A vida secreta de um dos mais antigos destiladores do mundo

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A vida secreta de um dos mais antigos destiladores do mundo

O senhorzinho Aristide Peyronnie, de 84 anos, vai todos os anos ao sul da França para produzir artesanalmente um destilado feito a partir da mistura de frutas e açúcar.

Aristide Peyronnie em Villefort, março de 2015. Todas as fotos são de Juliette Mas.

Esta matéria foi originalmente publicada no MUNCHIES.

Quando conheci Aristide, chovia forte. Segurando um guarda-chuva, os pés presos na lama, lá estava ele, tranquilo, cercado de gases alcoólicos, esperando o fim do "preparo".

Aos 84 anos, Aristide é um destilador itinerante e já fez mais birita do que eu poderia fazer em toda minha vida.

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Todo mês de outubro, ele passa seis meses indo de comuna em comuna no departamento de Aude, no sul da França. Em cada parada, destila conhaque com as frutas que os moradores levam para ele. Durante a excursão, Aristide se hospeda com alguém da cidade, muitas vezes se virando no cantinho de algum galpão ou mesmo no porão de uma casa. E ele deixa pequenos hábitos em cada local.

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Muitos considerariam esses lugares desconfortáveis, mas, para Aristide, a ideia de voltar todo ano é bastante inspiradora. Um dia se funde ao outro — a única coisa que muda é o clima. Ele nunca reclama do frio. Na neve, na chuva ou no vento, senta-se ao lado do alambique para se aquecer. Enquanto espera os "espíritos" da destilação começarem a fluir, ele me conta sobre a infância. Fala da Argélia. Depois, silêncio. O único som é o da lenha crepitando no fogo.

Finalmente, chegando ao fim do período de destilação, ele se cansa. Está então pronto para ir para casa descansar na pequena aldeia de Ariège, no sul da França. No ano que vem, começará tudo de novo.

Puivert, fevereiro de 2016.

Puivert, março de 2016.

Roquefeuil, março de 2016.

Não ligue para a chuva nem o frio. "Enquanto houver frutas, haverá trabalho a se fazer."

Brézillac, março de 2016.

No coração do povoado de Brézilhac, Aristide montou seu alambique quase como uma "destilaria móvel". Os clientes estão todos esperando. Eles deixaram frutas e açúcar macerando vários meses em um recipiente selado. Essa mistura será destilada e é dela que se obtém a eau-de-vie, uma espécie de aguardente levinha das frutas.

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Puivert, março de 2015.

Quando destila na comuna de Puivert, Aristide se hospeda em um quartinho nos fundos de um galpão.

Puivert, fevereiro de 2016.

Puivert, março de 2015.

Durante a excursão destiladora, ele leva um saco de dormir, um cobertor e chinelo.

Chegando ao Plateau de Sault, março de 2016.

Sonnac-sur-l'Hers, dezembro de 2014.

Cliente ajuda Aristide a transferir o destilado de frutas para um recipiente. Sonnac-sur-l'Hers, dezembro de 2014.

Se as frutas "rendem" bem, é possível obter até 50 litros. Aristides ganha quatro euros por litro de bebida destilada.

Sonnac-sur-l'Hers, dezembro de 2014.

Brézillac, março de 2016.

Os Ferrand sempre abrigaram a família Peyronnie. "Quando minha mãe morreu, decidi manter a tradição e convidar o Aristide para se hospedar em casa", conta o senhor Ferrand.

Logo cedo, no pomar de Sonnac, Aristide começa o dia de trabalho. Durante a estada nessa comuna, ele dorme em uma van.

Sonnac-sur-l'Hers, janeiro de 2016.

Ninette, uma vizinha, leva sopa e café para Aristide. Os clientes oferecem almoço para ele durante o dia. À noite, seus anfitriões garantem o jantar.

Sonnac-sur-l'Hers, janeiro de 2016.

Aristide liga para um cliente.

Sonnac-sur-l'Hers, janeiro de 2016.

Uma etapa fundamental da produção da eau-de-vie é a medição do teor alcoólico. Os primeiros litros em geral ficam em torno de 35%. Em seguida, é preciso esperar a decantação de mais conhaque para conseguir baixar tudo para o nível desejado, em torno de 20-22%. O densímetro é um instrumento frágil, mas Aristide o manuseia com cuidado.

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No turno da noite. Puivert, março de 2015.

As frutas vieram tarde hoje, então este lote está sendo finalizado com a ajuda de uma lanterna.

Villefort, janeiro de 2016.

Cliente segura lamparina enquanto Aristide preenche os formulários alfandegários. É preciso declarar a quantidade de bebida alcoólica destilada e pagar os impostos devidos (à exceção de certas pessoas que possuem privilégios especiais e podem destilar sem pagar tributos. Uma lei aprovada em 1959 hoje impede que esses privilégios sejam transmitidos por herança.)

Puivert, fevereiro de 2016.

Roquefeuil, março de 2016.

Todo ano, Aristide encontra as mesmas pessoas que já se tornaram verdadeiros amigos. Aqui, o destilador visita Juliet, de 98 anos de idade. Eles dividem lembranças antigas e falam de amigos que já faleceram.

De volta para casa, em Chatou, no Norte da França, Aristide agora descansará entre abril e outubro. Quando as frutas estiverem prontas, ele voltará para a estrada.

Aristide, seu irmão, o pai e o avô em volta do alambique.

Juliette Mas é fotógrafa documental e foca seu trabalho em pessoas e nas histórias que elas têm para contar.

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