FYI.

This story is over 5 years old.

Viagens

O pessoal das Ilhas Faroé adora esfaquear baleias

E quem somos nós para lhes dizer que estão errados?

Todos os Verões é a mesma coisa: quando o calor chega às Ilhas Faroé, chega também a época oficial de matar baleias. O passatempo nacional chama-se

grindadráp

, ou só

dráp

. Fomos até lá para descobrir mais sobre esta batalha homem VS peixe grande (sim, eu sei que são mamíferos, mas se estão no mar, são peixes).

As baleias, que ainda não aprenderam que é má ideia passar perto das Ilhas Faroé, vão ali todos os anos. Há vigias como os da foto à espera delas. Ficam lá todo o Verão, a olhar para o oceano e, assim que as vêem, metem-se todos em barcos e vão para o mar, cercando as baleias num semi-círculo. Depois é só arrastar os bichos até perto da costa, coisa que fazem graças a umas redes gigantes.

Publicidade

E lá vão eles!

Apesar da tradição ser forte, há alguns regulamentos modernos como, por exemplo, a obrigatoriedade de matar as baleias com uma faca especial para matar baleias, a

grindaknívur

. Nada de arpões ou outros instrumentos, estão todos banidos. A matança demora entre sete e vinte minutos (dependendo da sorte da baleia). No fim, a água está toda vermelha. É super bíblico…

… E nojento também.

É um pouco violento e chocante para quem é de fora, mas caçar baleias faz parte dos hábitos deste povo há muitas centenas de anos. Desde que as ilhas são habitadas, basicamente. Já se encontraram, em escavações urbanas, ossos de baleia com quase 1200 anos. Não deviam ser de animais de estimação.

Há registo de caças à baleia organizadas desde 1584, o que é fácil de entender. Estas ilhas ficam longe de tudo e a agricultura é muito limitada pela meteorologia particular da zona. Mas, em compensação, há muito mar (não fossem estas as ILHAS Faroé) e o mar tem baleias. As pessoas caçam as baleias e depois comem-nas.

As comparações com o Japão são óbvias, mas pouco acertadas. Só os japoneses de algumas cidades costeiras é que tinham por hábito comer carne de baleia, ainda que a prática se tenha tornado mais comum depois da Segunda Guerra Mundial, quando era preciso alimentar a população da maneira mais barata possível. Hoje em dia, a indústria baleeira japonesa é muito lucrativa e pressiona o governo para lhe manter os privilégios. Nas Ilhas Faroé, matar baleias não é um negócio. É só o jantar lá de casa.

Claro que os ambientalistas não vão nesta conversa. Há vários filmes histéricos (e factualmente incorrectos) sobre a caça de baleias nas Faroé. Este aqui em baixo, com o Sir Anthony Hopkins, é o meu preferido.

Gastronomicamente falando, no entanto, a carne de baleia, que constitui parte da dieta típica dos indígenas, é muito gorda o que já trouxe alguns problemas de saúde aos locais. Além disso, é uma carne muito rica em toxinas, daí não ser muito boa ideia organizar demasiados banquetes a ela dedicados.

Fotografia por Tróndur Dalsgard