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Música

O Bölzer Quer Te Fazer Ascender Através do Metal

KzR e HzR formam a banda de metal atmosférico que derrubou o Maryland Festival com duas performances destruidoras e agora lançam o segundo EP, 'Soma'.

Já passa da meia-noite na Suíça e Okoi Thierry Jones acaba de sair do trabalho em um bar que ele gerencia em Zurique. O vocalista/guitarrista nascido na Suíça e radicado na Nova Zelândia (também conhecido como KzR) lidera o Bölzer, a causticante dupla de metal atmosférico que levou o Maryland Deathfest ao chão não só com uma, mas duas muito debatidas performances. De volta ao lar, Jones e o baterista HzR se preparam para revelar o esperado segundo EP da banda, Soma, lançado pela Invictus Productions, da Irlanda. O fato de que a tradução do nome da banda seja algo como “descarga de energia” – não muito diferente de uma tempestade – não é coincidência: a música do Bölzer não é nada mais do que um súbito clarão no céu que chamusca a carne, embranquece cabelos, te deixando com a impressão errônea de que não tem como isso acontecer novamente. Até que aconteça.

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Ouça o EP na íntegra aqui no Noisey e confira abaixo o papo que levamos com KzR.

Noisey: Pra começo de conversa, vocês tem um dos logos mais foda que vi nos últimos tempos. O que o inspirou?
KzR: Eu gosto bastante de simbolismo e grafismos pungentes, e era lógico que precisava criar um logo pra banda. Levando em conta o nome e suas referências à trovões, ataques e forças da natureza, queria algo que parecesse afiado, pontiagudo. Então o que temos é uma espécie de incorporação de estruturas rúnicas e trovões, por assim dizer. Deu um bom trabalho, mas deu bastante certo.

Como você descreveria a filosofia musical do Bölzer?
Acho que isso é bem simples. O foco é liberar o que sentimos. Não há conformidade em termos de gêneros – black metal, death metal, o que seja. Só componho riffs que me parecem certos. Geralmente eles se baseiam em climas e força. As músicas têm que me emocionar. Se com o riff não rola isso, se não me arrepia, não irei usá-lo. O objetivo é a ascensão – corpórea e espiritual.

Faz sentido. Não dá pra ouvir a banda e dizer “eles tocam death metal” ou “eles tocam black metal”. Vocês eliminaram isso do processo.
Acho que sim. Não é algo que buscamos fazer intencionalmente, não é um de nossos objetivos, de forma alguma. Mas a maioria dos músicos bem-sucedidos – os que gosto de ouvir, ao menos – todos pareciam ter criado ao menos aspectos de seus próprios estilos, e isso sempre me inspirou. Digo, quando alguém faz algo novo e atraente, geralmente não existem limitações de gênero.

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Sua primeira demo se chama Roman Acupuncture, um título fantástico. O que o inspirou?
É meio que um termo avant-garde pra crucificação [risos]. Eu não gosto de criar de forma direta, simples. Bom, às vezes gosto, mas teria que ser algo de bom de gosto. Nunca usaria o termo “crucificação”, por exemplo – ao menos não neste contexto. Mas adoro a língua inglesa e fazer jogos com as palavras. A letra da música em si é um tipo de interpretação moderna do conceito nietzschiano de curar a moralidade fraca. Queria brincar com isso em termos médicos.

Há diferenças claras na sonoridade entre seus dois EPs. A abordagem em Soma foi diferente da em Aura, lançado no ano passado?
Com certeza. Primeiramente, são dois lançamentos conceituais – tudo foi planejado previamente – e a ideia era que fossem lançados um após o outro para que se complementassem. Então Aura e Soma são uma mistura de nosso período inicial, retornando ao Roman Acupuncture, e material mais recente dos últimos dois anos. Eu queria encontrar uma relação temática entre as duas eras e lançá-la de forma conceitual. Essa pareceu a melhor forma de fazê-lo em relação ao que estamos compondo para o nosso álbum, porque eu realmente queria dividir as eras desta forma.

As diferenças na sonoridade são aparentes e também foram planejadas, e a relação visual é bastante óbvia em termos de arte e o que rola ali. Aquilo é baseado em imagens celtas antigas da Europa Central. Aura trata do metafísico e espiritual, enquanto Soma é sobre a carne e o aspecto terreno das coisas. Ambos brincam com morte e renascimento nesse sentido, e são completamente entrelaçados. Ao ler as letras com isso em mente, acho que faz um pouco mais de sentido.

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Parece-me que você está falando de dualidade.
Completamente, bicho. Sou obcecado por dualidade [risos]. Gosto muito de equilíbrio, o que se faz com ele. Há um equilíbrio, e pra mim, ao trabalhar com equilíbrio e dualidade, existe também um terceiro aspecto, uma terceira força. Pra mim, este é o “Eu” do ser. É meu canal. Sendo assim, nesse sentido, um mais um é igual a três, pra mim.

