O documento da Secretaria de Meio Ambiente aponta que este tipo de dique é ineficiente justamente na época chuvosa, prevista pra ter início em outubro deste ano. Diz o laudo que "na vistoria realizada, após aproximadamente uma hora de chuva, o S3 não foi capaz de fazer a retenção do material particulado e a turbidez aumentou consideravelmente no Córrego Santarém, assim demonstrando sua ineficiência no período chuvoso, e completa que a barragem S4 é similar à já existente S3 e que "apresentou eficácia de sedimentação da lama apenas em período de seca ou estresse hídrico por escassez".Os diques S3 e S4 não são eficientes para reter os rejeitos e impedir que o rio Doce, através do seu afluente Gualaxo do Norte, sejam contaminados pela lama do rompimento da barreira do Fundão.
Em junho deste ano, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) já havia negado à Samarco autorização para a construção do dique S4. Segundo o documento enviado naquele mês ao MP estadual, o Iphan defende que Bento Rodrigues tem o direito à preservação da memória, criticando que o distrito seja novamente atingido com o alagamento que o dique causará. Em junho último, a obra já havia sido embargada pela Polícia Militar de Meio Ambiente, depois de constatar o desmatamento de uma área aproximada de 1,4 mil metros quadrados de mata atlântica e o aturamento de parte do córrego Santarém, antes mesmo de liberação para a construção do dique.O Iphan defende que Bento Rodrigues tenha o direito à preservação da memória, criticando a decisão da Samarco em alagar o que resta do vilarejo com a construção do dique.
Outro ponto polêmico envolvendo a construção do dique S3 é a suspeita, por parte do MP, de que ele seja parte de uma barragem de rejeitos projetada ainda em 2013, e que com o rompimento de Fundão, teria parado no processo de licença prévia. O promotor público Carlos Eduardo Ferreira afirma que "há fortes indícios de que a Samarco vem se aproveitando da trágica conveniência que é a retirada forçada de Bento Rodrigues para levar adiante uma política de rejeitos que eles já estudavam em 2013 com a barragem de Mirandinha".O promotor rejeita a hipótese de que o rompimento tenha sido proposital, mas afirma que a "projeção de crescimento da Samarco indicava a remoção de Bento Rodrigues em algum momento". Para retomar suas atividades, a mineradora apresentou a barragem de rejeitos de Alegria Sul, com capacidade de 18 bilhões de litros, como alternativa a Fundão. Esta estrutura teria uma vida útil de apenas 26 meses, o que levanta a suspeita do MP de que se trate de apenas um recurso paliativo para retomada das atividades.A reportagem da VICE teve acesso ao Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA) da então futura barragem de Mirandinha, publicado em 2014. O relatório, que complementa o estudo de impacto ambiental da estrutura, mostra que o dique de contenção de Mirandinha ficaria a 1,2 km de Bento Rodrigues, em local próximo a onde hoje está já montado o dique S3.Há fortes indícios de que a Samarco vem se aproveitando da trágica conveniência que é a retirada forçada de Bento Rodrigues para levar adiante uma política de rejeitos que eles já estudavam em 2013 com a barragem de Mirandinha. — promotor Carlos Eduardo Ferreira
A barragem de Mirandinha teria capacidade nominal para 106 bilhões de litros de rejeito, contra 55 bilhões de Fundão. Esta, no entanto, possuía cadastro para 2,65 bilhões de litros.Mirandinha foi a eleita entre três alternativas para que a empresa pudesse manter os níveis de extração de ferro na região. Uma das alternativas expostas no RIMA seria um gigantesco sistema de deposição de rejeitos aproximadamente qatro vezes maior que a escolhida e que contemplava o alagamento da totalidade do distrito de Bento Rodrigues e até mesmo do distrito de Antônio Pereira, mas que foi descartada devido ao "alto custo ambiental e social".Projeção de crescimento da Samarco indicava a remoção de Bento Rodrigues em algum momento. — promotor Carlos Eduardo Ferreira