O Fim do Crescimento Desenfreado: Parte 2
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Tecnologia

O Fim do Crescimento Desenfreado: Parte 2

Preocupado com as mudanças climáticas e outras crises que vem por aí? Muito bem: essas crises significam que nós temos uma oportunidade única de mudar o mundo.

Preocupado com as mudanças climáticas e outras crises que vem por aí? Muito bem: essas crises significam que nós temos uma oportunidade única de mudar o mundo.

Na minha última publicação, falei um​ pouco sobre o importante livro de Mauro Bonaiuti, economista da Universidade de Turim, sobre as origens da atual crise do capitalismo e sua origem em uma crise ambiental mais complexa. O modelo de "crescimento desenfreado" e de acúmulo material infinito no qual vivemos está, cada vez mais, ultrapassando os limites naturais e ambientais da biosfera — e as consequências são devastadoras.

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Bonauiti não é o único que acredita nisso. Ele representa um crescente movimento de economistas e cientistas que estão apontando a necessidade de reestruturação do sistema capitalista; isto é, se quisermos manter nossa prosperidade e salvar nosso planeta. O pseudo-debate sobre o que 2015 nos reserva — renascimento ou recessão — ignora o verdadeiro problema: o fato de que a crise econômica global é simplesmente uma fase do longo declínio de um paradigma que deixou de ser proveitoso.

LONGE DE SIGNIFICAR O FIM DOS TEMPOS, A CONTÍNUA FRAGILIDADE DA ECONOMIA GLOBAL É UM SINTOMA DE UMA GRANDE MUDANÇA

Longe de significar o fim dos tempos, a contínua fragilidade da economia global é um sintoma de uma grande mudança. Estamos em uma nova era de crescimento reduzido e austeridade: tudo graças à biosfera, que está nos apresentando as consequências de nosso abuso ao meio-ambiente.

Essa transformação fundamental traz algumas mudanças significativas, que por sua vez oferecem grandes oportunidades de transformações sistêmicas que podem beneficiar a humanidade e o planeta. Essas cinco revoluções estão interconectadas: são elas a revolução da informação, a alimentícia, a energética, a financeira e a ética. Essas mudanças estão criando oportunidades para que as comunidades inventem, coletivamente, novas formas de funcionamento. Esse é o ano em que podemos descobrir que a disrupção do capitalismo é, em si, uma pequena peça de um momento decisivo na transição para um paradigma pós-industrial e pós-capitalista.

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A REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO

O mundo está, muito claramente, à beira de uma enorme revolução tecnológica na área da informação; esta já transformou, ao cabo de alguns anos, a forma como nos relacionamos, e a previsão é que as mudanças aumentem nas próximas décadas. Um vislumbre de algumas dessas mudanças, e a possibilidade de usá-las de modo ofensivo, pode ser observada nesse artigo sobre o plano de reforma da defesa do Pentágono.

Até o momento, os maiores impactos da revolução da informação foram a descentralização da infraestrutura da comunicação mundial, a crescente interconexão de diferentes países e comunidades, e, consequentemente, a disponibilização de inúmeras fontes de informação, muitas delas gratuitas, para o público.

É claro que não estamos falando de uma pequena vila global. O acesso à internet está longe de ser universal, e existem novas batalhas a serem lutadas — ilustradas na impunidade das agências de inteligência associadas à grandes empresas e os esforços dos magnatas de telecomunicação e governos para encontrar novas formas de controlar e censurar a internet.

Mas isso é, em grande parte, uma resposta à crescente inabilidade de controlar a incontrolável e descentralizada dinâmica da revolução da informação. Sabemos que as agências de inteligência estão correndo atrás do prejuízo, pois se tornou claro que as mídias sociais podem ser utilizadas para propagar ideias políticas radicais. Essas plataformas são utilizadas para aumentar o alcance de movimentos sociais capazes de derrubar regimes militares repressivos que, por acaso, são nossos aliados mais próximos (alguém se lembra do Egito?)

