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Aulas de Teremim por Skype

teremim-312 Durante uma tarde inteira que passei assistindo ao máximo de versões possíveis do tema de Zelda no YouTube, descobri o teremim - quer dizer, achei um puta nerd tocando os temas do Zelda em um teremim.

Durante uma tarde inteira que passei assistindo ao máximo de versões possíveis do tema de Zelda no YouTube, descobri o teremim – quer dizer, achei um puta nerd tocando os temas do Zelda em um teremim. Para os poucos (espero) que não sabem do que eu estou falando, teremim é um instrumento eletrônico que produz sons diferentes dependendo do quão perto você estiver das suas antenas – que controlam a frequência e a amplitude. Na verdade você nunca encosta nele enquanto toca. É o tipo de aparato que você imaginaria como sendo parte do futuro que todos esperavam, mas que nunca chegou (carros voadores, integração entre raças humanas e robóticas e amigos holográficos). Mas na verdade, é da União Soviética do começo do século XX (ou seja, o total oposto de futuro).

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Fiquei a noite toda pesquisando sobre o instrumento, o que acabou me levando até Léon Theremin, que percebi que é o equivalente russo do Lil’ Wayne da virada do século. Não satisfeito com isso, voltei às músicas do Zelda e entrei numas de assistir vídeos sobre Teremim, vários deles performances do virtuoso tereminista e celebridade virtual, Thomas Grillo. Queria saber que tipo de pessoa vira um virtuose em um instrumento como o teremim, então me inscrevi para as aulas do Grillo via Skype.

Enquanto aprendia a estrutura dos tons do instrumento pela minha webcam, fui cutucando o Thomas com algumas perguntas sobre seu interesse por teremins e outras coisas. Acabou que minhas suposições estavam corretas: o tipo de gente que vira um virtuose no teremim também é um hológrafo amador. Na era dos carros voadores e namoradas robôs, essa entrevista pode parecer estranha, mas o nome Thomas Grillo provavelmente não será conhecido antes do ano 2045, quando o teremim, finalmente, estiver adequado ao tempo. Aqui vai um pouco da minha conversa online com o mago do teremim. Ao contrário do Léon, o Grillo não se parece em nada com o Lil’ Wayne ou qualquer um desses.

Vice: Só pra esclarecer, o teremim é um instrumento eletrônico esquisito do futuro, tirando o fato de ter sido inventado na década de 20 na Rússia, certo?
Tom Grillo, instrutor/virtuose de teremim: Sim. O fato de esse instrumento ter sido desenvolvido na década de 20 é impressionante. É muito à frente do seu tempo.

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Como exatamente ele produz som? Eu nem estou tocando no meu e ele está praticamente berrando comigo.
É uma interface não-tátil, então você pode tocar toda a música só mexendo as mãos. Existe um circuito eletrônico dentro que tem o que chamamos de osciladores. Eles também são encontrados em sintetizadores. Quando estão ligados, enviam pulsos de sinais elétricos através do resto do circuito até o alto-falante, e aí você tem o som. No caso desses BFOs (Oscilador de Frequência de Batimento) você tem dois deles, que são inaudíveis. Um deles é uma freqüência fixa um pouco fora de tom. O segundo é uma freqüência variada, controlada por nossas interações com os campos que circundam as antenas.

Legal. Agora, o teremim está fortemente envolvido com a cultura sci-fi de meados do século, certo?
Sim. Infelizmente, a Clara Rockmore, que foi uma das melhores tereministas que já existiram, não gostava da ideia de o teremim ser usado na ficção científica. Ela queria que ele fosse considerado um instrumento clássico. Vários produtores de Hollywood se aproximaram dela para trabalhar em filmes sci-fi, e ela dispensou um por um. Ele não era tão usado para música quanto era para efeitos e para fazer os espectadores morrerem de medo.