Porque você faz parte da equação também.
Isso. É como gosto de interpretar a coisa. Com a dualidade, se você se exclui da equação, não dá em nada. Ela existe, mas você não toma parte nela como ser consciente. Então pra mim, você se torna o terceiro em uma tríade, essencialmente.

É mais ou menos como aquela ideia de que a viagem no tempo não é possível porque se você voltar para um evento específico, ele mudaria pelo simples fato de você estar lá.
Com certeza. Pode-se comparar a isso. É um conceito muito amplo. Mas resumindo, é sobre isso que escrevo – mas de fora admitidamente abstrata. Não gosto de escrever nada de forma detalhada ou abrangente. O que importa é passar adiante aquele sentimento em mim em um pacote poético que me agrade.

Como você se interessou em dualidade?
Estudei numa escola que aplicava a pedagogia Waldorf. Ela era muito baseada em torno da natureza e dos seres humanos como unidade de trabalho. Havia muita mitologia também. Aprendíamos sobre diversas culturas, no que elas acreditavam, e no que ainda acreditam. Arte também era muito importante. Então tudo isso se juntou e criou um mundo muito colorido pra mim, acredito. Mais tarde, quando comecei a ler o que me interessava em história e filosofia, tudo pareceu muito claro: a natureza e os homens tem muitas semelhanças – características arquetípicas que compartilham. Isso pra mim foi o fundamento da dualidade.

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Agora você completou o lance conceitual com estes dois EPs. Como fica o futuro disco no qual você está trabalhando?
Começamos a compor coisas novas no decorrer do último ano. Nosso processo é muito lento – o meu, ao menos. Dou às composições muito tempo de gestação para que cresçam à sua maneira, então é importante pra mim começar a trabalhar certa ideia e então deixá-la de lado até que ela surja quando quiser. O resultado geralmente é bem melhor assim. Não gosto de forçar nada. Logo, estamos trabalhando em cima de uma terceira música. Nem todas estão prontas, mas estão começando a tomar forma. A intenção é não criar um álbum tão longo. Pra mim, o disco perfeito tem uns 40 minutos. Não faremos um disco de uma hora, de jeito nenhum. Terá seis ou sete músicas. E um cover foda também.

Seu processo é lento, mas os dois EPs foram planejados antecipadamente. Parece que você não tem pressa, ao contrário da maioria das outras bandas. Em geral lançam tudo muito rápido, colhem os louros como podem, e seguem em frente. Não é o seu caso.
Bem, eu tenho que aceitar o fato de que meu trabalho é lento. Então ficou claro que se quiséssemos fazer algo com a banda e tentar conseguir algum impulso – como aconteceu – teríamos que planejar os lançamentos de forma que não estragasse esse impulso. Então estamos fazendo o melhor que pudemos. De fato, Soma saiu atrasado. Deveria ter sido lançado há quatro meses atrás. Mas isso não é ruim, levando em conta que iremos gravar e lançar o álbum no ano que vem.

E por falar em impulso, há pouco vocês fizeram dois shows no Maryland Deathfest, e parece que o Bölzer e o Uncle Acid foram a sensação do festival. No seu caso, isso impressiona porque um de seus shows ocorreu ao mesmo tempo que o do At The Gates. O que você acha desta atenção em torno do Bölzer?
Bem, foi nosso primeiro show nos EUA e quando nos convidaram, sabíamos que haviam algumas pessoas interessadas no que estamos fazendo. Então foi ótimo termos podido tocar. Só havia um show planejado, mas fomos informados de última hora que uma banda não poderia tocar, e perguntaram se poderíamos substituí-los. Foi ótimo pra gente. A reação foi assustadora. Foi uma surpresa, é claro, mas o fato de que somos uma das poucas duplas tocando este tipo de som talvez deixe tudo mais empolgante para algumas pessoas.

Quais os prós e contras de estar em uma dupla?
Devo mencionar que pra mim são só vantagens! [risos] Nunca foi nossa intenção ser uma dupla – foi por conta da necessidade que acabamos não tendo um baixista. Mas adoramos esse desafio. Gostamos de encarar as dificuldades de compor como dupla e ter que preencher a sonoridade com só dois instrumentos. A parte logística é bem mais fácil com só duas pessoas, é claro, e somos melhores amigos, logo, trabalhamos bem em equipe. Contras? Bem, se algum equipamento meu falha no meio do show, tenho que dar um jeito de arrumar antes que possamos voltar a tocar [risos]. De resto, não lido com nada negativo.

J. Bennett queria ter estudado em uma escolar Waldorf ao invés de um colégio católico.

Tradução: Thiago “Índio” Silva