Círio de Nazaré: Água, Suor e Dois Milhões de Pessoas
Foto: Maurício Fidalgo

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Círio de Nazaré: Água, Suor e Dois Milhões de Pessoas

Fotos do maior evento religioso da América Latina, o Círio de Nazaré, em Belém do Pará.

Foto: Maurício Fidalgo

Como se preparar para um evento de dois milhões de pessoas? Minha resposta é: não dá. O Círio de Nazaré é o maior evento religioso da América Latina e acontece há mais de 200 anos.

A história da procissão começa com a lenda de um caboclo que encontrou uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré nas margens do rio Murucutu. Ao levar a Santa para casa, ela misteriosamente retornava ao local em que foi encontrada. No local do achado foi erguido um altar, e todo ano se realiza o percurso da Catedral de Belém à Basílica, o Círio de Nazaré.

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Foto: Maurício Fidalgo

Claro que o evento não termina aí, há uma quantidade grande de romarias: a naval, a automobilística, a ciclística, e assim por diante. A primeira que fui fotografar foi a chegada do Círio fluvial.

Foto: Maurício Fidalgo

Um navio de guerra da Marinha Brasileira trazia a imagem da Santa e era seguido de perto por dezenas de outras embarcações, de lanchas à jet-skis. Ao chegar ao cais de Belém havia outra romaria, dessa vez motos, centenas, milhares delas. Seus pilotos que buzinavam, estouravam o motor e pulavam em cima de seus veículos não me despertavam empatia pelo evento.

Foto: Maurício Fidalgo

No domingo cheguei bem cedo ao Círio oficial, a romaria da corda.

Foto: Maurício Fidalgo

A tradição da corda começou no ano de 1855. A berlinda, que era levada por um carro de boi, passou a ser conduzida por uma corda para evitar os atoleiros do percurso. Essa corda que conduz a imagem sagrada passou a ter um enorme valor para os romeiros, chegar até ela entre uma multidão de pessoas que também querem chegar virou um símbolo da procissão, assim como levar um pedaço da relíquia sagrada para casa.

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Eram quatro da manhã, decido ficar próximo da corda que esse ano tem 800 metros. Milhares de pessoas já estavam ao lado do enorme trançado de sisal, garantindo o seu lugar à espera da saída após a missa, marcada para as 7:30h. Os primeiros promesseiros que fazem o trajeto de joelhos começavam a aparecer.

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Quem sabe o dia seria mais que a folia do dia anterior, mais que as corriqueiras carteiras roubadas em eventos de multidões. Próximo a saída, algumas pessoas começaram a oferecer água mineral. Dez minutos depois de começar a romaria, no começo da subida da BR 010, os sorrisos e a euforia inicial davam lugar as caretas de força e sofrimento, deixava de ser uma festa e começava a ser um ato de fé.

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Foto: Maurício Fidalgo

A água agora era jogada em cima dos fiéis, no asfalto para esfriá-lo, para o alto e para todos os lados. Seria assim que, mesmo sem chuva e com 80% de umidade no ar, se seguiriam os próximos 3,6 quilômetros: abafados, sofridos e molhados.

Foto: Maurício Fidalgo

Mais tarde descobri que tanto a água, distribuída gelada ou quente, aberta ou fechada, quanto as fitinhas e os terços, faziam parte das promessas. A corda, apesar dos seus 800 metros de extensão, some em meio a milhões de pessoas.

Na "cabeça da corda", uma estrutura de alumínio enorme, ficavam os que pareciam mais fazer força. Descalços, se espremendo, forçando, se pisavam, urravam e puxavam. Muitas vezes eram arrastados para trás, seja pela subida ou pelos outros romeiros que vinham disputando espaço nas ruas ou na corda.

Foto: Maurício Fidalgo

Por vezes acabei empurrando e forçando o grupo para frente, isso para não ser derrubado ou arremessado para longe. Pouco depois de meio-dia, a berlinda que carrega a Santa chega ao seu destino, e como dizem os paraenses, "égua, é lindímais".

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Veja abaixo mais fotos do fotógrafo Maurício Fidalgo:

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