​Inscrições em Cavernas Chinesas Contêm 500 Anos de Dados Sobre o Clima

Uma equipe internacional de pesquisadores encontrou, na China, uma caverna que contém inscrições detalhando os efeitos das mudanças climáticas na região.

Em um estudo publicado há pouco no periódico Scientific Reports, pesquisadores do Reino Unido e da China descrevem as inscrições nas paredes da caverna Dayu, nas Montanhas Qinling da China central, que datam de uma época entre 1520 e 1920. Os "grafites" detalham o impacto da seca na sociedade, na política e na economia da região, além de correlacioná-lo com dados geoquímicos coletados em uma análise no interior da caverna.

Os desenhos permitem que os pesquisadores cruzem referências e verifiquem seus dados geoquímicos com os registros reais deixados pelos humanos.

"É a primeira vez que temos evidências históricas diretas de mudanças climáticas de um mesmo local (o interior da caverna) para comparar com informações geoquímicas", me disse Sebastian Breitenbach, pesquisador do departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. "O mais interessante sobre isso é que nunca tínhamos visto uma caverna na qual as pessoas escreveram sobre estar mais seco do que o habitual — o que causou canibalismo, migração para locais diferentes ou desconfiança em seus líderes ou sistema político."

Os pesquisadores utilizaram a espectrometria de massa (uma técnica química que analisa a quantidade e o tipo de elementos químicos em uma amostra) para verificar as taxas de isótopos instáveis de oxigênio, carbono e outros elementos depositados da caverna.

A mudança climática é conhecida por afetar todos esses elementos dentro das cavernas, e os pesquisadores descobriram que taxas altas de isótopos de carbono e oxigênio correspondem a níveis baixos de chuvas. Eles cruzaram as referências dessas descobertas com as inscrições das paredes da caverna e descobriram uma forte ligação entre os dois. Por exemplo: depósitos da caverna do fim dos anos 1800s, que forneceram evidências de secas na região, correspondem aos registros escritos na caverna.

Uma inscrição afirma: "Em 24 de maio, 17º ano do período do Imperador Guangxu (30 de junho de 1891), dinastia Qing, o prefeito local, Huaizong Zhu, liderou mais de 200 pessoas à caverna para conseguir água. Um vidente chamado Zhenrong Ran rezou pedindo chuva durante a cerimônia."

"Há exemplos de peças, como restos humanos, ferramentas e potes de cerâmica encontrados em cavernas, mas é incomum descobrir algo como essas inscrições de datas", afirmou Liangcheng Tan, autor principal do estudo no Instituto do Ambiente na Terra, na Academia Chinesa de Ciências, em uma declaração à imprensa.

Os pesquisadores acreditam que, embora esta seja a primeira descoberta de escritos em uma caverna que detalham o impacto das mudanças climáticas na China, é possível que achem mais inscrições como essa no futuro.

Eles também modelaram uma previsão de como o clima poderá ser na região em 2030 com base em seus resultados. Breitenbach afirmou que seus modelos mostraram uma probabilidade de secas mais duradouras e intensas nos próximos anos na região. Ele também disse que isso foi importante para implantar uma estratégia para lidar com essa alteração ambiental.

"As montanhas Qinling são o habitat dos pandas, animais icônicos para os chineses, então é claro que eles querem fazer tudo o que puderem para salvá-los da extinção", afirmou. "É importante compreender como a mudança climática afetará a região e pensar em maneiras nas quais poderemos mitigá-las para melhorar a vida dos animais e dos humanos."

TÓPICOS: mudanças climáticas, cavernas, China, pandas, montanhas Qinling, espectrometria, história, clima, Terra, inscrições, geoquímica, descobertas

Tradução: Amanda Guizzo Zampieri