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De forma semelhante, a tentativa de desativar o Pirate Bay também foi em vão. No momento em que o mandado de desativação foi emitido, centenas de sites similares ao Pirate Bay foram ao ar, mostrando que é literalmente impossível eliminar o maior portal de pirataria do mundo. O último ataque aos servidores do Pirate Bay, localizados na Suécia, resultou na criação imediata de um "clone" do falecido Pirate Bay, criado pelo Isohunt, um site concorrente. Em 2012, o site já havia se tornado mais compacto e fácil de hospedar. Atualmente, Bruno Kramm, representante alemão do Pirate Party, criado após a primeira queda do Pirate Bay em 2005 para promover o a troca livre de informações pela internet, afirmou que o site será reaberto, agora com múltiplos servidores. "Isso quer dizer que toda vez que o Pirate Bay for derrubado, nós o multiplaremos", disse.

É essa liberdade de informação, tanto em acessibilidade quanto em custo, que está destruindo os tão tradicionais modelos da telecomunicação e de mídias impressas.

Esses meios são zumbis. Os membros da nova geração não leem jornais, e não assistem aos noticiários. Eles se informam através de programas do YouTube, garimpando suas notícias de várias plataformas digitais alternativas e comerciais — tudo isso enquanto compartilham dados através de redes sociais como o Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp, Snapchat, Vine, Tumblr e outros. E esse é o grande motivo por trás do declínio dos modelos tradicionais e da grande mídia.

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Apesar de seus tropeços, a revolução da informação já possibilitou inúmeras oportunidades para a mídia alternativa, democratizando o acesso à informação e conectando pessoas, comunidades, movimentos sociais e nações. Vide a rápida proliferação, em especial nas última década, de sites de notícia alternativos, blogs, plataformas de notícias comunitárias e exemplos de jornalismo digital financiados pelos próprios leitores.

Esse processo já está diminuindo a relevância dos caminhos que a informação costumava percorrer. Estamos vendo a criação de um espaço de engajamento público e de novos modelos de mídia digital, um progresso que se torna cada vez mais difícil de conter, especialmente conforme a criptografia e as ferramentas de privacidade se tornam cada vez mais comuns e acessíveis.

A REVOLUÇÃO ENERGÉTICA

Como eu já disse em outro texto, o sistema de combustíveis fósseis está dando seus últimos suspiros. Os custos da produção de petróleo, gás natural e carvão mineral aumentaram, e o mercado não pode pagar os preços necessários para manter o lucro dos gigantes do mercado de combustíveis.

Mark Lewis, ex-chefe de pesquisa energética do Banco Alemão, aponta que a indústria está investindo "em taxas exponencialmente maiores para quantidades cada vez menores de energia".

Nesse ano a Administração de Informação Energética descobriu que, em decorrência dessa inflação na energia, as principais empresas de combustíveis do mundo estão contraindo uma dívida mesmo antes da próxima crise do petróleo. A dívida desse setor aumentou US$ 106 bilhões até março do ano passado; enquanto isso, o mercado vendeu US$73 bilhões em ações para cobrir os crescentes custos de produção. "Os alarmes estão soando. Os investidores sabem que essa situação é insustentável", Lewis disse para a Telegraph. "Eles estão começando a se perguntar se não seria melhor devolver o dinheiro para os acionistas e diminuir as empresas."

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Enquanto o império dos combustíveis desaba, as tecnologias de energia renovável (em especial a energia solar e eólica) estão cada vez mais acessíveis e eficientes. De acordo com o empresário e professor de negócios de Stanford Tony Seba, que prevê um monopólio da energia solar nos próximo 15 anos, o Retorno Energético, conhecido como EROIE, da energia solar é bem maior do que o dos combustíveis fósseis.

Seba me contou que o cálculo convencional do EROIE pode levar à conclusões errôneas, já que ele ignora custos críticos e taxas externas, especialmente no uso de terra e água, e na produção de resíduos e poluição. Aplicando o conceito de Tempo de Recuperação de Energia (EPBT, na sigla original) à painéis solares fotovoltaicos — no caso o EPBT refere-se ao tempo necessário para produzir a mesma quantidade de energia utilizada para instalar os painéis — Seba acrescenta que as novas películas fotossensíves irão devolver toda essa energia em apenas um ano. Após esse ponto, a energia é, para todos os efeitos, gerada gratuitamente. Se um painel com essa tecnologia gerar energia por 25 anos, o seu EROIE final será 25. "Esse número é bem maior do que os resultados obtidos através da maior parte de fontes de energia, incluindo o petróleo, o gás natural, a energia eólica e a energia nuclear", afirma Seba.

