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Tecnologia

A triste expansão do mercado de órgãos de tigres na China

A demanda por produtos feitos à base de olhos e ossos dos felinos alimenta uma terrível indústria prestes a se tornar legal no país asiático.

Na China, há mais tigres em cativeiro do que na natureza. São milhares deles. Enclausurados, eles esperam pelo dia em que seus ossos virarão vinho e suas peles se transformarão em tapetes.

Ao longo das últimas duas décadas, a triste indústria dos tigres tem crescido de modo silencioso no país asiático. Desde a semana passada, porém, a impressão geral é a de que o comércio dos grandes felinos está prestes a se tornar algo legítimo.

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Na última sexta, o Washington Post noticiou que uma emenda à lei de proteção à vida selvagem chinesa legalizaria a criação de animais em risco de extinção. Antes, tais criações eram irregulares e operavam à margem da lei. A nova prática permitirá que o governo as monitore.

A lei, divulgada em 1º de janeiro e agora sob análise, se aplicará a tigres em cativeiro que são mantidos como entretenimento, bem como tigres criados para terem seus órgãos colhidos.

Além de ser um tremendo golpe aos esforços de preservação, a nova lei é um lembrete de que um enorme mercado de órgãos de animais selvagens segue prosperando.

Peter Knights, CEO da organização de preservação da vida selvagem WildAid, disse que a lei deveria servir de oportunidade para modernizar a legislação atual. Em vez disso, "ela protege os interesses de um grupo de comerciantes ao promover a criação em cativeiro em condições muitas vezes péssimas".

"A criação de ursos e tigres tem sido desastrosa para a reputação internacional da China e esta era uma chance de dar cabo, não encorajar tais práticas", disse Knights ao Motherboard.

Produtos à base de tigre apreendidos pelo US Fish and Wildlife Service. Crédito: USFWS Mountain-Prairie/Flickr

Em 1986, a população de tigres na China era de apenas 20 animais. Hoje é de cinco mil. Não faz muito tempo, o comércio de órgãos de tigre foi considerado de "escala industrial". Para se ter uma ideia, em 2013 já haviam 200 criações de tigres documentadas no país, de acordo com relatório pela entidade sem fins lucrativos Environmental Investigation Agency.

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Embora olhos, genitais, presas e bigodes dos felinos sejam usados por vezes por causa de suas supostas propriedades medicinais – como tratamento de alcoolismo e epilepsia – os ossos de tigre é que dão grana mesmo. Os caríssimos ossos são mergulhados em vinho de arroz para criar um suposto afrodisíaco que dizem ajudar no tratamento de moléstias como a artrite e é servido como símbolo de status em jantares e demais eventos.

Uma garrafa do vinho, de acordo com o Munchies, pode custar entre 80 e 290 dólares, dependendo do tempo de maturação.

Patas e peles também vendem bem no mercado internacional – e os tigres não são os únicos alvos na China. Os ursos muitas vezes fornecem bile valiosíssima. Ela pode ser extraída com os animais vivos. Os animais também são procurados por suas garras, que podem então ser secadas e facilmente enviadas. Os produtos, mais uma vez, são usados em práticas de medicina tradicional, mesmo não havendo muitas evidências de benefícios reais.

Com a nova lei – batizada de "lei de utilização da vida selvagem" – no lugar de uma lei de proteção, os animais, muitos deles em risco de extinção, valerão ainda mais para seus criadouros.

Tradução: Thiago "Índio" Silva