Kali Uchis está no caminho para a dominação mundial pop
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Kali Uchis está no caminho para a dominação mundial pop

A cantora colombiana-americana finalmente lançou seu álbum de estreia, 'Isolation', uma personificação encantadora do seu som. O primeiro passo para dominar o mundo.
Daisy Jones
London, GB
Amanda Cavalcanti
Traduzido por Amanda Cavalcanti

Matéria originalmente publicada no Noisey US.

Ovos. Leite. Queijo. Pão. MOZÃO. Essas são as coisas que Kali Uchis escreve em uma lista de compras no início do clipe de “After the Storm”, sua colaboração com Tyler, the Creator e Bootsy Collins do começo do ano. É o tipo de vídeo que é tão bonito, tão esteticamente delicioso, que você quer entrar nele e nunca, nunca sair. Cada cor parece ter sido sugada do livro infantil e o resultado é uma utopia surrealista. “Did you ever wonder? Yeah, do you ever wonder?”, canta a artista colombiana-americana de 24 anos, com as pálpebras semicerradas, as unhas bem cuidadas descansando sob o queixo. E então ela está lentamente deslizando por um supermercado em saltos de borracha amarelo-limão, um olhar atordoado em seu rosto, o conteúdo de seu carrinho ganhando vida do jeito que você imaginava quando era uma criança com febre. Meu Deus, eu lembro de pensar, quando vi isso pela primeira vez, essa pessoa é pura genialidade.

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Esta não é a primeira vez que Kali Uchis causa um impacto. Ela tem sido uma mestre em criar seus próprios universos para se perder desde 2012, quando lançou a estranha mixtape Drunken Babble, que ela mesma aos 17 anos. No final do ano passado, ela lançou “Tyrant” com a cantora britânica Jorja Smith, e o clipe era o tipo de coisa que deveria estar em todas as listas de fim de ano. “Would you be a tyrant, if I gave you power?”, ela canta, soando como pêssegos e creme e usando um terno rosa que parece ter saído de Dinasty, enquanto chamas televisionadas explodem atrás dela. Antes disso, teve “Nuestro Planeta”, sua colaboração insana com Reykon, o maior cantor de reggaeton da América Latina. No entanto, apesar de uma lista de conquistas que duram seis anos, ela ainda não é um nome familiar. As pessoas que conhecem podem estar cientes de que ela foi nomeada para um Grammy Latino no ano passado por sua participação sedosa em “El Ratico” de Juanes, mas ela não é considerada no mesmo grupo de artistas que Lana Del Rey ou FKA. Ela é mais frequentemente descrita como "artista em ascensão" — mas por quanto tempo alguém tem que ascender antes que algo aconteça?

Hoje marca o lançamento do esperado álbum de estreia de Kali Uchis, Isolation, e só o tempo dirá se ele será um ponto de virada — mas deveria ser. Com 15 faixas, o álbum é exatamente como você imagina: sonhador, febril e abarrotado de poder feminino. Seu som é de sol e cultura lowrider, de tons pasteis durante o dia e com a noite manchada de neon, o tipo de coisa que você imaginaria flutuando pelas janelas de alguém em Bogotá ou Los Angeles enquanto penduram a roupa para secar no calor da manhã. Ouvindo essas músicas, você tem a sensação de que Kali Uchis ocupa um estado perene de "estar apaixonado", sua voz feliz e distante, suas letras cheias de romance. Mesmo quando ela está sendo venenosa, como em "Dead To Me", ela canta como se já tivesse seguido em frente e agora está apaixonada por seu próprio futuro: "Você acha que tem problemas comigo, mas, querido, eu nem penso sobre você…"

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Ela também contratou uma variedade impressionante de produtores e escritores para a Isolation, e sua visão é compensadora. O Gorillaz emprestou seus créditos de escrita e produção para “In My Dreams”, uma canção estranha e impetuosa na qual Damon Albarn canta sobre a felicidade. Em outros lugares, Thundercat — que estava no epicentro criativo de To Pimp a Butterfly, de Kendrick Lamar — ajuda a moldar a introdução do álbum “Body Language” em uma cacofonia hipnótica de trechos de flauta de jazz que fazem a voz de Kali soar quase eufórica. Os colaboradores frequentes da cantora BADBADNOTGOOD também aparecem na já mencionada "After the Storm", sem dúvida uma das principais faixas do álbum. E até Kevin Parker do Tame Impala co-escreve e produz ao lado de Kali na minha música favorita, "Tomorrow", sangrando seu distintivo sabor psicodélico em sua paleta já colorida.

Como alguns dos melhores artistas antes dela, Kali Uchis não é apenas uma cantora e compositora. Ela se destaca em criar seu próprio multiverso — um mundo de 360 graus em que ela escreve suas próprias músicas, dirige a maioria de seus próprios vídeos brilhantes e altamente estilizados que podem ser cortes do mesmo filme e cuidadosamente une uma lista de colaboradores que elevam seus distintos som e estética, mas nunca os ofuscam. Paralelas podem ser desenhadas entre ela e artistas como Kevin Abstract ou até mesmo Charli XCX. Como eles, você poderia assistir aos primeiros cinco segundos de um clipe da Kali Uchis, ou ouvir a introdução de uma de suas faixas, e saber imediatamente a quem ela pertence.

Por isso, é difícil identificar exatamente por que ela pode ser considerada uma estrela, mas ainda não é uma super-estrela. Talvez seja porque ela ainda não lançou nenhum grande sucesso, do tipo que é vomitado pelo rádio convencional e chega a definir um único verão. Talvez seja porque sua mistura de doo-wop com um gostinho de jazz é um pouco retrô ou não-convencional para torná-la a próxima Lana. Talvez seja porque ela é uma mulher na música, e algumas pessoas ainda têm dificuldade em acreditar que ela tem total autonomia sobre tudo o que ela lança. De qualquer maneira, ela está bem ciente de seu próprio talento, mesmo que alguns ainda estejam criando consciência dele. “Eu ainda posso clamar minha própria feminilidade, ainda posso me apegar à minha própria sexualidade, vestir o que quero vestir, aparentar como quero aparentar, ser quem eu quero ser”, disse ela em um release que veio com o álbum, “e isso não significa que eu não possa ser também uma pessoa criativa, uma intelectual, alguém que toma suas próprias decisões na vida.” Depois de uma longa espera, talvez Isolation seja o empurrão final para conseguir grande reconhecimento que ela merece.

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