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A Polícia Afegã Atirou em um Pássaro em Extinção Após Confundi-lo com uma Bomba

Visto que a região norte do Afeganistão tem um histórico considerável de ataques do Talibã, os policiais acharam que o pássaro era uma bomba.

Na manhã do último sábado, a polícia do Afeganistão matou um pássaro muito suspeito que relaxava na beira da estrada. O pássaro os assustou porque carregava uma antena. Uma averiguação mais minuciosa do corpo do animal revelou que ele também estava carregando um GPS e uma câmera.

Visto que a região norte do Afeganistão tem um histórico considerável de ataques do Talibã, os policiais acharam que o pássaro era uma bomba — uma teoria bem razoável, dado o longo histórico de uso militar de animais pela humanidade. No verão passado, o Hamas, uma organização militante da Palestina, carregou um burro com explosivos e o lançou em direção ao exército israelense.

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Mas um pássaro-bomba treinado pelo Talibã? Extremamente improvável. Nas imagens da mídia local compartilhadas pela NBC, podemos ver uma etiqueta que informa que esse animal é objeto de estudo do Centro de Conservação de Houbaras (ECCH) no Uzbequistão, localizado logo após da fronteira.

A etiqueta encontrada no corpo do animal. Crédito: NBC

O houbara é um pássaro de médio porte originário do Norte da África e do Oriente Médio, e que já foi um dos pássaros mais importantes da falcoaria árabe. Hoje, sua decrescente população mundial é diminuta o bastante para ser considerada como "vulnerável", um nível acima da classificação "em extinção". A polícia afegã estava, em parte, certa: esse pássaro não é comum à área.

Yves Hingrat, o cientista que coordena o ECCH, não respondeu imediatamente ao nosso pedido de declaração sobre o assunto. Além de coordenar os esforços de conservação dos houbaras do Uzbequistão, ele também coordena programas de reprodução de houbaras no Marrocos, em Abu Dabi e no Cazaquistão.

No ano passado, oficiais do governo do Sudão capturaram um abutre em risco de extinção equipado com uma câmera e um GPS, acreditando que o animal era um espião israelense. Apesar desse pássaro-bomba ser, muito provavelmente, um caso semelhante, utilizar animais para carregar explosivos é uma prática real.

Além de utilizar pombos-correio para carregar mensagens do século 6 até a Segunda Guerra Mundial, os EUA chegaram a desenvolver mísseis guiados por pombos na década de 40. Eles também tinham um programa semelhante envolvendo morcegos. Na mesma época, oficiais do governo britânico consideraram o uso de pombos em bombardeios ou em ataques bio-químicos.

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O PRIMEIRO ANIMAL USADO COMO APARATO INCENDIÁRIO DO QUAL SE TEM NOTÍCIA FOI UM PORCO SELVAGEM

Os Soviéticos estavam mais interessados em cães do que em pássaros. Eles treinaram cães anti-tanques, também conhecidos como "minas caninas", para entrar embaixo de tanques carregando bombas que explodiam quando a alavanca amarrada às costas do cachorro entrava em contato com o fundo do veículo. Os soviéticos usaram 40.000 cachorros em seus combates contra a Alemanha na Segunda Guerra Mundial; mas no final, suas tropas caninas se mostraram ineficazes por diversos motivos, incluindo o fato de que os cães-bomba corriam para debaixo dos tanques soviéticos (como eles haviam sido treinados para fazer) ao invés de explodir os tanques alemães.

O primeiro animal usado como aparato incendiário de que se tem notícia foi um porco selvagem, utilizado em 240 AC pelos romanos. O porco era besuntado de piche, aceso, e mandado em direção às tropas inimigas. O primeiro incidente conhecido envolvendo animais explosivos ocorreu durante a Guerra Civil Americana quando os Exército Confederado colocou pólvora em burros — mas o tiro saiu pela culatra. A primeira bomba instalada em uma carroça explodiu em 1920, do lado da sede do JP Morgan Chase em Nova Iorque.

A maioria dos países parou de treinar animais para a matança. Hoje, os animais utilizados para fins militares são treinados para tarefas de defesa e detecção de minas terrestres. O Oriente Médio é o único lugar que continua a utilizar animais como bombas; no entanto, eles preferem os burros aos cachorros. Além do incidente do Hamas, um burro explosivo matou um policial afegão e feriu três pessoas no ano passado. O Irã comprou os golfinhos-bomba suicidas treinados pela marinha russa em 2000, mas o país não aparenta ter nenhum plano para eles.

A guerra é foda.

Tradução: Ananda Pieratti