FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

Cientistas Propõem o Primeiro Sistema para Experiências com Engenharia Climática

Um integrante da Sociedade Real de Londres revelou uma proposta para se criar o primeiro sistema para experimentos futuros em geoengenharia.
Crédito: Mikkael Haggstrom

Um integrante da Sociedade Real de Londres, a mais antiga editora científica do mundo, revelou uma proposta para se criar o primeiro sistema para experimentos futuros em geoengenharia.

É um sinal de que medidas ainda consideradas arriscadas e drásticas no combate à mudança climática, como a injeção artificial de pequenas partículas na atmosfera terrestre para refletir a luz do sol de volta para o espaço, estão aos poucos entrando no campo de ação da ciência mainstream. O majestoso órgão científico fez uma chamada para criar "um sistema de revisão aberto e transparente que garanta que tais experimentos tenham a licença social necessária para operarem".

Publicidade

O professor Steve Rayner, codiretor do Programa de Geoengenharia de Oxford, divulgou o que foi batizado de a "Declaração de Berlin", na maior conferência de engenharia climática, que neste momento está ocorrendo na Alemanha, incluindo cientistas do clima de ponta, legisladores e estudiosos de geoengenharia.

O projeto, em sua iteração atual, afirma que "Novas tecnologias tem o potencial de fornecer benefícios significativos à sociedade, mas estas também podem ser controversas. De fato, as controversas em torno de novas tecnologias geralmente tem levado à reações negativas contra seu desenvolvimento, como visto nos campos dos organismos geneticamente modificados e da energia nuclear". Você pode ler o texto integral aqui – o mesmo foi distribuído na Conferência de Engenharia Climática em Berlin, de onde estarei escrevendo durante toda a semana.

Ele tem um foco maior em um subgrupo de projetos de geoengenharia chamados de gerenciamento de radiação solar, o que inclui propostas como clarear nuvens sobre o oceano e enviar pequenos espelhos para a órbita e assim desviar a luz do sol. Os projetos maiores, que entram nesta categoria, inspiraram comparações com planos muito similares ao de vilões como o Dr. Evil.

"A emergência de interesse em geoengenharia climática, definida amplamente como a manipulação deliberada em grande escala do ambiente planetário para reagir às mudanças climáticas, provou controvérsias acerca da praticidade e inteligência de tais ideias", consta no documento.

Publicidade

Durante uma entrevista, Rayner me disso que o texto foi inspirado, em partes, por uma falha no empreendimento prévio da Inglaterra com experimentos em engenharia climática, o projeto conhecido como SPICE (Injeção de Partículas Estrastosféricas para Engenharia Climática, em tradução livre). O procedimento teria levado um balão meteorológico a um quilômetro no céu para borrifar 150 litros de água na atmosfera, em uma tentativa de simular o efeito de resfriamento de erupções vulcânicas.

Gráfico: SPICE

O impacto do experimento seria insignificante para o clima, mas causou protestos por parte do público, e foi em eventualmente cancelado por razões alheias. Rayner afirma que os cientistas interessados no estudo da geoengenharia tem que aprender com este fiasco, e certificar-se de que experimentos futuros sejam cuidadosa e responsavelmente examinados, tanto pela comunidade científica quanto pelo público.

"Temos que ser muitos cuidados nestes passos iniciais", disse a mim, para criar "um caminho pragmático" para experimentos em engenharia climática. Ele denota que a maior parte dos experimentos na área que estão sob consideração são tão pequenos em escala que "não poderiam ter, concebivelmente, qualquer impacto na atmosfera", mas que os cientistas precisam levar em conta "as consequências sociais e políticas". Ele afirma que, junto de seus colegas, havia a preocupação de estar transformando certas coisas "que deveriam ser impensáveis em pensáveis", mas que com ou sem um sistema, os cientistas iriam conduzir estes experimentos, e melhor seria fazê-lo de forma controlada de forma a manter o público informado.

Publicidade

Já o Dr. Ken Caldeira, proeminente cientista atmosférico norte-americano que também participa da conferência, teme que o documento mostre-se como algo sufocante para a ciência climática. É amplamente definido demais, afirma, e poderia acabar impedindo pesquisas apenas marginalmente relacionadas à geoengenharia, caso futuros reguladores se oponham.

"Há a possibilidade real de que esta governança, ou regulamentação, possa atingir a ciência climática", afirmou. Os reguladores poderia, por exemplo, não considerar a sequestração de carbono (o ato de bombear a poluição para o subterrâneo) como geongenharia, mas decidir que pintar telhados de branco (outra proposta de geoengenharia, menos controversa), é sim.

"Como você define 'trabalho experimental com tais técnicas'?" Caldeira comentou, referindo-se a um trecho do texto que parece vago demais. "Acho que acabará sendo mais problemático do que bom".

A proposta já causou um debate aquecido entre os cientistas e analistas em Berlin, e sua aceitação e publicação seguem pendentes. Mas Rayner crê que, ao menos como tópico de discussão e experimentação, a geoengenharia chegou pra ficar.

"Há uma década, 'nanotecnologia' era uma palavra que estava na boca de todos", disse durante uma mesa redonda. Agora falamos mais sobre as aplicações específicas da nanotecnologia, porque já é algo comum. Rayner acredita que o mesmo acontecerá com a geoengenharia – ela se normalizará. "A minha previsão é de que a palavra 'geoengenharia' entrará em desuso, e será substituída pela discussão de tecnologias mais específicas".

Tradução: Thiago "Índio" Silva