As belas ilustrações do naturalista vitoriano que não acreditava em dinossauros
Crédito: Biodiversity Heritage Library

FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

As belas ilustrações do naturalista vitoriano que não acreditava em dinossauros

Mesmo com obsessões pouco científicas, Philip Henry Glosse foi um talentoso ilustrador.

O naturalista inglês Philip Henry Glosse, nascido em 1810, já foi descrito de muitas maneiras excêntricas: como cientista brilhante que acendeu o interesse vitoriano por aquários; como um "romântico carola" nas palavras de seu próprio filho; e como "aquele inglês louco que anda por aí caçando insetos", segundo seus contemporâneos.

Gosse marcou as comunidades científicas, artísticas e religiosas de seu tempo em grande parte graças à sua teoria religiosa de que, em vez de restos de animais pré-históricos, os fósseis seriam uma farsa teológica.

Publicidade

Obstinado e aparentemente incansável, Gosse deixou o condado de Dorset para conduzir pesquisas zoológicas em Newfoundland, Ontario, Alabama e Jamaica, documentando meticulosamente a biodiversidade de cada região com ilustrações e descrições elaboradas.

Crédito: Mann Library

Glosse também escreveu sobre questões sociais como a escravidão americana, uma instituição, segundo ele, "tão maligna" que o fez abandonar sua pesquisa no Alabama tão logo possível. Essa temporada no sul dos Estados Unidos o incentivou a treinar e empregar naturalistas e ilustradores negros, em especial durante sua estadia de dois anos na Jamaica.

Uma boa-da-jamaica e um lagarto anolis. Crédito: Philip Henry Gosse

Após seu retorno à Inglaterra, em 1846, Gosse tornou-se fascinado pela biodiversidade oceânica do litoral inglês, paixão que o inspirou a criar habitats transparentes que facilitassem a observação de espécies marinhas. Embora ele não tenha sido o inventor do aquário, Glosse cunhou o termo e foi uma figura essencial na popularização desses ambientes aquáticos, tanto nas esferas acadêmica quanto doméstica, em grande parte graças ao seu talento para a escrita científica.

Crédito: Biodiversidade Heritage Library

Gosse via sua enorme produção científica por meio de um olhar estritamente cristão. Sua maior obsessão era associar observações rigorosas do mundo natural às escrituras bíblicas.

Essa fixação culminou no polêmico Omphalos: Uma Tentativa de Desatar o Nó Geológico, um tratado publicado em 1857 no qual Gosse afirmava que os então crescentes indícios de que a Terra existiria há milhões ou bilhões de anos não eram mutuamente exclusivos à crença cristã de que a Terra teria apenas 10.000 anos.

Crédito: Biodiversidade Heritage Library

Em outras palavras, Gosse fundou a teoria de que Deus haveria plantado, deliberadamente, fósseis falsos na Terra e que portanto esses restos ósseos não comprovariam a existência desses exóticos seres pré-históricos. Além de ter sido um grande fracasso comercial, o livro foi amplamente criticado dentro da comunidade científica, numa prévia da mudança paradigmática que aconteceria com o lançamento, em 1859, de A Origem das Espécies, de Charles Darwin. Embora Gosse considerasse o Omphalos sua obra-prima, o livro feriu sua reputação de forma permanente.

Reputação científica à parte, Gosse continuou a angariar admiradores com suas ilustrações vívidas e curiosidade enérgica. Teve vida confortável até sua morte, em 1888. Seu legado vive nesses pequenos vislumbres da vida selvagem do século XIX e por meio das lentes ideologicamente multifacetadas com as quais ele a enxergava.

Tradução: Ananda Pieratti