​Uma quadrilha pretendia ganhar dinheiro “fraudando” as eleições
Uma turma estava cobrando R$ 600 mil para se eleger vereador e R$ 5 milhões para prefeito, mas segundo a Polícia Federal, eles não tinham capacidade real de hackear as relativamente inseguras urnas eletrônicas. Crédito: José Cruz/Agência Brasil

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​Uma quadrilha pretendia ganhar dinheiro “fraudando” as eleições

Uma turma estava cobrando R$ 600 mil para se eleger vereador e R$ 5 milhões para prefeito, mas segundo a Polícia Federal, eles não tinham capacidade real de hackear as relativamente inseguras urnas eletrônicas.

Poderia ser uma história policial qualquer. Uma quadrilha é desarticulada por uma operação da Polícia Federal com nome diferentão. O caso seria esse, não fosse a promessa de eleger qualquer candidato com 10% de vantagem nas próximas eleições municipais.

O esquema foi desmontado na última terça-feira (13) e ocasionou a prisão preventiva de duas pessoas em Brasília (DF) e uma em Xangri-lá (RS). Além da conduções coercitivas em Xangri-lá, Canoas (RS) e Piripiri (PI) e buscas e apreensões em Canoas, Xangri-lá e Goiânia (GO). No momento, um dos membros do grupo é dado como foragido na cidade de Brasília, a base de atividades da quadrilha.

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A operação recebeu o nome de Clístenes, político da Grécia Antiga conhecido por seus trabalhos pela democracia. Apesar do nome com a referência histórica bacana, o maior risco que a quadrilha apresentava ao sistema político era tirar dinheiro de candidatos que quisessem "garantir a vitória" no pleito, conforme foi informado pela Polícia Federal.

Os valores cobrados pelo grupo variavam de acordo com a importância do cargo e a arrecadação do cidade onde a oferta era feita. No caso do município da região metropolitana de Porto Alegre (RS), de onde partiu a denúncia contra a quadrilha, o cargo de vereador custaria R$ 600 mil, enquanto a cadeira de prefeito, R$ 5 milhões.

Se condenados, os presos responderão pelos crimes de estelionato e organização criminosa, cujas penas somadas variam de quatro a treze anos de reclusão. "Serão encaminhados ao sistema prisional onde permanecerão à disposição da Justiça Eleitoral", comentou o Delegado Fernando Casarin, responsável pela operação, em coletiva de imprensa. Já os candidatos que tentaram tirar proveito do esquema terão suas "situações avaliadas caso a caso". Se for comprovado crime, estes poderão ter a candidatura impugnada e responder à Justiça Civil.

Imagem de apreensão realizada durante a operação Clístenes. Crédito: Polícia Federal

Segundo Casarin, "o que se constatou é que, na verdade, eles não passavam de um grande engodo". As investigações corriam em segredo havia dois meses e, segundo a fala do delegado, o grupo "não tinham a capacidade de adulterar as urnas eletrônicas."

Em nota divulgada pela Polícia Federal, a Secretaria de Tecnologia da Informação do TRE-RS garantiu que o único momento em que a chave de assinatura oficial dos sistemas é utilizada é durante a "cerimônia de lacração". Porém os programas são inspecionados para que "não haja como alguém gerar um programa malicioso para fraudar a eleição". Tornando assim, impossível adulterar o sistema.

Para o doutor em Ciências da Computação, Diego Aranha, a afirmação do TRE-RS "não é suficiente [para garantir a segurança do pleito] e incompatível com o observado nos testes das urnas eletrônicas de 2012". Na ocasião, Aranha coordenou a equipe de investigadores que testaram a segurança dos equipamentos. Os testes verificaram que o compartilhamento e armazenamento das chaves criptográficas era feito de maneira insegura, o que "abria a possibilidade de manipulação do software de votação por agentes internos ou externos, estes últimos com maior dificuldade."

Parece que não foi dessa vez que uma quadrilha consegue realizar uma fraude real na urnas. Mas, segundo Aranha, isto não é o suficiente para que o eleitor possa dormir tranquilo. Com as informações publicadas pelo TSE, "não é possível dizer se um ataque [como o proposto por esta quadrilha] é possível, se é fácil ou qual o nível de especialização seria necessário para fazê-lo", completou.