​A Mulher que Não Produz Lixo
​Crédito: Lauren Singer

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​A Mulher que Não Produz Lixo

Em pouco tempo, sua campanha no Kickstarter para sabão em pó natural faturou mais de 30 mil dólares. Qual é a dela?

Lauren Singer não se apresenta como uma evangelista ambiental. Ela é modesta quando fala e não levanta a sobrancelha quando você admite comer carne ou tomar água de garrafinha plástica. Ela até usa uma jaqueta de couro preta (de segunda mão). Mas ela não brinca quando o assunto é lixo.

"Meu ex-namorado usou bicarbonato de sódio como pasta de dente e eu costumava dizer 'você é nojento'. Então, ironicamente, a primeira coisa que eu fiz foi pasta de dente de bicarbonato de sódio e óleo de coco", ela disse, rindo. Ela também limpa seu banheiro com vinagre branco, carrega sua comida em marmitas de vidro e até faz sua própria maquiagem.

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Ela faz tudo isso com a intenção de reduzir seu desperdício a quase zero. Desde março de 2013 ela tem tocado um blog sobre essa missão chamado "Trash is for Tossers" ("Lixo é para idiotas", em tradução livre) através do qual ela apresenta alternativas para produtos que normalmente são desperdiçados, desde utensílios de plástico até água de banho vendida em garrafa.

Seus produtos caseiros a levaram a lançar uma campanha no Kickstarter para o sabão em pó que contém apenas três ingredientes: bicarbonato de sódio, carbonato de sódio e sabão de Castela. Ela pensou que uma quantia inicial de 10 mil dólares seria razoável, mas seu produto aparentemente arrebentou; faltando 55 horas para acabar, ela conseguiu três vezes mais do que isso.

Dois meses de lixo. Crédito: Lauren Singer

A jornada de Singer para o desperdício zero começou no outono de 2012, como uma veterana na Universidade de Nova York em estudos ambientais. Em sua aula de capeamento com os maiores estudos ambientais, uma menina pegava seu almoço todos os dias e jogava fora o recipiente de plástico descartável, uma garrafa de água, talheres, e uma sacola.

Singer estava frustrada e pensou que a garota era uma hipócrita, mas nunca disse nada. Ao invés disso, ela focou sua frustração em seu próprio consumo de plástico, que ela notou envolver quase toda a comida em sua geladeira.

"Eu estava com muita raiva de mim mesma", ela disse. "Eu decidi que aquele dia eu tinha que largar o plástico. Houve muita introspecção – eu decidi que precisava parar de julgar as pessoas [ecológicas] tanto". Aos poucos, ela incorporou hábitos que reduziriam seu desperdício a quase nada.

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Plástico é o problema de estimação de Singer. Ela tentou erradicar toda forma de plástico da sua vida, ela compra comida em grandes quantidades e praticamente parou de comprar roupas, porque ela não sabe o que fazer com as etiquetas de plástico ou aquelas farpas de plástico que prendem as etiquetas na roupa. Ela carrega seu almoço em marmitas para comer com talheres de metal e prato.

Crédito: Lauren Singer

Às vezes, suas preocupações com o plástico parecem ter mais relação com sua própria saúde do que com o meio ambiente. "Eu definitivamente não quero produzir lixo, mas eu definitivamente não quero colocar cancerígenos para dentro do meu corpo", ela diz, indicando que aquecer plástico pode liberar químicos como o BPA na comida.

O mantra anti-plástico de Singer cria alguns hábitos que podem parecer incongruentes para outros ambientalistas. Ela usa jaqueta preta de couro verdadeiro porque couro falso é plástico. Ela é vegetariana mas se esforça para não ser rotulada de extremista, como aconteceu com Colin Beavan, o "No Impact Man". Singer não levanta números exatos para saber se ela tem realmente conservado recursos usando menos plástico, até porque ela pode usar mais água do que uma pessoa normal para lavar todos os seus itens reutilizáveis. Mas ela tem certeza de que o processo de manufatura do plástico usa muito mais recursos do que o que quer que ela esteja consumindo.

Parte desse cuidado contra o extremismo é por causa das críticas que a armada da sua família amada costumava fazer por suas práticas ecologicamente conscientes como comer orgânicos. "Minha avó me chamava de abraçadora de árvores, e isso é legal porque eu sou", ela admitiu. "Eu acho que por muito tempo a minha família pensou que isso era só uma fase. Mas agora eles estão realmente curtindo e apoiando."

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EU COSTUMAVA BRIGAR COM AS PESSOAS E PERCEBI QUE VOCÊ NÃO CONSEGUE NADA FAZENDO ISSO

Mas outra razão é porque Singer quer que sua marca seja excepcionalmente acessível. "Eu costumava brigar com as pessoas e percebi que você não consegue nada fazendo isso", ela diz. "Eu achei que um blog era um meio muito bom para mim porque é um jeito mais confortável, acessível e seguro para as pessoas que querem explorar um modo de viver diferente de seus próprios."

Críticas podem ser rápidas para apontar que um regime de gastar horas fazendo sua própria maquiagem ou caçando preços de sabão de Castela não é possível para quem tem tempo ou dinheiro limitados. Mas Singer enfatiza que comprar comida e outros produtos em grandes quantidades pode dar mais valor aos compradores, e se eles souberem onde procurar, é possível poupar tempo também. "Muito disso é apenas dar o primeiro passo, que é apenas aprender que é uma opção comprar comida em grande quantidade."

Crédito: Lauren Singer

Para Singer e outros que acreditam em sua missão, conversar sobre lixo tem mais sentido do que parece. "Lixo é uma oportunidade estreita para tentar começar a se endereçar a outros grandes problemas", ela disse.

Em sua busca para oferecer produtos livres de químicos e desperdícios para todo mundo, ela lançou uma empresa chamada The Simply Co. para vender os três ingredientes do sabão em pó. Quando ela lançou a campanha no Kickstarter, ela descobriu que poderia produzir algumas caixas do negócio em sua cozinha. Com quase 600 apoiadores até a publicação desta matéria, ela não tem certeza de quanto ela vai conseguir fazer. Ela não se sente desencorajada, no entanto – "as pessoas nem ligam".

Singer vê essa atual interação com o movimento de meio ambiente como sendo distintivamente "milenar". "É um esforço de questionar tudo. Eu não sei se a gente toma ações em tudo, mas é importante perguntar o que está em tudo que usamos e porquê."