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A mulher que enviou um telemóvel ao Julian Assange por correio

Um projecto artístico para vos fazer pensar.

Digam-me uma coisa: costumam rebolar na cama à noite, a suar e a suar, por culpa de um problema que vos impede de adormecer? Eu sim, e o assunto desta vez foi: qual será a sensação de se ser encaixotado e enviado por correio para o Julian Assange? Um pouco estranho, eu sei, mas a responsabilidade é de um grupo de artistas chamado !Mediengruppe Bitnik que enviou um pacote ao fundador do Wikileaks. Mas não é um pacote qualquer — este tira fotos a cada dez segundos e as imagens são carregadas para o Twitter do colectivo. O feed não é particularmente interessante, basta pensar que há dois dias inteiros preenchidos por fotos dentro de uma caixa, mas, a certa altura, lá aparece a cara sorridente do homem. O projecto, chamado "Delivery for Mr. Assange", é uma janela para o estranho quotidiano de um homem que vive num limbo diplomático há sete meses. Ele não dá muitas entrevistas hoje em dia, de modo que esta é uma oportunidade fixe para espreitar pelo buraco da fechadura da embaixada do Equador. Falei com a Carmen Weisskopf, uma das fundadoras do !Mediengruppe Bitnik, para saber mais sobre tudo isto. VICE: Olá, Carmen. Qual foi a ideia de enviar isto ao Assange?
Carmen Weisskopf: Estão sempre polícias e activistas à porta da embaixada, é demasiado intenso. Então houve uma pessoa no 4chan que se lembrou de enviar pizzas para lá, o que foi uma saudável dose de normalidade. Quando lhe foi concedido oficialmente o asílio político, as pessoas começaram a mandar táxis que o pudessem levar para o aeroporto. Foi aí que começámos a pensar sobre como poderíamos intervir. O que é que acabaram por lhe enviar?
Basicamente: muito daquele recheio de almofada e um telemóvel a tirar fotos de dez em dez segundos munido com uma bateria de 40 horas, em vez das habituais quatro. Não quisemos pôr muita coisa, não sabíamos quem é que ia espreitar a encomenda. Foi só o essencial. O raio-X da encomenda que o Assange recebeu na embaixada. Mas avisaram o Assange previamente?
Sim, por email. Fizemos três caixas, para nos precavermos. O plano era enviar a primeira e, caso corresse mal, enviar outra por um canal diferente. Não estávamos à espera que fosse à primeira. Pensei que haveria mais cuidado, por ser para o Assange, sim, mas também por se tratar de correspondência para uma embaixada. Estavam mesmo à espera que isto funcionasse? Há muitas imagens a preto, chegaram a pensar que o telemóvel poderia estar estragado?
Já estávamos à espera de algumas fotos a negro. Também conseguíamos acompanhar a localização da caixa. Sabíamos que estava em movimento, o que nos tranquilizou. Como é que foi ver a cara do Assange?
Ficámos fora de nós de felicidade. Toda a gente ficou muito contente, quer os membros que estavam em Zurique, quer os de Londres. Foram dois dias intensos de preparação, por isso a sensação foi a melhor. Ele é uma figura controversa. Qual é a tua opinião sobre ele?
Sim, ele está metido em problemas sérios, mas também está na vanguarda do debate sobre sistemas abertos e fechados. É importante não nos esquecermos disso, ele defende coisas importantes. Pode-se não gostar da pessoa, mas é injusto descredibilizar o trabalho que ele fez. E aquelas mensagens que ele escreveu, sobre o Bradley Manning, o Aaron Swartz e assim. Estavam à espera?
Não, nada. Ficámos muito surpreendidos. Pedimos-lhe que nos mostrasse a embaixada e sentimo-nos honrados por ele ter dedicado tanto do seu tempo ao nosso projecto. Claro que ele se comportou da maneira que lhe apeteceu e que mais lhe convinha. De onde é que saíram os gatos?
Não faço ideia, mas foi fixe vê-los. Suponho que sim. Esta vossa ideia acabou por ter bastante atenção mediática.
Também não estávamos à espera. Foi fixe ver que as pessoas se interessavam, que estavam a pensar nas implicações. "Estou aqui a olhar para isto há 12 horas e nem sei bem porquê." Acho que muita gente se sentiu fascinada e atraída por isto sem perceber muito bem porquê. O que é que querem dizer com este projecto?
A nossa ideia é questionar a real transparência de uma sociedade democrática. Quem controla a informação, de que informação estamos a falar. Perceber o mundo.