Passei um dia na Equinox, a academia milionária

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

Todas as fotos por Jake Lewis.

"Não reze pra Jesus, meu amor — Jesus está ocupado na aula de spinning."

Estou na aula de ginástica pro bumbum "Best Butt Ever" na academia Equinox de South Kensington, em Londres, ouvindo os gritos de Hugo Diaz, que é o equivalente humano de uma regata néon pink escrito NO PAIN NO GAIN. "Curta a dor; vocês estão pagando por isso", ele grita para mim e outras 20 mulheres enquanto fazemos levantamento de quadril.

A Equinox de Beverly Hills sempre teve uma clientela lotada de celebridades. Foi onde Lindsay Lohan escolheu treinar depois do rehab, e lugar onde é possível ver Paris Hilton, Khloe Kardashian e Ashley Tisdale entrando em 4x4s depois de sessões de Cardio Pump ou Vinyasa Yoga.

No entanto, foi só quando Kanye West cantou: "I need every bad bitch up in Equinox / Wanna know right now if you a freak or not", na música "Highlights" do disco Life of Pablo, que a marca de malhação entrou no cânone da cultura pop, assim como abdominais de oito minutos e a SoulCycle antes dela.

Apesar de malhar regularmente, minha rotina fitness envolve vídeos de cinco minutos no YouTube, nos quais aprendo a usar o sofá como degrau e enlatados como pesos. Com uma anuidade inicial no modesto valor de £2.400 [quase R$10 mil], a Equinox está um pouco fora do meu orçamento. Então, quando me ofereceram um dia grátis na academia, fui direto para oeste de Londres ver qual era.

De volta na aula de Hugo, uma mulher na frente começa a gritar uma contagem regressiva, no que assumo ser uma tentativa de acabar com a dor mais cedo. Hugo marcha até ela. "Não, não, não, não", ele diz, balançando o dedo. "Eu sou o chefe aqui, queridinha." Mas onde Hugo repreende, ele também perdoa. Uma garota no canto está estatelada no chão; Hugo vai até ela e segura sua cabeça entre as palmas das mãos, como o Papa saindo de seu Fiat 500 para confortar um nenê que chora.

Antes de passar pelas portas, eu imaginava que as mulheres da Equinox eram o tipo de mina que você vê dançando no fundo de um clipe do Fetty Wap, todas com selfies de bunda no Instagram e roupas de ginástica que custaram mais que minha educação. Na verdade, a aula "Best Butt Ever" foi pensada principalmente para mulheres mais velhas que passam o dia escolhendo verduras numa feira de orgânicos. Mas as roupas de ginástica delas pareciam bem caras mesmo.

A autora e Hugo.

Quando a aula acaba, uma das mulheres me aborda, provavelmente percebendo que sou de fora porque estou visivelmente impressionada com o chão de madeira escura.

"Ele não é incrível?", ela sorri, agarrando meu braço tão forte que a gordura vaza entre os dedos dela. "A aula do Hugo é 'divertiva', divertida e educativa. É uma coisa que dizemos lá em Nova York. Por isso eu amo ele."

"Nas minhas aulas da noite tenho que colocar um guarda-costas na porta", diz Hugo. "As mulheres que esquecem de colocar o nome na lista de convidadas tentam entrar de fininho."

Essas mulheres não frequentam a aula do Hugo porque querem perder alguns quilos; a Equinox parece mais uma religião. Assim como em rituais de fé convencionais, as pessoas estão tentando conseguir um sentimento transcendental com exercícios. E eu entendo: tem excesso de serotonina saindo pelas minhas orelhas. É uma sensação engraçada e deliciosa.

Depois da aula, saio para dar um passeio pelo prédio. Com suas domas elípticas e pilares grossos brancos, a Equinox parece uma igreja metodista modernosa. O chão da academia é acolchoado, então é como andar em nuvens — uma nuvem muito simpática com os seus tendões.