Seba também acrescentou que os painéis fotovoltaicos podem durar muito mais do que 25 anos. A produtividade desses painéis decai cerca de 0.5% por ano, o que significa que mesmo depois de 60 anos, eles gerariam energia a 70% de sua capacidade. O EROIE seria, portanto, entre 50 e 60. Imaginando que em 2020 o preço desses painéis irá cair cerca de dois terços, podemos supor que, nesse ano, o EROIE da energia solar será ainda maior, chegando até a 150. Imaginando que a eficiência e a capacidade da tecnologia solar continuarão evoluindo (em uma taxa de 22% a cada 2-3 anos), podemos prever que o EROIE da energia solar irá atingir a casa dos três números — e melhorar cada vez mais.

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Os combustíveis fósseis não são páreo para a energia solar. Com a queda dos custos da energia solar, empresários e comunidades estão migrando para essa energia barata e democrática — e entrando em um meio onde a energia é literalmente gratuita. Quando somado às novas soluções de armazenamento e preços em baixa, a velha ideia de ser dependente de um sistema caro e centralizado que utiliza combustíveis sujos será gradualmente substituída pelo inegável apelo de uma fonte de energia barata e universal.

A REVOLUÇÃO ALIMENTÍCIA

Enquanto nos desvencilhamos dos combustíveis fósseis, a maior candidata — e grande consumidora de energia — para uma transição é a área da agricultura. Somente nos EUA, o sistema alimentício gasta cerca de 19% dos seus combustíveis fósseis com pesticidas, fertilizantes, maquinário, processamento, empacotamento e transporte. Mas à medida que a agricultura industrial continua a degradar o solo, a produtividade da terra de regiões essenciais à indústria continua a decair.

Com o preço dos alimentos atingindo um pico graças a esses desafios (e sem contar as intempéries climáticas, os preços flutuantes do petróleo e a especulação dos investidores), o incentivo para desenvolver uma rede de produção alimentícia local mais ativa cresce a cada dia.

No Reino Unido e nos EUA, a demanda por alimentos produzidos localmente está crescendo rapidamente. O Departamento de Agricultura dos EUA afirma que entre 1992 e 2007, a demanda por alimentos produzidos localmente cresceu duas vezes mais rápido do que o consumo total de produtos alimentícios, e o número de mercados com alimentos de procedência local quadruplicou entre 1994 e 2013.

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As iniciativas de transição florescem ao redor do mundo, à medida que comunidades pioneiras se esforçam para produzir seus próprios alimentos organicamente e de forma alheia ao sistema de agricultura industrial. Estudos preliminares mostram que a realocação da economia alimentícia é uma opção viável e que poderia beneficiar as economias locais e criar uma enorme variedade de empregos — apesar dessa previsão envolver um menor consumo de carne e um maior número de pessoas cultivando a terra.

Recentemente, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação tem estudado o potencial da agroecologia em escala — um método de produção especializado que combina agricultura orgânica e uma estrutura social, econômica e politicamente engajada. Várias publicações das Nações Unidas sobre o direito à alimentação defendem a agroecologia como uma solução viável para aumentar a produção dos pequenos fazendeiros que produzem 70% dos alimentos do mundo.

Em uma tese de mestrado sobre Meio-Ambiente e Planejamento escrita por Zainil Zainuddin, um pesquisador de alimentação e agricultura na Universidade RMIT em Melbourne, na Austrália, conduziu um estudo de caso em 15 casas de famílias que praticam a agricultura urbana, em uma plantação coletiva de 1,096 metros quadrados na cidade de Melbourne. Onze das famílias participantes usavam princípios de permacultura em suas produções, incluindo hortas elevadas, a utilização de composto e húmus (e o uso de fezes animais para aqueles que criam galinhas), rotação de culturas para o controle de pragas e a coleta de água da chuva. Em apenas um ano, o projeto produziu um total de 388.73 quilos de frutas, vegetais, nozes, mel e carne, assim como um total de 1.015 ovos. O estudo revelou que "Todos os participantes registraram um excedente entre 5% e 75%, dependendo da safra e da temporada", que era dividido entre suas famílias estendidas e o resto da comunidade através do escambo e de uma rede de compartilhamento.

