engenheiro mecânico Stan Barauska, aposentado da NASA, na convenção Spacefest, em Pasadena. Eles foram unânimes em afirmar que é necessário um planejamento sólido para o foguete e que isso ainda não existe.

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A ausência de uma liderança forte e de objetivos definidos para este projeto são os dois problemas principais. Os quatro especialistas, e algumas pessoas na plateia do evento, também concordaram que, se a intenção é avançar em termos espaciais, tanto em missões tripuladas como não tripuladas, os EUA precisam se comprometer com o SLS.

Quando as futuras missões tripuladas são o tema, Hitt, que é redator-chefe e editor do programa SLS, menciona a Estação Espacial Internacional (ISS na sigla em inglês). A ISS é um campo de testes, estação de pesquisa e fonte de inspiração fantástico, construída em órbita a partir da junção de vários módulos.

Imaginem o que poderia ser feito se fosse possível lançar mais módulos, tanto em órbita como além, construindo outras estações como a ISS, disse ele. O SLS tem condições de lançar módulos de fora da Terra, o que, em tese, possibilitaria a existência de estações de pesquisa no espaço longínquo e em pontos intermediários para além da órbita terrestre.

A ISS poderia ter sido construída com maior velocidade se a capacidade de lançamento de carga fosse maior. Crédito: Wikipedia

(Minha conversa com Hitt aconteceu antes de a Rússia anunciar que deseja interromper o projeto da ISS depois de 2020, o que é um problema a mais para o programa SLS. Por um lado, um sistema de lançamento mais amplo permitiria aos EUA abastecer e manter a ISS sem a ajuda da Rússia, em especial considerando-se que até 2017 a Rússia está comprometida por contrato a vender para os EUA passagens a bordo de sua nave, a Soyuz. Mas por outro lado, a jogada russa pode abrir caminho para que empresas privadas, especialmente a SpaceX e sua plataforma de lançamento, cresçam.)

Há também a possibilidade de lançamento de uma missão de sobrevoo (flyby) tripulada multiplanetária, disse Hitt, o que é motivo suficiente para que se insista no programa SLS.

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Foram missões de sobrevoo que levaram as duas naves Voyager a chegar à fronteira do sistema solar nos anos 1970 e 1980, e também são tais missões que levam espaçonaves a planetas e luas distantes nos dias de hoje. A NASA chegou a cogitar missões de sobrevoo multiplanetárias no fim dos anos 1960 como uma possível continuidade das missões Apollo.

Com a substituição do modulo lunar Apollo por módulos ambientais e de permanência no espaço, a NASA teoricamente poderia ter lançado missões flyby bi ou tri-planetárias e isso com mudanças mínimas no software Apollo. Com missões que duram entre 500 e 850 dias, seja qual for o destino, a longa duração das viagens de exploração do espaço interplanetário poderia ser preenchida por estudos aprofundados sobre nossos planetas vizinhos.

Ilustração feita por Les Bossinas, do Centro de Pesquisa Lewis, da NASA, em 1989, mostra como seria uma missão tripulada a Marte. Atualmente, a NASA tem planos de chegar ao planeta por volta de 2030 e, para realizá-los, precisará de um sistema semelhante ao SLS. Crédito: Wikipedia

Mas não é apenas a retomada de possíveis missões multiplanetárias tripuladas que anima os cientistas quando o assunto é o SLS, e sim a possibilidade de lançar missões muliplanetárias sem sobrevoos. Parte da importância de missões de sobrevoo multiplanetárias é poder usar a gravidade para catapultar uma nave para longe, economizando combustível. Mas esses planos de voo são indiretos; com o uso de diferentes configurações do foguete — o estágio Bloco I, que é mais curto, ou o Bloco II, que é mais longo — o tempo de transporte a planetas e luas distantes pode ser drasticamente reduzido.

O Bloco I do SLS pode fazer uma missão como a Europa Clipper chegar a seu destino em Júpiter, em uma trajetória direta, em pouco menos de três anos; só para comparar, a mesma missão usando a gravidade como apoio à trajetória levaria quase seis anos e meio. O Bloco II do SLS, mais longo, poderia levar uma carga de duas toneladas a Saturno em três anos, enquanto o mesmo volume lançado com um foguete Atlas V levaria oito anos para fazer a mesma nave chegar ao planeta anelado. O Bloco II poderia enviar uma carga de uma tonelada e meia a Urano em apenas sete anos, sendo que, com um foguete menor, seria preciso 13 anos para levar a mesma carga a Júpiter ou Saturno com a gravidade apoiando a trajetória.

Mas, claro, quando se trata do maior objetivo da NASA (no momento), que é enviar homens e, com o tempo, desembarcá-los em Marte, o SLS é vital. A nave e todo o combustível, provisões e equipamentos que os astronautas precisarão para chegar a Marte, explorar o planeta e voltar para casa são muito pesados e essa carga precisará de um veículo de lançamento do tamanho do SLS. (Se uma missão a um asteroide é um passo intermediário necessário nesse caminho é algo em que ainda há discordância entre os cientistas, mas isso já é outra história.)

Tradução: Heci Regina Candiani