O que te atraiu no teremim?
Na verdade, foi uma compra impulsiva. Eu estava ajudando uma amiga que é completamente cega e trabalha para a NASA a comprar um teclado. Checando umas lojas, vi alguns teremins. Comprei sem saber o que era e fui aprendendo a tocar sozinho. Levaram algumas semanas para eu parar de soar como uma briga de gatos num esgoto e de fato começar a tocar notas de verdade.

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Espera um pouco. Você tem uma amiga cega que trabalha pra NASA?
Tenho. Ela faz coisas para o site deles. E também é uma grande tecladista.

Só pra ter certeza que de fato ouvi isso. O que mais você faz além de ser um excelente tocador de teremim?
Bom, o teremim na verdade ocupa 80% do meu tempo. Acho que meus outros hobbies são coisas como simulações de voo, desenhar meu website, fotografar objetos pequenos para minha família… Eu fazia holografia nos anos 80 e 90.

Você fazia o quê?
Holografia. Imagens holográficas. Eu fazia hologramas.

Legal. Então vejo que você está bastante voltado para o futuro?
[Risos] Eu gosto muito de coisas tecnológicas. Sou totalmente viciado em tecnologia. Já toquei outros instrumentos como violino, flauta e piano por um tempo, mas eles nunca chamaram muito minha atenção. Não como o teremim. Nunca me enjoei dele. A primeira coisa que faço quando acordo é ligar o teremim, deixo ele aquecendo, tomo meu café da manhã, checo meus e-mails e depois volto para o teremim e começo meus ensaios. Às vezes eu até dou um tempo das simulações de voo.

Você realmente tem um simulador de voo?
Tenho. Não é uma plataforma radical ou coisa do tipo, mas tenho.

Você ainda faz holografia?
Infelizmente não. Como moro muito perto de um pátio ferroviário, as vibrações do solo interferem no plano ótico, e eu não consigo ter um holograma bom de verdade. Não é prático tentar fazer holografia nessa parte da cidade.

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Desculpa, mas eu não faço ideia do que você está falando.
O que a holografia faz é criar uma imagem 3D gravada em um filme fotográfico através da divisão de um feixe de luz laser, desviando a luz de um objeto e depois recombinando na chapa fotográfica. Se um desses feixes se desencontrar, mesmo que por um milésimo de milímetro, você não vai ter uma imagem holográfica.

Meu Deus, eu queria saber como fazer hologramas. Com certeza faria um remake holográfico de Blade Runner.
Bom, se você estiver falando de aparições flutuantes em 3D, isso não vai acontecer nunca. É fisicamente inviável. Você teria que usar lasers tão brilhantes que eles acabariam te cegando ou fritando. Você está falando de iluminar moléculas de ar, que é praticamente o que uma aura faz.

Acho que faz muito sentido que um professor virtual de teremim também seja aficionado por holografia. Você concorda comigo?
Holografia e teremim andam praticamente de mãos dadas, funcionam quase da mesma forma. Na holografia você decompõe e recompõe a luz, e combina ondas. No teremim você combina duas frequências diferentes de som para criar uma outra. Você lida em frentes construtivas e destrutivas de ondas. É tudo física. É tudo muito interligado.

Você já chegou a ser cientista?
Na verdade não. Gosto de contemplar as filosofias relativistas e esse tipo de coisa, mas é só isso.

Quando você comprou o simulador de voo?
Quando eu era criança, sempre quis ser um piloto. Infelizmente tem esse problema de eu ser legalmente cego. Se já não me deixam tirar carteira de motorista, imagine um brevê. Então restou o simulador. Estou nessa desde meados dos anos 80, e já tive todas as versões.

Me dá a impressão de que você não foi feito para os tempos de hoje, Thomas. Quando o futuro realmente chegar e carros voadores estiverem por todos os lados, quando todas as bandas tiverem três tocadores de teremim, você simplesmente vai olhar para o relógio e bocejar.
Me divirto muito com isso.

Para ter aulas de teremim pelo Skype, visite thomasgrillo.com.