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Nos próximos anos, cada vez mais alimentos serão produzidos e consumidos localmente, tanto no ambiente urbano quanto no rural, à medida que o sistema de alimentação se torna mais insustentável e dispendioso. Iniciativas como o Park 2020, na Holanda, mostram que com um design correto, a agricultura urbana de larga escala pode sustentar uma comunidade, e que negócios locais baseados em "ciclos fechados de materiais, energia, resíduos e água", representam um futuro no qual as cidades modernas se tornarão comunidades ecológicas.

A REVOLUÇÃO FINANCEIRA

As revoluções de informação, de alimentos e de energia são frutos de uma florescente revolução financeira. Mais uma vez, a nova tendência são os modelos que dão mais poder ao povo, e que enfraquecem a autoridade e legitimidade — e até a necessidade — da infraestrutura financeira tradicional e centralizada.

Isso só é possível graças à revolução da informação. De acordo com uma pesquisa de mercado da empresa Forrester, a avalanche de novos mecanismos de interação que possibilitam que credores, mutuários, financiadores e consignatários se comuniquem sem a mediação de bancos e instituições financeiras apresenta uma grande ameaça à atividade bancária. Dentre esses mecanismos, o empréstimo entre particulares foi o que aumentou mais rapidamente.

O relatório da Forrester mostra que desde 2005, esses empréstimos já geraram mais de US$6 bilhões par o país. Apesar dos empréstimos entre particulares serem uma pequena parcela do balanço patrimonial de um banco, os pesquisadores da Forrester preveem que a tendência é que essas novas formas de empréstimo — incluindo o investimento digital e o crowdfunding— continuem a "crescer, pegando parte do lucros do mercado, conseguindo mais depósitos e enfraquecendo os bancos."

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OS BANCOS ESTÃO À BEIRA DE UM ABISMO

Como a revista Australian Business Review publicou recentemente, "os bancos estão à beira de um abismo" de onde "a mídia, os correios e o mercado da música" já estão quase caindo. Esses novos mecanismos de empréstimos e financiamentos irão "quebrar todos os bancos — uma revolução por vez."

Isso também abriu caminhos para novas moedas digitais e novos sistemas de pagamento remotos, que muitos suspeitam que irão arrecadar bilhões de dólares por ano, especialmente em mercados menos desenvolvidos, onde as infraestruturas tradicionais não são muito fortes. Apesar do Bitcoin ser a moeda digital mas famosa, outras opções que prometem mais estabilidade, transparência e responsabilidade, como a MaxCoin e a StartCoin, estão surgindo no mercado.

De acordo com Walter Isaacson, diretor-executivo do Instituto Aspen e ex-presidente da CNN, "as moedas digitais e os micropagamentos serão as inovações mais importantes de 2015."

Um dos avanços mais significativo para o setor financeiro é o conceito e prática da "economia circular". Seu foco é a necessidade de reciclar todos os recursos disponíveis em um sistema econômico, ao invés de gerar quantidades infinitas de resíduos em nome do crescimento. Um importante relatório do Club of Rome, lançado por Ugo Bardi, membro do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Florença, revelou que a reciclagem, a conservação e a maior eficiência no manuseio dos recursos minerais poderiam nos levar a uma sociedade próspera e altamente tecnológica; uma sociedade que não é baseada no consumismo em massa.

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Várias empresas estão investindo na ideia de uma economia circular — a maioria por razões puramente econômicas. Os custos dos recursos naturais subiram vertiginosamente desde 2009, muito mais rápido do que o crescimento global. Um relatório publicado no começo do ano passado pelo consultor financeiro McKinsey afirmava que os negócios estão sendo forçados a encontrar "novas formas de reutilizar produtos e componentes" e de reduzir o acesso aos "valiosos recursos naturais". O relativo sucesso desses esforços levou empresas como a Renault a considerarem a possibilidade de um "sistema industrial auto-regenerativo", que "reponha, automaticamente, todos os materiais, energia e mão-de-obra."

