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Revista de 2013 - A melhor fruta da época

A mulher que planeia viver de água, chá e luz durante 100 dias

E acha sinceramente que isto pode salvar o mundo.

Aqueles suminhos purificantes são uma mariquice. A Naveena Shine é uma senhora britânica de 65 anos que está a meio de uma maratona de cem dias, durante os quais só pode beber chá, respirar e consumir algo a que se chama “luz”, uma substância espiritual que, segundo a Naeveena, a manterá viva. A experiência começou a 3 de Maio e segue os princípios da inédia, uma crença que nos diz que os humanos podem sobreviver à base de luz. Já houve outros praticantes que morreram de fome, mas a Naveena parece ser mais prática do que eles (apesar de tudo, bebe chá) e está habituada a provas que colocam a mente e o corpo em desafio. Até já apareceu no livro dos recordes do Guinness, em 1997, depois de caminhar sobre uma fogueira com quase 1000 graus. Podes acompanhar o projecto da Naveena, ao qual ela se refere como "viver da luz" no Facebook e no YouTube. Ela também se está a filmar a si própria 24 horas por dia, graças às oito câmaras instaladas na sua casa em Seattle. Fui falar com a Naveena para saber como ela estava a aguentar. VICE: Como é que te surgiu a ideia de fazer isto?
Naveena Shine: Durante toda a minha vida estive rodeada por perguntas. “Qual é a verdade?” “O que é real?” Ou: “Quem sou?” Fiz tudo aquilo que queria fazer na minha vida, por isso perguntei ao universo: “Há algo que queiras que eu faça agora?” E a resposta chegou um par de meses mais tarde, na altura do furacão Sandy. Dei-me conta das coisas que são realmente importantes no nosso mundo. Portanto, eis-me aqui. Quando é que ouviste falar sobre a inédia pela primeira vez?
Ouvi falar sobre isso durante toda a vida. Conheço uma pessoa que viveu da luz durante três anos. Eu já tinha uma ideia muito clara de que era possível consegui-lo, então por que não tentá-lo? Há sete semanas que não comes. Como te sentes?
Tive algumas dificuldades com a bílis no estômago. Há dias em que não me sinto bem, mas a maior parte do tempo está tudo bem. Nos últimos dias, senti-me mais alerta, mais viva. Sei que as mudanças no meu corpo irão trazer problemas, mas nada de grave. Há muitas pessoas que querem saber como é que ainda continuas viva.
Já passaram 36 dias [sem comer]. Não estou a sentir tudo aquilo que as pessoas imaginam que deveria estar a sentir. Às vezes não me sinto bem, mas depois começo a ter mais energia. Que queres que te diga? Acho que isto tem a ver com a minha mente: nunca pensei que poderia não conseguir fazê-lo. Sei que isso era uma possibilidade, mas não me preocupou porque acredito que pode ser possível. Em tudo o que fiz na vida, sempre houve pessoas que disseram: “Não, não, não podes fazer isso. Vais morrer, ainda te vais arrepender." E isso nunca aconteceu, por isso para quê ouvir as outras versões da realidade que não a minha? Além da fome, como é viver sem comida?
Eu adoro comida. Gosto do aspecto social, da elegância e do sabor. E isso não mudou. Neste momento, não sinto vontade de comer. Não tenho nenhuma intenção de deixar de comer para o resto da vida. Mas essas coisas não têm nenhum impacto sobre esta minha experiência. Imagino que isto requeira muita força de vontade. Segues um horário?
Não, faço o que me apetece. Estás preocupada com as consequências físicas do processo?
Para começar, não acho que haja assim tantas consequências. Não vou chegar ao ponto de tratar mal o meu corpo, e pararei se perceber que não há melhorias e que os meus órgãos deixaram de funcionar. Tenho a certeza de que darei conta disso. Quando as pessoas morrem de inanição, imagino que saibam de antemão que alguma coisa não está bem. Espero que sim. Falaste com algum médico antes de ires com a experiência avante?
A ideia de vida que um médico tem não está em sintonia com o viver da luz. Eles simplesmente não o conseguem ver, não está dentro da realidade que estudaram. Acho que um médico nunca me deixaria andar sobre as chamas mais quentes do mundo com os pés descalços. Não é mal pensado, isso. Mas tens presente que já morreram pessoas a fazer o mesmo que tu estás a fazer?
Não sei quais foram os seus problemas. Não entendo porque é que não se deram conta [de que algo estava mal] e não sei por que é que não fizeram alguma coisa para contrariar isso. Tenho pena que tenham morrido, mas, sim, estou consciente. E o que acham os teus amigos e os teus familiares?
Não estão muito contentes. Ninguém tentou fazer isto desta forma. Toda a gente pensa que não é possível e as pessoas acham que vou morrer, mas sabes que mais? Talvez estejam enganados, ou talvez tenham razão. É essa a ideia de experimentar. E, se tiveres sorte, qual será o passo seguinte?
Se conseguir fazer isto durante 100 dias, isso significa que fui para lá do ponto crítico que matou pessoas. E acho que isso deverá ser investigado. A única coisa que quero fazer é abrir uma porta. Não sei quem vou ser no dia 100. Quando comes alimentos, tens uma perspectiva sobre a vida. Quando vives da luz, tens pensamentos diferentes, ideias diferentes e gostos diferentes. O que isso pode significar na vida futura, não sei. Quanto ao público, usem isto como quiserem. Enviem uma mensagem ao público para explicar que isto é possível, depois logo se vê o que se faz com essa informação. Acho que isto pode salvar o mundo, mas se o mundo não tem interesse, problema deles.