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análise

O bom "revoltado", a má perdedora e o anti-vilão

Setembro nem é peixe nem é carne, mas este até tem andado animado. Fazemos um balanço rápido da coisa.
(Da esq. para a dir.) Frederico Varandas, Serena Williams e Luís Filipe Borges. Um destes é danado para pastéis de nata... (Fotos via FB, excepto Varandas via "Camarote Leonino")

Por significar a transição entre "fazer népia" (vulgo férias grandes) e a monotonia de "mais um dia" com os habituais compromissos, Setembro nem é peixe nem é carne. De forma a não teres um adeus doloroso ao primeiro sentimento, relevamos cinco tópicos para actualizares os temas que têm estado na berlinda (uns mais que outros).

Há boa disposição, atitudes inaceitáveis, esperança, provocações e uma introspecção grandiosa.

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1. A Revolta dos Amigos da Bola

Esquece a corrupção, esquece o Pacheco Pereira e as suas considerações de que os "donos do futebol" português são mafiosos. Num programa recentemente estreado n'A Bola TV ("Amigos da Bola", sextas, às 19h00), Bruno Ferreira, Luís Filipe Borges e Vasco Correia, tratam deste desporto de forma bem humorada, como se estivesses numa conversa com compinchas que apoiam os três suspeitos do costume. Em vez de insultos gratuitos, atacam com piadas; contra os gritos e a polémica, defendem-se com gargalhadas e sarcasmo.

De maneira leve e ao longo de quase sessenta minutos (ver excerto no vídeo acima), o sportinguista, o benfiquista e o portista, debatem os assuntos do momento. Entre rubricas fixas, como o "Isto é Meme assim", giram o esférico com trocadilhos, teorias e "bocas" de deixar o José de Pina com saudades de voltar a ser residente num painel de comentadores. A estratégia do trio que junta um açoriano a dois alentejanos, inclui ainda a alusão aos cromos do nosso burgo futebolístico ("Cada macaco no seu mangalho" é dito por um Jorge Jesus fictício) e a marcação de "autogolos" que purificam a alma. Até porque gozar com os telhados de vidro da equipa favorita - e as fortunas gastas em "Luisões", "Castaignos" e "Adriáns" -, é saber brincar com os nossos próprios defeitos.

2. De serena, ela não teve nada

Epá, parem com isso. De dizer que Serena Williams foi maltratada propositadamente pelo árbitro português, de ter sido prejudicada pelo facto de ser mulher ou de ser negra. Quem assistiu à Final do Open dos EUA entre a campeoníssima norte-americana e a japonesa Naomi Osaka, sabe que o folhetim daí surgido explica-se por esta cena básica: o mau perder da mais nova das irmãs Williams. Durante o primeiro set (derrotada por 3-6), revelou sinais de desânimo com a sua actuação e, por inerência, chateada por ver uma jovem de vinte anos estar por cima sem apelo nem agravo.

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No set decisivo - na óptica da mais experiente -, os nervos vieram à tona e foram visíveis ao olhar do público no Estádio e dos telespectadores. O árbitro Carlos Ramos (que é conhecido por ser igualmente rígido com estrelas masculinas) advertiu-a correctamente por ter recebido instruções do treinador e, mais tarde, além de chamar "ladrão" e "mentiroso" a quem conduzia a partida, a jogadora quebrou a raquete de forma estrondosa - ver vídeo acima. Por momentos, fez lembrar os "grandes" do nosso futebol que visam a arbitragem a cada fracasso somado. Raramente os erros pessoais ou dão mérito ao adversário.

O torneio de Ténis, disputado em Nova-Iorque, está a ser excessivamente noticiado por este comportamento inadequado (Serena foi igualmente multada em 15 mil euros), quando houve dois factos desportivos inolvidáveis. A estreia dos nipónicos como detentores de um título do Grand Slam e a portentosa exibição do austríaco Dominic Thiem, no embate que levou Rafael Nadal às meias-finais.

3. Varanda(s) com vista para a idoneidade e sem espaço para vilões

O calvário do Sporting parece ter encerrado portas ("parece", porque de Bruno Carvalho nunca se sabe - ver a caricatura assinada por Herman José, no clip acima). O novo presidente foi eleito e o clima é respirável para os lados de Alvalade. O vencedor Frederico Varandas e o segundo candidato com mais votos, João Benedito, interpretaram extremamente bem os seus papéis. O médico a deixar claro que pretende protagonizar uma liderança diferente da anterior e o empresário (e ex-atleta) a apelar à união de todos simpatizantes e sócios.

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Como é apanágio de quem entra, Varandas não se coibiu de prometer a conquista do campeonato. Atendendo a uma primeira Liga em pantanas (o Benfica viu-se acusado no E-Toupeira, o Moreirense foi suspenso por um ano e as "águias", tal como o Braga, podem ter de disputar jogos em casa, com a porta fechada), já bastaria que fosse idóneo. É que está difícil de encontrar dirigentes credíveis nesta modalidade.

4. E que tal um "Who is Portugal?"

Por não ser consumidor da TVI generalista, estava tentado a atirar com um "Who the f*** is Cristina Ferreira?". Nada contra a moçoila apelidada de "CF7" (por ser rainha das audiências e ter protagonizado a transferência mais badalada do Verão, ao ser recrutada pela SIC), mas no pequeno ecrã prefiro champanhe a vinho tinto da tasca - citando a "linguagem Sérgio Conceição".

Who is America?, série/comédia documental da Showtime, que passou recentemente no TV Séries, demonstra o quão idiota podem ser as figuras públicas. Com exageros em determinadas entrevistas, Sacha Baron Cohen (Borat, Ali G) encarna personagens com o intuito de provocar e ridicularizar políticos, cientistas ou gente do showbiz. Houve quem acabasse por se demitir (ver vídeo acima), um famoso que evitou cair na esparrela de admitir o "expectável" (OJ Simpson), a galerista que cortou meia dúzia de pêlos púbicos em nome da "arte", ou quem se sentisse ofendido e processasse o actor/autor em 95 milhões de dólares. Resta o óbvio. Para quando algo semelhante em Portugal?

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5. A reflexão tem mais encanto no Planeta Mercúrio

Em 1998, houve discos de alto quilate, casos de Moon Safari, dos Air; The Miseducation of…, de Lauryn Hill; Mezzanine, dos Massive Attack; ou The Boy with the Arab Strap, dos Belle & Sebastian. A grande diferença de Deserter's Songs, dos Mercury Rev, para os demais concorrentes, é ser um conjunto de faixas onde o silêncio e os fantasmas pessoais casam de maneira grandiosa, remetendo a introspecção para belas sinfonias e intermináveis cigarros.

Uns anos antes da gravação e com uma banda marcada por um passado com mortes de familiares, problemas com álcool e drogas ou a alta tensão entre membros em palco, o guitarrista Grasshopper acabou por fazer um retiro de seis meses numa instituição jesuíta. Felizmente, os Mercury Rev tiveram força anímica para se reunirem e o seu rock psicadélico reapareceu em tom dreamy - ouvir a canção "Tonite It Shows" no vídeo acima. Os norte-americanos homenageiam o memorável álbum de originais (ao todo são oito desde 1989), a 27 de Setembro (quinta-feira, 22h30, bilhetes a 26 euros), na discoteca Lux, em Lisboa. Imperdível.


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