Uma coisa interessante: nenhuma das propagandas da Equinox mostra pessoas se exercitando; uma mostra uma mulher lindíssima amamentando dois bebês, outra mostra um cara coberto de abelhas. Parece mais uma campanha de moda que promoção para um lugar onde você escolhe ir para punir seu corpo. E isso não é particularmente surpreendente: como a página deles no Facebook sugere: "A Equinox não é apenas um clube de fitness, é um templo do bem-estar".

De volta à academia propriamente dita, a relações-públicas Hannah me mostra os equipamentos. "A equipe de manutenção limpa tudo diariamente", diz ela, gesticulando para a poeira que se juntou em baixo das máquinas. "Não entendo como fica tão sujo." Parece que as pessoas malham tanto na Equinox que trocam de pele como cobras.

Há uma falta notável de bombados aqui; em vez disso, você encontra pessoas que Hannah chama de "high performance livers". Com isso, acho que ela quer dizer pessoas que buscam o melhor jeito de cuidar de si mesmas, não realmente abstêmios. Outra coisa que não consigo deixar de notar é que os homens aqui olham para o meu corpo de maneira totalmente dessexualizada, comparado com as outras academias em que estive. Sou um músculo desligado de tudo mais.

Os banheiros da Equinox são coisa de sonho erótico de blogueira de beleza. Eles têm toalhas com cheiro de eucalipto entregues em várias temperaturas, o que me garantem ser o "aroma marca registrada" da Equinox; uma sauna; e produtos Kiehl's nas torneiras, então você pode trazer uma Tupperware, encher de sabonete líquido e sair com um suprimento de uma semana de produtos de luxo (mas se você é mão de vaca nesse nível, vou supor que você não é o cliente-alvo da Equinox).

Depois de um tempo, sou incentivada a almoçar.

"Você já tomou o café da manhã?", pergunta um dos garçons.

"Comi um pouco de cereal de manhã."

A dor de ouvir isso contorce o rosto dele.

Logo ele me traz água mineral islandesa, uma salada de salmão e abacate, e um smoothie detox. Na minha frente, uma senhora está comendo uma maçã com garfo e faca, como se isso se qualificasse como refeição.

À tarde, vou para a aula de regeneração de tecidos de Rory Knight. Saem as mulheres magras carentes; entram os tipos mais espirituais.

Depois vem uma aula de pilates, na qual sou amarrada no que parece um aparelho que você encontraria numa festa de BDSM.

Aí me levam para experimentar algumas roupas da boutique Equinox. Geralmente eu malho com a bermuda de futebol do meu colega de apartamento, então me sinto meio perdida entre marcas como "Fitness Gangster". As roupas são tão estilosas e estruturadas que você poderia usar na balada e ninguém ia notar que é Lycra.

Pego uma legging com estampa de cobra. "Desculpe, acho que a gente não tem essa do seu tamanho", diz o representante de vendas Marlon, o que é engraçado porque uso tamanho 40. Acho algumas outras peças que eles têm no estoque do meu tamanho. Marlon começa a escolher alguns looks para mim, um deles incluindo uma bolsa de mão. Me sinto uma boneca Bratz com um novo pacote de expansão.

O Lounge parece o que eu imagino que seja a área VIP do Terminal 5 do Aeroporto Heathrow. Por todo lado você vê cópias da Esquire e livros de arte, posicionados como peças numa exposição. A Equinox, percebo, é basicamente um clube particular para o pessoal endinheirado que não quer morrer antes dos 55 anos.

"As pessoas ficam aqui o dia inteiro", diz Hannah. "Elas fazem uma aula pela manhã, almoçam, trabalham um pouco no Lounge e ficam para uma sessão noturna. Temos todos os produtos que você precisa no banheiro, então não precisa trazer muita coisa."

Se eu gostaria de ser um membro? Sim. É bom que seja uma coisa que não posso pagar? Provavelmente. Não quero chegar num ponto onde acabe morando na academia, substituindo minha personalidade por um regime de 12 horas de exercícios. Mas é legal me pavonear aqui por um dia, sentindo como se isso fosse totalmente normal.

E, se fosse possível, eu gostaria de recrutar a equipe do Hugo de senhoras malhadas como minhas gurus pessoais de estilo de vida.

Tradução: Marina Schnoor

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