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Saúde

Perderes o teu cão pode ser mais doloroso do que perderes uma pessoa

Vários estudos revelam que a relação que temos com os nossos cães pode ser mais gratificante que aquela que temos com humanos.
um cão a ser acariciado
Unsplash/Adam Griffith

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Tonic.

Há pouco tempo, a minha mulher e eu sofremos a experiência mais dura das nossas vidas: a eutanásia da nossa querida cadela, Murphy. Lembro-me que nos olhámos momentos antes de ela dar o seu último suspiro. Nos seus olhos vi reflectida uma entranhada mistura de confusão e tranquilidade ao saber que estávamos os dois ao seu lado.

As pessoas que nunca tiveram um cão e vêem os seus amigos a chorar pela perda do seu, muitas vezes acham que é algo exagerado; afinal de contas, pensam, "é só um cão". Contudo, quem já teve e adorou um cão sabe perfeitamente que nunca é "só um cão".

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Falei muitas vezes com amigos que me confessaram, com grande sentimento de culpa, que choraram mais a perda do seu cão que a de um amigo ou parente. Estudos demonstram que, para a maioria, a perda de um cão é comparável, em quase todos os sentidos, à perda de uma pessoa querida. Lamentavelmente, na nossa cultura não abundam expressões de luto pela morte de um cão, o que não ajuda a normalizar as demonstrações públicas de dor pela perda dos nossos queridos seres peludos.


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Quem sabe se, se as pessoas soubessem o intenso e forte que é o laço entre um cão e o seu dono, compreenderiam melhor a dor que se sente e isso ajudaria os donos a assimilar melhor a morte dos seus animais de estimação e a passar a página. O que é que os cães têm de tão especial para que formem laços tão fortes com os humanos?

Para começar, há 10 mil anos que o cão adapta a sua vida à nossa. E muito bem: é o único animal que evoluiu especificamente para ser nosso amigo e companheiro. O antropólogo Brian Hare desenvolveu a "hipótese da domesticação", para explicar como é que o cão evoluiu desde o seu antepassado, o lobo cinzento, até se converter num animal com capacidades sociais, com o qual interagimos quase da mesma forma como com outros humanos.

Talvez uma das razões pelas quais as relações com os cães são até mais satisfatórias que aquelas com humanos é que os cães nos oferecem o seu afecto de forma incondicional, sem nos julgar. É como se costuma dizer: "Quem me dera converter-me na pessoa que o meu cão acha que eu sou".

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No se trata de algo fortuito. Durante generaciones, el perro ha evolucionado para prestar atención al ser humano, y las imágenes por resonancia magnética de su cerebro muestran que estos responden a los halagos de sus dueños con la misma intensidad que cuando se les da comida. De hecho, para algunos perros, los halagos son un incentivo mayor que la comida. Los perros son capaces de reconocer a las personas y de aprender a interpretar sus estados de ánimo simplemente a partir de sus expresiones faciales. Los estudios científicos también demuestran que los perros pueden entender las intenciones de los humanos, intentan ayudar a sus dueños e incluso evitan a las personas que no colaboran con sus dueños o que no los tratan bien.

Não se trata de algo fortuito. Durante gerações o cão evoluiu para prestar atenção ao ser humano, e ressonâncias magnéticas ao cérebro destes animais mostram que eles respondem aos elogios dos seus donos com a mesma intensidade de quando se lhes dá comida. Na verdade, para alguns cães, os elogios são até um incentivo maior que a comida. Os cães são capazes de reconhecer as pessoas e de aprender a interpretar os seus estados de ânimo, simplesmente a partir das expressões faciais. Os estudos científicos também demonstram que os cães podem perceber as intenções dos humanos, tentam ajudar os donos e inclusive evitam as pessoas que não colaboram com estes, ou que não os tratam bem.

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Como seria de esperar, os humanos reagem positivamente a estas demonstrações de afecto, ajuda e lealdade incondicionais. O simples feito de olhar para um cão pode fazer-nos sorrir. Os donos de cães mostram, em média, um maior nível de bem-estar e felicidade, do que as pessoas que têm gatos ou que não têm animais de estimação. Um estudo recente sobre o fenómeno de chamar as pessoas pelo nome errado deixa claro os fortes laços que ligam cães a humanos. Nesse estudo revelou-se que muitas vezes os membros de uma família se enganam e chamam pelo nome do cão a outras pessoas, o que indica que o nome do cão se extrai do mesmo grupo cognitivo que o dos membros humanos da família. Curiosamente, raras vezes acontece o mesmo com os nomes de gatos.

Por tudo isto, não é de estranhar que uma pessoa tenha tantas saudades do seu cão quando este morre. A psicóloga Julie Axelrod salienta que a perda de um cão é tão dolorosa, porque os seus donos não estão só a perder um animal, mas sim uma fonte de amor incondicional, um companheiro essencial que oferece segurança e tranquilidade e até um protegido que tratamos como uma criança.

A perda de um cão também pode alterar a rotina diária do seu dono de forma mais significativa do que a perda de um amigo ou familiar. Muitas vezes, os donos de cães organizam os seus horários em torno das necessidades do seu animal de estimação. Estas mudanças na rotina e frequentemente no estilo de vida são a principal fonte de stress. De acordo com um estudo recente, muitas pessoas que perderam o seu cão chegaram inclusive a confundir coisas ambíguas que ouvem e vêem com os ruídos que faziam os seus falecidos animais. Isto acontece sobretudo pouco depois da morte do cão e com pessoas que estavam muito ligadas ao seu animal.

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Após a duríssima experiência que é perder um cão, os donos habituam-se tanto à reconfortante e incondicional presença destes companheiros que acabam, a maioria das vezes, por adoptar outro. Eu também tenho muitas saudades do meu cão, mas tenho a certeza que com o tempo superarei a sua perda.

Frank T. McAndrew é professor de Psicologia do Knox College. Este artigo foi publicado originalmente no The Conversation. Aqui podes ler essa publicação.


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