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Tecnologia

Passei o fim-de-semana com um pessoal que ganha guito a videojogar

Um fim-de-semana dedicado aos e-sports.

Isto não é só o logo da PGS: o pessoal dos jogos está mesmo sempre aos berros. Uns passaram o fim-de-semana a descansar, outros a sair com os amigos, alguns a levar as namoradas ao cinema. A maioria dos restantes foi para a ModaLisboa beber copos. Eu passei-o num evento de videojogos. Num pavilhão com uma porrada de computadores e 20 e tal mil euros em prémios. Apresento-vos o Pro Gamer Series Exponor 2012. Acho que já vos tinha falado disto. Infelizmente, não tenho jeito para jogar nenhum dos jogos lá presentes (sou bom nos outros, juro), por isso decidi passar estes dias na treta com a malta que lá estava, e isto foi o que eu aprendi… O gajo da foto em cima (que não eu) é o “Duzt”, foi a primeira pessoa com quem falei e, quando lá cheguei, ele tinha acabado de fazer o último jogo da sua carreira. Falou-me da “cena” portuguesa e sobre o quanto esta evoluiu nos últimos anos. Pelos vistos, há uns anos, a malta dos joguinhos fazia quilómetros em transportes públicos para estar numa LAN HOUSE a jogar com o resto do pessoal da cena videojogatineira. Fez-me lembrar aquelas histórias que os nossos avós nos contam acerca do quão difícil era tudo “no antigamente”. Mas isso são tempos passados para ele, porque agora tem outras responsabilidades. Aprendi que o triângulo casa/namorada/cão é pouco compatível com videojogos e que ser gamer em Portugal, antigamente, era tramado! O intervalo grande da escola. Estou a brincar, isto também é na Exponor. Depois a conversa ficou mais séria (desculpa, “Duzt”). O Filip “NEO” Kubski é polaco, e é uma lenda viva do Counter Strike. Esteve uns tempos retirado e veio cá dar uma mãozinha a outra equipa, os place2play.ru. Partilhou comigo que, pelo menos do lado dele, as coisas eram melhores “no antigamente”. Outros jogos tomaram conta do mundo dos e-sports, e isso tornou a coisa um bocado mais difícil para os jogadores de CS. Os jogos mais recentes têm prémios consideravelmente maiores e dominam os eventos que os atiraram para segundo plano. Os prémios e patrocínios já foram maiores, a crise também os toca a eles. Existe uma versão nova do jogo, mas grande parte dos jogadores mostra-se relutante em transitar, o que resulta em algum cepticismo geral e uma consequente perda de popularidade. O Filip contou-me que espera continuar a jogar profissionalmente e que, a partir da próxima semana, vai começar a jogar a nova versão. A lenda viva dos headshots. O "NEO" com a equipa à qual se aliou. Perguntei a um dos organizadores do evento qual era a equipa mais divertida que lá estava. Ele direcionou-me para um gordinho simpático e a sua equipa, os GamerHouse. Tinham vindo do Brasil e, quando falei com eles, já tinham sido eliminados. Não pareciam muito preocupados, iam ficar cá uns dias a curtir e depois iam seguir para a Roménia. Desejei-lhes boa sorte, a Roménia não é um sítio muito fixe. Para eles, ser pro gamer é um bocado mais difícil: a net não é lá muito porreira em algumas regiões do Brasil, não vivem todos juntos e, para ajudar, as equipas de topo raramente se mostram disponíveis para treinar com as outras. É uma maneira de manter os outros “nivelados”. Aprendi que ser gamer no Brasil é tramado e que o pessoal das equipas de topo é meio porco. Mas estes não: os GamerHouse ganharam o prémio "equipa mais boa onda" do torneio. Dei mais umas voltas, e a custo próprio aprendi outra coisa. O bar da Exponor é caríssimo, parece um de aeroporto. Nunca bebam lá nada. Depois de pagar 1,70 euros por uma bebida de lata fui falar com outro português, o Diogo “sYz” Barbosa. Ele tinha acabado de receber o primeiro prémio do torneio de Starcraf. Fiquei um bocado confuso, sempre pensei que era preciso ser asiático para se ser bom no Starcraft — lá é tipo um desporto nacional. Na Coreia do Sul, enquanto ele viajava em competição, até lhe ofereceram um souvenir quando perceberam que era jogador. Estranho. Por cá a coisa ainda está muito longe disso, mas de momento ele ocupa-se exclusivamente com o Starcraft. Recebe um salário fixo que complementa com os ocasionais prémios. Não me pareceu nada mau. Além do prémio de primeiro lugar ganhou outro, o de “frase mais engraçada do fim-de-semana”, com o seu final de entrevista: “Eu nem gosto de videojogos.” Boa "sYz".

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Um momento de silêncio desconfortável durante a entrevista ao "sYz". Estás a fazer tudo mal, pá! Aprendi que a minha carga genética europeia não me inibe totalmente de ser bom no Starcraft e que muito menos preciso de gostar de alguma coisa para ser bom na mesma. Por esta altura o evento já estava no fim e, verdade seja dita, eu estava meio cansado. Jogar é muito mais divertido do que ver jogar. Disse ao Joaquim da Pro Gamer Series que me ia embora. Lembrei-me que, durante os quatro dias do evento (e na vida real), ele ia morrendo ao volante, que lhe tinham roubado o telemóvel e que tinha sido multado por excesso de velocidade, e que, mesmo no último dia, a ligação à internet do torneio tinha sido atacada por hackers desconhecidos. Depois de reflectir sobre isto durante um segundo, fiquei logo menos cansado. O meu fim-de-semana não foi assim tão difícil. Aprendi que também existem lobbies fodidos na cena dos videojogos e que todos têm medo de trocar um jogo, no qual já são bons, por um novo. Coragem, malta. É preciso arriscar. Aos Fnatic, o fim-de-semana correu melhor, saíram de lá com um daqueles cheques XXL, tipo concurso televisivo — nove mil euros, o primeiro prémio do torneio de CS, nada mau. Os NaVi levaram para casa o segundo lugar e os seus respectivos quatro mil euros. No CS:GO, a primeira posição foi para os portugueses K1ck, que arrecadaram três mil euros. Eu posso não ter ganho prémio nenhum, mas aprendi coisas bonitas. Despedi-me de toda a gente e segui para a festa de encerramento que a VICE organizou. Estava a precisar de jantar e de beber uns copos. Eu a precisar de uns copos. Mais Pro Gamer Series?
Ia jogar joguinhos, mas cheguei atrasado

Fotografia por André almeida