Na era da energia supervalorizada, McKinsey afirma que as vantagens de uma mudança para uma economia circular são enormes. A economia em materiais chegaria a US$1 trilhão por ano em 2025. Apesar dos setores corporativo e empresarial verem a economia circular como algo necessário para manter o crescimento durante uma nova era de escassez de recursos, Bardi acrescenta que o crescimento material ininterrupto é uma impossibilidade. O fato da ascensão da economia circular estar sendo mediada pelas maiores empresas do mundo representa uma tímida, mas crescente caminhada em direção a um sistema econômico pós-crescimento desenfreado.

A REVOLUÇÃO ÉTICA

Talvez a mudança mais profunda e implícita em todas as diferentes, mas profundamente interligadas revoluções, é a revolução ética.

O velho paradigma, que está sofrendo inúmeros ataques das revoluções emergentes descritas acima, foi construído sobre um modelo de controle centralizado e hierárquico focado na acumulação material — e com base nos valores do individualismo, do egoísmo, da competição e do conflito.

O modelo que está se expandindo e destruindo esse paradigma é calcado no livre acesso à informação, na informação distribuída gratuitamente, na energia renovável, nos direitos democráticos ao uso de recursos naturais e em uma forma de prosperidade e bem-estar que são, no final, desassociadas da ânsia pelo acúmulo material.

Os velhos e o novos paradigmas podem ser facilmente relacionados a dois sistemas de valores distintos. O primeiro paradigma, que está atualmente em decadência, é um baseado no egoísmo, no materialismo e no consumismo inconsequente. É um sistema de valores que, como nos avisam nossos cientistas mais brilhantes, pode resultar em um planeta inabitável, e até mesmo na extinção de nossa espécie (muitos cientistas afirmam que estamos presenciando o início da sexta extinção em massa do planeta). Tudo isso sugere que esse sistema de valores está desassociado da natureza humana, de nosso ambiente biofísico e da sutil relação entre os dois.

Em contraste, um sistema de valores associado ao novo paradigma está alinhado ao que a maioria de nós reconhece como "bom": o amor, a justiça, a compaixão e a generosidade. Isso nos traz à implicação revolucionária de que a ética, muitas vezes vista como algo "subjetivo", é na realidade uma função perfeitamente objetiva e útil na sobrevivência de nossa espécie. De certa forma, a ética nos oferece um modelo de valores necessário para reconhecer os defeitos do velho paradigma e, ao mesmo tempo, um olhar para as futuras oportunidades de reformas sociais.

Essa revolução ética está, em sua essência, enraizado em uma mudança fundamental na nossa compreensão da vida e do mundo. Saímos do velho paradigma Newtoniano/Cartesiano para um novo paradigma representado pela relatividade, pela física quântica, pelo biologia evolutiva e pela epigenética. Essa mudança também revelou as semelhanças entre o misticismo oriental e a ciência ocidental que ocupava as mentes dos fundadores da mecânica quântica: a semelhança está em conceitos importantes como a "não localidade", nas conexões quânticas, na relação inerente entre o observador e o observado e na complexa irredutibilidade das interações mente-corpo. Tudo isso indica o surgimento de uma cosmovisão científica, no qual os humanos estão intimamente interligados com o meio-ambiente, e no qual os valores éticos possam nos ajudar a manter essa relação em nossas escolhas diárias, independente de qualquer dogma religioso.

A medida que essas cinco revoluções se aceleram e perturbam o velho paradigma — resultando na crescente erupção de movimentos sociais que desafiam e derrubam Estados e sistemas — a chegada de uma nova era também se aproxima. Pode-se observar os presságios dessa nova era nas crescentes ameaças ao velho paradigma — um processo que envolve o caos, a incerteza e a violência. No entanto, é justamente das cinzas desse grande cataclisma que surgirá a oportunidade dessas revoluções se tornaram algo ainda maior.

Tradução: Ananda Pieratti