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Tecnologia

Conheça o Historiador Por Trás de 'Assassin's Creed Unity'

O jogo é uma das melhores formas de ensinar a Revolução Francesa para a molecada.
Crédito: Youtube

Não é de se surpreender que Laurent Turcot, um professor da Universidade do Québec, na Trois-Rivières, seja um cara detalhista. É por isso que a equipe por trás do jogo Assassin's Creed Unity o recrutou como historiador do último lançamento da franquia sobre mercenários, ambientado durante a Revolução Francesa.

Quando conversamos na festa de lançamento do jogo, Turcot não segurou a vontade de zoar os dois atores com roupas de época a alguns metros de nós.

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"Se você sair num encontro aqui, você pode ver coisas parecidas com essas [roupas]", disse Turcot sobre Paris, um lugar que é considerado a capital mundial da moda desde a Idade Média. "Naquele tempo, as pessoas queriam estar na vanguarda da moda."

Eu não consegui controlar meu impulso de fazer essa pergunta, e ele admitiu, com um suspiro, que os uniformes encapuzados usados pelos antiheróis da série Assassin's Creed iriam chamar tanta atenção quanto um donut em uma confeitaria parisiense na época da Revolução Francesa.

A maior parte das franquias bem-sucedidas são uma realização de algum tipo de fantasia. Mario Kart alegra aqueles que sempre quiseram dirigir em um arco-íris espacial. Grand Theft Auto, aqueles que sempre quiseram dar duplos twists carpados com um helicóptero militar e pousar em uma rua cheia de pedestres. Assassin's Creed, um jogo que não apoia o massacre de personagens inocentes, preza por seus cenários históricos, permitindo que jogadores façam parkour e mergulhem em montes de feno em diferentes pontos da história.

Os jogos anteriores levaram os jogadores para as cruzadas em Damasco, à Jerusalém, à Itália da Renascença, e para a Revolução Americana. O último jogo, Assassin's Creed Unity, para qual Turcot foi contratado, se passa em Paris, durante a Revolução Francesa, um local com potencial para ser recriado de forma extremamente fidedigna. Então porque não tentar?

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"O que eles queriam fazer era loucura", disse Turcot. "Na primeira vez em que eles entraram em contato, eu disse que o que eles queriam fazer era inimaginável. Seria como pegar uma cidade como a Nova Iorque do século 19 e recriá-la completamente. É muito complexo. São prédios demais. Eu disse pra eles desistirem. Aí fui vasculhar os arquivos de Paris e peguei as plantas de alguns prédios."

Turcot é um especialista nessa era, mas o nível de atenção necessário para esse projeto era insano. Ele viajou para Paris para vasculhar os arquivos da cidade. Como ele havia assinado um acordo de confidencialidade, ele não podia dizer para os funcionários que ele estava lá fazendo uma pesquisa para uma das maiores franquias do mundo dos videogames.

O trabalho de Laurent no jogo não estava relacionado ao roteiro, ou ao que ele descreve como a política por trás do jogo. Ele, um especialista na França do século 18, foi contratado para cuidar dos detalhes. Os pormenores. A arquitetura, arte, cultura e comportamento. Coisas que, com o passar do tempo, foram transformadas em estereótipos e ideias errôneas.

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Apesar de Paris ainda existir, o jogo não poderia apenas copiar sua aparência contemporânea, ou a sequência final de A História do Mundo – Parte 1, do Mel Brooks (mas se algum desenvolvedor de jogos quiser fazer isso, por favor, faça. Eu ia curtir demais). Um dos cenários mais importantes do jogo é a Bastilha, destruída em 1789.

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"A cidade de Paris do século 18 não existe mais", disse Turcot. "Reconstruí-la do zero, a partir de arquivos, pinturas, gravuras — esse era o meu trabalho. Mostrar toda essa cultura visual para os desenvolvedores. Criar uma forma de reproduzi-la."

Paris na época era, segundo ele, um "chiqueiro". Cheia de imundície, pobreza e fedor, e pior do que qualquer coisa que nós possamos encontrar hoje em dia. "Quando você jogar você vai entender" disse Turcot, "Paris é imunda, em todos os lugares."

Tendo dito isso, essa Paris não é apenas uma paródia de Os Miseráveis (apesar de Turcot afirmar que os parisienses costumavam cantar para zombar do rei). Entre decapitações na guilhotina e desordem, a vida continuava. As pessoas trabalhavam, iam a mercados— viviam suas vidas.

Turcot disse para compararmos com os grandes protestos atuais; é claro que a atenção se volta para essas demonstrações, mas a maior parte da cidade funciona normalmente. "O padeiro assava pão todo dia", disse Turcot. "As pessoas iam ao teatro. Dá pra ver isso no jogo."

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Dá para ver que Turcot está empolgado por ter recriado Paris como ela era há centenas de anos atrás. Ele compara seu trabalho com a publicação de um artigo em uma revista acadêmica; circular seu trabalho entre centenas de pessoas é considerado um sucesso no meio. Enquanto isso, Assassin's Creed Unity será jogado por milhões. Ele disse que a oferta foi como o Doutor Brown aparecendo em seu Delorean e levando-o para uma aventura, mas em uma época que ele passou a vida inteira estudando ao invés do Velho Oeste.

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Turcot disse que ele será o primeiro voluntário quando o holograma interativo for inventado: precisaremos de historiadores quando quisermos reconstruir o passado e apostar em um erro do programa de simulação que irá nos transportar para época de Maria Antonieta, Abraham Lincoln e daqueles dinossauros de Jurassic Park. Apesar disso não ser o ideal, Assassin' Creed Unity pode ser o máximo que muitas pessoas saberão sobre a Revolução Francesa, o acontecimento que deu origem à nossa atual política polarizada.

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Apesar da história do jogo envolver conspirações e assassinos misteriosos que controlam o rumo da história, Turcot está encantado com o resultado de seu trabalho. No caso, a cidade de Paris. Ele queria que a Ubisoft lançasse uma versão do jogo sem missões, história e personagens, no qual os jogadores pudessem flanar pela Paris do século 18 em toda sua glória virtual. Ele adoraria usar esse simulador para ensinar seus estudantes.

Em outras palavras, Assassin's Creed Unity pode ser o maior livro sobre a Revolução Francesa da história.

Tradução: Ananda Pieratti